terça-feira, 24 de outubro de 2017

2 POEMES DE MOI

Ola meus amigos aqui deixo mais dois poemas da minha autoria, em Francês e Português, espero que gostem.
                                              Âme de poète

L'âme d'un poète
A Ia caresse d'un rayon de soleil
Qui réchauffe nos pensées
Dans la douceur des vagues du temps
Et nous emballe pour un moment

EIle a la lumière des étoiles
Et donne sa parole au cœur
Elle s’endort dans la douceur du moment
Et nous réveille comme un volcan
Toujours prêt à l'explosion

L'âme d'un poète
A l'odeur des rêves et ses fantasmes
Elle navigue sans destination
Avec nos désirs d’enfants

Elle nous remplit de joie
Vole en pleine imagination
Avec des ailes de papillon
Elle a le monde en son sein
Et fait son nid dans son cœur
Toujours remplit de bonheur 

L'âme d'un poète
Est l'essence du monde
Qui est très profonde
C’est un mélange très complexe
Cette âme d’un être poète



L’espoir…


Comme des rivières d’espoir
Qui nous câlinent tendrement
Ainsi ressemblent nos âmes
Qui jouent comme les enfants
Puis brûlent d’émotion
Dans le cœur du temps

Dans le rêve si heureux
D’un enfant qui grandit
Lorsqu'on lui renvoie
Les aventures de sa vie
Mais il n'oubliera jamais
L’évolution de ses cris

Rivières pleines d'espoir
Qui souvent donnent envie
Comme un enfant qui joue
En explorant sa vie…

Des années sont passées
Et l'adolescent a grandi
Tous ses rêves ont changés
Et ses espoirs aussi 







Alma de poeta

A alma de um poeta
Tem carícias de um raio de sol
Que nos aquece o pensamento
Nas suaves ondas do tempo
E nos embala por um momento

Tem o brilho das estrelas
Dá a voz ao coração
Adormece na suavidade
Acorda como um vulcão
Sempre pronto para a explosão

A alma de um poeta
Tem o cheiro dos sonhos e fantasias
Navega sem nenhum destino
Na proa de um navio
Com desejos de menino

Preenche-nos de alegrias
Voa em plena imaginação
Tem asas de passarinho
O mundo dentro do ninho
E sonhos na palma da mão

A alma de um poeta
É a essência do mundo
Alimenta e projeta
O que há de mais profundo
É uma mistura muito completa
Esta alma de um ser poeta

FREDY





Aos Amigo

Aos amigos que amei
Mas que nunca desejei
Aos que despi de paixão
Mas vesti de doçura
Com pedaços de ilusão
Nos recantos de ternura

Quando, uns iam,
Os outros vinham,
Mas ninguém me perguntava
Porque partia
Nem porque ficava

Se era pouco o que tinha,
E também o que dava
Afinal eu só queria
Partilhar com quem amava

Desde a sede do encantamento
A alegria do momento
Sempre que os sonhos partiam
A alegria ficava.
Pois assim eu desejava


Freddy





segunda-feira, 2 de outubro de 2017

O PERFEITO DO IMPERFEITO

Meus amigos, aqui deixo mais uma parte do meu livro, ESPERO QUE     GOSTEM... 

