AQUI PUBLICO O PRIMEIRO CAPITULO DO MEU LIVRO...
ELE ESTA PRESTES A SAIR... NA CHIADO EDITORA!
CAPÍTULO UM
Uma jovem
chamada Francisca
Despertando da longa viagem, o corpo que até agora estava calmo e inconscientemente indefeso, pouco a pouco, regressou
ao mundo inconstante dos vivos. Retomou a realidade que a raptou por tempos incertos
e voltou à certeza que a rejeitou, para um presente desconhecido. Voltou à
vida serena que a tinha esperado
em todos os
momentos
indefesos
e despertou nela todo o encanto, revivendo cada
minuto. O
tempo tinha passado despercebido, mas permitira conservar a ingenuidade
da sua juventude
que agora era resgatada, inteiramente.
O corpo mantinha-se anestesiado, Francisca, como ela se chamava, tentou mexer-se. Mas tudo
permanecia intacto, só a mente começava a
despertar. O lado físico continuava
dormente
e tudo em seu redor era calma. Só ouvia repetidamente, envolvido nessa serenidade, o som da
máquina que permanecia
ao seu lado, e fazia
baixinho bip… bip... bip…
Tentou abrir os olhos lenta e receosamente,
mas
eles teimavam em fechar-se, por
força da claridade que calmamente
se fazia notar. Francisca
continuava com dores, sem saber de onde provinham exatamente. Sentia-se, completamente perdida, sem
vontade sequer para pensar. Como se acordasse
de uma embriaguez, igual à que provou em criança quando
quis saborear o gosto proibido.
Depois de abrir os olhos custosamente,
olhou com algum receio à
sua volta. Viu que se encontrava
num lugar alheio, completamente desconhecido
ao seu raciocínio. Tinha as paredes
recentemente pintadas
de branco e a cama ao lado
estava vazia e como nova:
apenas uma colcha
cobria parte do colchão
azul, que parecia igualmente novo.
O seu corpo permanecia imóvel e delicado, pesado e leve em simultâneo. Como se acabasse de acordar
de um desmaio!
Francisca continuava
perdida e desorientada sem saber onde, nem qual o
motivo de ali estar. Sentia-se como se estivesse adormecida
há uma eternidade e tivesse deixado tudo para fazer. Despertava agora de um intenso sono e, sem perder mais
tempo, tentou
pôr
as ideias em ordem… era como se encontrasse a casa numa completa
desarrumação após uma ausência longínqua, sem
saber por onde começar, pois tudo se acumulava na sua cabeça. Mas o principal motivo era o medo
guardado no seu subconsciente.
Ora se multiplicavam os seus diversos pensamentos,
ora
não encontrava nenhum. Ora as suas ideias se vestiam
de felicidade, ora ficavam
vazias e transparentes. Tudo se confundia, dentro
de si e à sua volta,
num total remoinho tempestuoso. Precisava de pensar, mas ao mesmo
tempo não queria, pois não descobria forças para tal.
Passados alguns minutos, sem saber ao certo
quantos, apareceu uma moça vestida de branco,
talvez alertada pelo som de uma das máquinas,
à qual ela estava ligada. Abriu, cuidadosamente,
a porta e entrou. Parecia apressada…
ou
seria apenas imaginação dela? Tentou reabrir os olhos e fixá-los nela, pouco a pouco, para que se habituassem
à pouca intensidade da luz crepuscular.
- Olá… como se sente? Está bem? Precisa
de alguma coisa? Perguntou
a moça de branco, bem perto
dela, lançando-lhe um lindo sorriso carinhoso e cheio de simpatia, onde Francisca pode apreciar os dentes brancos
que sobressaíam por entre
os lábios vermelhos e carnudos.
Francisca esforçou-se
e pensou em articular algumas
palavras para conseguir responder-lhe: como é que acha que me sinto, ótima? O meu estado parece-lhe bem? Mas
limitou-se
a pensar, pois o som não queria sair… A moça de branco aproximou-se
das
máquinas que
estavam em seu redor para as observar melhor e
desligar a que já não era necessária.
Então, olhou admirada para
a enfermeira,
com uma expressão interrogativa
e estupefacta, enquanto desviava o olhar para o relógio de parede.
Depois, o seu olhar fitou um lindo ramo de flores variadas e coloridas que se destacava
em cima da pequena cómoda.
A moça olhou, outra
vez, para ela e sorriu de novo ao dizer:
- São lindas, não acha? Francisca acenou com a cabeça, cheia de dúvidas.
Sentia-se perdida, a naufragar no vazio incompleto,
sem força nem disposição para nada, nem para perguntar o que tanto a afligia.
- Onde
estou eu? Que faço aqui? Quem é a
senhora? - Conseguiu ela pronunciar com algum esforço.
- Sossegue
sim… acabou de acordar, não
tenha
medo… acredite que está em boas mãos, vamos devagar, sim? Vamos começar do princípio… disse-lhe ela carinhosamente,
fazendo com que Francisca se sentisse mais tranquila.
Por
fim pegou-
lhe
na mão fria e respondeu-lhe:
- Chamo-me Elsa e sou enfermeira, como deve ter percebido e…
Calou-se
instantaneamente, quando ouviu o som dos passos que se aproximavam da porta do quarto que estava entreaberta.
O sorriso
que
a moça de branco lhe transmitia ficou ligeiramente mais sombrio. Então acariciou- lhe, de novo, a mão, agora mais quente, e enviou-
lhe um olhar, carinhoso,
com um sorriso meio murcho.
De repente, entrou um homem alegre e bonito, vestido com uma bata branca. Acendeu
a luz
provocando-lhe um impacto à visão. Mas também permitindo que ela o admirasse mais ao pormenor e verificasse o quanto era atraente. O homem lançou-lhe um
sorriso charmoso
e disse num tom queixoso mas sedutor:
- Viva!… Ainda bem que está acordada,
tenho
cá vindo e está sempre
a dormir! Isso não se faz!
Reconhecia
aquela voz, sim, parecia vinda do
fundo de um sonho distante e vago. Era aquela mesma
voz
que ouvia tantas vezes
ao longe, e ao mesmo tempo tão perto. Era a voz mais meiga e
carinhosa que ouvira
até então. Brincava com ela,
fazia-lhe perguntas, até lhe contava anedotas. Ela tentava responder,
mas em vão, pois qualquer resposta ou pensamento adormecia antes de chegar
à meta. Francisca esforçava-se, mas de nada valia, os seus lábios não lhe obedeciam. Então ouvia como se fosse um eco, vindo sem saber de onde, talvez
do fundo do nada que preenchia a solidão ou o vazio em
que ela mergulhara.