terça-feira, 24 de março de 2015

SEGUNDA PARTE DO MEU LIVRO

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Agora sabia que realmente existia e ofereceu- lhe um lindo sorriso repleto de gratidão e ternura, a única coisa que realmente conseguia fazer e que era somente sua e podia partilhar com quem quisesse, principalmente com essa pessoa, esse alguém que a renovou.
- Que faço aqui e onde estou? O que se passou e desde quando estou aqui? Perguntou ela, mais uma vez! O desassossego começava  a  fazer-se notar dentro de si.
- Calma. Respondeu ele com a sua voz calma… e continuou a brincar com ela, direcionando-lhe um olhar lindo e carinhoso.
Francisca olhou para a máquina, depois para a enfermeira e outra vez para o homem de branco, esperando por uma resposta.
Ele expressou um ar mais sério e olhou à sua volta, numa troca de olhares repentinos, entre ele e a enfermeira. Francisca pressentiu que algo rompia a escuridão desse olhar. Então, ele perguntou a Elsa se lhe tinha molhado os lábios, ao que ela fez um sinal negativo, com a cabeça.
- Quer beber um pouco de água? Perguntou- lhe ele com amabilidade. Francisca acenou-lhe que sim, pois sentia a garganta ressequida… talvez depois ficasse mais descontraída e com coragem de lhe perguntar o desejado.
Francisca observou-o enquanto colocava num copo de água algumas gotas de um líquido amarelo, do frasco que a enfermeira lhe estendeu. Pegando-lhe na cabeça, levantou-a um pouco e, com delicadeza, levou-lhe o copo à boca.


Ela mirou o conteúdo, receosa pois parecia conter água incomum, meio acastanhada, mas ele acalmou-a dizendo
- Não se preocupe pois são apenas vitaminas para melhorar… não se esforce por falar mais, por agora chega. Descanse hoje que amanhã falamos e fará as perguntas que quiser, está bem?
Logo que acabou de dizer estas palavras, virou-se na direção da porta e alguns segundos depois, saiu.
Após a ingestão da bebida amarelada, Francisca abanou a cabeça e fez uma careta, pois tinha um sabor esquisito, misturando o doce e o amargo. Depois recostou-se e soube-lhe tão bem sentir um quido a escorregar suave e novamente pela garganta. O seu olhar percorreu de novo o espaço,  onde  se  encontrava  e  deteve-se  num objeto bem familiar, que lhe tinha passado despercebido, uns segundos antes.
Sentado aos pés da cama, lá estava ele, o bem conhecido ursinho de peluche. A sua curiosidade despertou, precisava urgentemente de saber o porquê disso tudo.
Passados alguns segundos, a fraqueza regressou ao seu corpo. Depois de fechar os olhos, ouviu os passos da enfermeira a sair e cedeu à tentação de dormir, outra vez. De entrar novamente num espaço alugado à fantasia e deixou-se levar nessa viagem.


Foi uma noite bastante perturbada, que parecia não querer terminar nunca. Dormia aos poucos e acordava sobressaltada, somente porque nascia, lentamente, a sombra da última imagem escondida no cantinho da memória. Igual ao quadro que se vinha revelando, cada vez maior e mais nítido.



A gargalhada da criança lançada ao ar, era agora prisioneira na sua mente, depois o som do tiro, ecoando nos seus ouvidos e na sua cabeça, faziam-na mergulhar no vazio assustador. Estes acontecimentos teimavam em ficar e eram um autêntico pesadelo.
Os gritos, os sussurros, os risos, o sangue, as sombras que começavam pequeninas e depressa se transformavam em grandes. Ora se faziam escuras ora claras, e por fim as gargalhadas que ainda ecoavam na sua cabeça. Tudo se misturava e causava um enorme turbilhão dentro de si.
Francisca tentou mexer-se, mas em o. As dores impediam-na e o seu corpo não obedecia a nenhum movimento. Aquela era uma lembrança demasiado confusa e que atormentava o seu descanso. Ela sabia que continuava ali, mas tudo parecia irreal, sonho e pesadelo.
Pouco tempo depois, a aurora entrou pela janela dentro rompendo a noite. Francisca sabia que era Outono, porque reparou nas folhas que cam devagarinho das árvores quase despidas, do jardim em frente à janela do quarto. Apreciava com gosto, o vento que suavemente as fazia dançar e imaginava ser ela a dançar com o vento, entre as folhas, e ao som de uma música calma.
Francisca continuava com o corpo dormente, mas a memória começava a despertar e a sensação de pavor não a largava. Tinha medo, muito medo do passo que viria a seguir. Sentia-se receosa do que poderia estar escondido além da escuridão que preenchia o vazio da sua mente.
Francisca esforçou-se mais uma vez para reavivar a memória e tentar descobrir o que a aguardaria   brevemente. Precisava muito saber o que a amedrontava, precisava de saber a verdade.
Colocava perguntas a si própria, às quais respondia em pensamento. Ao mesmo tempo, olhava em seu redor, na esperança de descobrir mais alguma pista o peluche, kiko, se estava ali, tinha de haver uma rao e ela queria descobri-la.

Quem  era?  Isso  sabia...  Onde  estava? Também, pois perante o que ouviu e do que vagamente se lembra, podia ter acabado numa tragédia. Que fazia ela naquele lugar e há quanto tempo? Não imaginava... Mas estava prestes a descobrir, e por essa razão, o seu nervosismo aumentava. 
O seu olhar prendeu-se no ursinho azul… o que faria ele naquele lugar? O seu pensamento perguntava, mas ela continuava sem saber a resposta, da sua primeira pista.
Francisca sentiu um arrepio ao reavivar a última imagem guardada no seu cérebro, aquela que se recusava a acordar. A maneira simpática e amorosa de como o menino, conhecido, a abordou dizendo-lhe:
- os ao ar! pido ou disparo!
Depois, ouviu a gargalhada cheia de felicidade, lançada ao ar por aquela criança de nome Luizinho. Ela sorriu, ao mesmo tempo que deu um pequeno passo para se voltar para o menino, quando ouviu e sentiu um disparo que tudo parou. A luz da sua memória apagou-se naquele instante.
Sentiu uma dor tão profunda ao ressuscitar os momentos que a lançaram para o vazio, que estremeceu de medo e de dor, só de pensar.
Francisca   esticou-se   na   tentativa   de   conseguir alcançar o peluche azul, que estava                    sentado, aos pés da sua cama. Quando satisfez a vontade de o agarrar olhou-o bem, nos olhos, e com o seu olhar perguntou-lhe:
- O que significa a tua presença aqui?...
 Sim, ela lembrava-se perfeitamente bem quando e a quem tinha oferecido aquela lembrança… só não percebia o que fazia ali e agora. Abraçou-o tão fortemente, como se fosse a própria pessoa que ali estivesse e, ao mesmo tempo, quisesse aliviar o pavor que habitava nela.
Já era manhã, talvez perto das nove… calculava ela, visto estar na hora do pequeno-almoço. Nessa altura, foi ajudada a escolher uma posição diferente, talvez mais cómoda, para assim comer qualquer coisa, aconchegando um pouco mais o estômago. Foi obrigada a comer umas bolachas e beber um pouco de leite.