        O fim-de-semana passou-se e o primeiro dia da semana seguinte chegou. Frederica, sem ter tido mais nenhum sinal do novo vizinho, estava curiosa por saber mais alguma coisa acerca de Jorge, então dizia-se constantemente:
         - Será que ele desistiu de vir morar para esta rua? Ou será que fui eu quem lhe meteu medo? - Ela ria-se bastante quando pensava nisso, mas logo de seguida mudava de ideia e pensava:
          - Não… o mais certo era ele ser casado. Talvez se tivesse chateado com a mulher e pensado em morar sozinho… Talvez até já tenham feito as pazes… ou será que lhe teria acontecido alguma coisa de mais grave…? Como uma doença repentina, talvez…? - A sua curiosidade aumentava cada vez mais, com um misto de preocupação sincera por alguém, algo que sentira assim apenas duas vezes em toda a sua vida.
         No final da tarde de terça-feira, depois das horas de maior calor, Frederica resolveu ir a casa dele, saber se encontrava algum sinal de que aquela pessoa ainda ali existisse. Riu-se para si mesma, quando pensou nessa possibilidade, mas logo a seguir, o seu pensamento falou-lhe:
    - É claro que existe, que pensamento mais parvo! Aquela visão tão bonita não surgiria assim… do nada! Ele era bem verdadeiro, porque me assustou. E para além disso, de nos termos falado, também lhe toquei e senti que era bem real! Não foi só um sonho, apesar de parecer... - Pensou ela, rindo enquanto suspirava.
         Em primeiro lugar saiu o portão da sua casa, ou melhor, da casa de sua irmã. Depois, verificou que a rua se mantinha quase deserta e foi avançando calmamente, apoiada à grade. Em seguida, olhou para os lados, e, como não viu ninguém por perto, dirigiu-se cuidadosamente, para evitar cambalear, em direção à casa do outro lado da rua.
          Frederica aproximava-se, bem menos confiante, pois cada vez que se via desamparada, no meio do nada, o grande desequilíbrio apoderava-se dela. Com atenção e a curiosidade a comandar, ela seguiu em frente… era como se sentisse o seu corpo no vazio, ou sem apoio. Sentia a falta de controlo no seu corpo, ela sabia que esse problema estava cada vez mais presente. Parecia uma árvore sacudida pelas carícias do vento, ou demasiada fragilizada pelas suas pancadas. Era assim que ela se sentia, aquele castigo apoderava-se dela muito lentamente, tomando conta de si mesma, o que mais parecia uma longa e lenta, tortura.
       Quando alcançou o passeio do lado oposto da rua, sentiu-se com mais segurança. Já tinha a oportunidade de se apoiar, ou apenas de tocar em alguma coisa, como um muro, uma grade ou, até, um poste. Tudo ficava mais fácil, ela ficava muito mais confiante, porque sentia o equilíbrio que lhe queria fugir quando se sentia desamparada. Era uma sensação demasiado esquisita e complicada, mas também verdadeira, algo que nem ela própria conseguia explicar.
        Alguns metros mais à frente, ela já podia ver a entrada da casa, que era azul clara e não muito grande. A casa tinha algo que lhe chamava a atenção: era separada por duas portas paralelas, feitas de vidro escuro. Aproximou-se um pouco mais e outra coisa lhe despertou novamente a atenção: uma linda roseira branca, que se encontrava no meio do jardim, junto a um pequeno lago. Tinha rosas grandes, e sobre elas estava uma linda borboleta, em tons de azul-marinho e que passeava sobre as suas frágeis pétalas. A terra estava molhada, o que dava a entender que alguém lá estivera a regá-la.
       - Olá! A menina precisa de ajuda? - Ouviu ela perguntar. Reconheceu aquela voz que pairava sobre o seu pescoço nu, e igual a uma suave carícia...
      - Oh não! - Pensou ela nervosa e assustada, mas fechando os olhos e dando meia-volta, respirou fundo e perguntou-lhe:
      - Olá, senhor Jorge! Por aqui? Ela ficou completamente
desamada e perplexa, sem saber o que fazer.
       Olharam um para o outro, surpreendidos, e depois ele sorriu-lhe.
        Ela reparou mais uma vez o quanto ele era atraente com aquela roupa. Trazia o, mesmo, fato que tinha vestido na primeira vez que reparou nele. Também usava uns óculos escuros, que lhe davam um ar mais sensual, mas que tirou logo a seguir, talvez para a ver melhor.
          Jorge sorriu-lhe descaradamente e com o seu lindo olhar verde-claro, que o deixava ainda mais atraente e apetitoso.
       - Isso pergunto eu! - Afirmou ele, com um ar curioso e sorriso brincalhão...
        Frederica ficou sem reação, a verdade era essa, apesar de tudo, ela é que estava em território alheio. É um facto que poderia estar apenas de passagem, sem invadir a propriedade de ninguém. Mas com o seu belo sorriso e bonito olhar, ele continuou…
      - Desculpa, eu sei que a rua é pública, mas ao ver-te aqui assim, pareceu-me que procurava alguma coisa, ou estou enganado…? Perguntou-lhe ele.
        Numa primeira reação, ela pensou em mentir, talvez com a intenção de se desculpar. Depois pensou melhor nos fracassos que a vida lhe trazia, e decidiu contar-lhe a verdade.
        - Não, não estás enganado, procurava alguém sim, mas já encontrei! - Respondeu ela imediatamente, antes de deixar fugir a coragem. Frederica olhou-o com sinceridade e coragem e sorriu-lhe abertamente.
         - Ah, então sempre é verdade? Não me digas, será que andavas há minha procura? - Perguntou-lhe Jorge sorrindo e com ar de gozo. Depois, observou-a com um rosto muito mais sério e curioso.
          Frederica respondeu-lhe com um único gesto afirmativo de cabeça, olhou-o timidamente, e lançou-lhe um sorriso sincero.
      - E porquê? Posso saber? Não me digas que fiz alguma coisa de errado sem saber…? - Perguntou-lhe ele sorrindo, com um olhar provocador.
         Frederica não gostou daquela afirmação e quase se arrependeu da asneira que tinha feito – a de querer saber se descobria algum sinal daquela pessoa, a quem decidiu contar a verdade.
        Falou sinceramente com Jorge, contou-lhe a preocupação dela, por não o ter visto mais por ali. Depois, confessou-lhe o porquê da sua ida a casa, e por fim contou-lhe o quanto ficara encantada com a entrada da vivenda, principalmente, com a borboleta.
       - Mas a borboleta, apesar de ser linda, não é minha. - Disse-lhe ele, espontaneamente, e com um sorriso sincero.
       - Imagino que não. Disse ela.
       - Desculpa-me pela brincadeira parva… foi estúpida, mas não foi intencional, acredita! Adorei a tua sinceridade, sabias?
        - Não é vulgar encontrar a franqueza de alguém! Mas ainda bem que alguém se preocupou comigo e com esta borboleta. – e prosseguiu dizendo:
         - Sabes, acho que a pessoa que se interessou por mim é parecida com uma borboleta: bonita, frágil e que irradia encanto! – Disse Jorge, com um olhar sério e um sorriso de encantamento e brincadeira. Depois continuou:
        - Desculpa outra vez a brincadeira, mas o que estou a dizer é a verdade! Vamos entrar? Porquê ficar aqui, no meio do passeio… não é lugar para conversarmos, não achas?
         No início, Frederica não disse nada, pois já tinha visto quem queria. Depois ficou indecisa e por fim, o telemóvel dele tocou. Jorge, depois de o tirar do bolso, olhou-o e suspirando disse:
         - Sim, mamã? Claro que não me esqueci, vamos jantar sim, não me demoro, até já. Ah, vou só tomar um banho, rápido, ok? Beijos.
           Logo que Jorge guardou o telemóvel no bolso, olhou para Frederica, com um ar dececionado e rosto mais sombrio.
         - Pronto… pela terceira vez, peço-te desculpa, mas vai ter que ficar para a próxima. Prometi que ia jantar com esta mulher que adoro! Sabes que foi onde fiquei, nestes últimos dias? Disse-lhe ele, mais contente e sorrindo.
         Frederica sentiu-se mais leve ao ouvir aquelas palavras, embora a vida dele não lhe dissesse respeito. Lançou-lhe um olhar amigável e disse:
         - Não tens que pedir desculpa, mãe é mãe, eu sei o que isso é… fica bem e bom jantar.
         - Sim, ok! Obrigada por tudo, mas já agora… deixa-me acompanhar-te?
        Jorge ofereceu-lhe o braço e ela concordou, acenando a cabeça, num gesto afirmativo. Agarrou-se a ele e sentindo-se melhor e mais segura, foi avançando. Encheu-se de coragem e falou-lhe sobre o seu problema de saúde, o que a fez sentir-se mais aliviada. Confessou-lhe o quanto isso a deixava incomodada e insegura mas principalmente sobre a sua evolução. Jorge disse-lhe que já tinha notado algo diferente, mas nada disso impedia o facto de poderem construir uma amizade sincera. Não era razão para se sentir diminuída, nem desesperada. Pensou também contar-lhe sobre a péssima novidade, acerca da irmã, mas pensou melhor, e contou-lhe apenas da gravidez.
       - Ah, parabéns tia… - Disse-lhe ele com um sorriso sincero e olhar ainda mais claro e brilhante, talvez devido ao calor que se fazia sentir e ao sol que se refletia no seu rosto.
       - Obrigada! - Disse-lhe ela satisfeita, apoiando-se à porta de entrada.
       - Estás entregue! Fica bem e até à próxima. - Respondeu-lhe ele. Colocou os óculos de sol, sorriu-lhe, voltou-se e avançou.
      - Obrigada e igualmente! - Sorriu-lhe também e pensou para si: até à próxima meu príncipe encantado!


sexta-feira, 8 de setembro de 2017

DOIS POEMAS DA MINHA AUTORIA

VEM...


Vem… vou falar-te baixinho
Quero ouvir a tua voz em mim
Onde o silêncio da noite
Nos chama com voz de cetim…

Vem… vou beber os teus gestos
Mastigar a tua voz lentamente
Sentir o teu perfume no ar
Com tudo o que a gente sente

Vem… vou fazer-te sentir
A força do meu sentimento
Passear-te a pele com os dedos
E contar-te os meus segredos

Vem… vou ser o que queres
Fazer todas as tuas loucuras
Vezes e vezes sem fim
Para ter dentro de mim
A certeza que não procuras
Outro amor, outras mulheres…


Fredy 2013
  





VAI...


Vai… sei que ficarás sem norte
E espero que encontres a sorte
Que nos deixou esperar em vão
E quase nos destruiu o coração

Vai… eu não estarei mais aqui
Quando te lembrares de mim
E decidires que sou p’ra ti
Como uma esperança sem fim!

Vai… mas nunca te esqueças
Que eu fui e sou somente tua
E mantenho as mil promessas
Que fizemos à noite sob lua!

Vai… acabaram-se as loucuras
Vê se encontras o que procuras
Na busca dos teus prazeres
Nos corpos de outras iguais
Mas sem nunca te esqueceres
Que um dia te amei demais...

  

Fredy 2013


quinta-feira, 7 de setembro de 2017

O PERFEITO DO IMPERFEITO, PARTE II

COMO PROMETIDO DEIXO AQUI MAIS UMA PARTE DO MEU LIVRO. QUEM QUISER COMPRAR... DIGA.

                              CAPITULO TRÊS
                          PRÍNCIPE ENCANTADO

          Quando entrou e fechou a porta da cozinha, Frederica não viu a irmã, mas reparou que o cunhado enchia dois copos de água na torneira. Um deles bebeu-o ali mesmo, com satisfação e pressa, o outro levou-o para dentro, e seria, certamente, para a sua esposa. Não resistiu a perguntar-lhe o que tanto a afligia, e logo que ele se voltou para ela, Frederica questionou-o:
         - Então, o que disse o médico…? Pelos vistos, nada de agradável… - Perguntou, receosa.
         - Foi complicado… o bebé está ótimo, por enquanto, mas quanto a Júlia, infelizmente, já tem alguns sintomas. Vou dar-lhe um calmante, porque ela está muito nervosa e tenho medo que prejudique o bebé, não demoro.

         Foi como se uma bomba acabasse de explodir em cima da sua cabeça. Afinal, tudo se confirmava. O que ela implorava para que não passasse de um engano, era verídico, a realidade tornava-se ainda mais amarga do que o que ela imaginara.
        José, com o copo na mão, subiu os dois degraus de uma só vez, dos que davam acesso ao quarto, depois entrou e fechou a porta.
       Frederica sentiu imensa vontade de o seguir, mas não o fez. Não queria invadir a privacidade deles, embora sentisse que se tratava de algo que também lhe dizia respeito, pois era um assunto familiar. Um péssimo assunto de família, do qual ninguém era responsável nem culpado. Era o início de um difícil caminho, onde teriam que aprender a lidar com as dificuldades, cada vez mais custosas, como aliás lhes afirmara o médico.
       Frederica, com os olhos cheios de lágrimas que lhes turvavam a visão, deixou-se cair numa cadeira que estava ali, mesmo junto à mesa.
       - Oh não, meu Deus, não por favor! Não pode ser! Não posso acreditar! Porquê nós? Não nos faças passar por isto, também! Faz com que seja apenas um engano! - De lágrimas nos olhos, ela interrogava talvez a Deus, mas não encontrava a resposta às suas súplicas. Desejara desaparecer dali e pôr fim àquela vida tão difícil. Sentia-se incapaz de dar forças à irmã, pois nem para ela as tinha.

        Passou assim vários e longos minutos, que mais lhe pareceram uma eternidade. Depois, achou melhor começar a preparar alguma coisa para o jantar. Estava na hora, apesar de ninguém ter demonstrado apetite. Talvez uma sopa, ou algo ligeiro, ocupar a mente e não pensar mais no que não queria e não podia mudar. No entanto, algo que era, também, deveras complicado de esquecer. Iria preparar uma sopa de legumes, uma coisa fácil e simples, algo que se apresentava bem a qualquer hora e em qualquer circunstância.
      Levantou-se e enxaguou os olhos com um lenço de papel, que guardou no bolso e, depois de tirar alguns legumes do frigorífico, começou a descascá-los. Tinha que lutar, nesses momentos difíceis que estavam a ficar deveras entrelaçados pelo mesmo problema de saúde que ambas viviam. Mesmo que não tivesse a coragem de pôr um ponto final na sua vida, tinha que conquistar forças para ajudar a irmã. Pelo menos agora, mais do que nunca, ela precisava de toda a coragem e apoio do mundo para enfrentar aquela dor deveras cruel.
         Essa certeza entrava na sua memória, custosamente, e ela queria acreditar que seria uma situação provisória, que um dia tudo ria mudar. Este pensamento positivo estava com ela, constantemente, mas o presente estava a ser, um autêntico sacrifício, por perspetivar o seu destino.
       Passada hora e meia, aproximadamente, José entrou, de novo, na cozinha. Apenas falou o necessário e pouco e pouco depois. Comeu uma tijela de sopa, levou outra consigo, e refez o caminho de volta.

       Depois de gerir uma noite dificílima, cheia de reviravoltas na cama porque não conseguia dormir, levantou-se e dirigiu-se à casa de banho. Enxaguou o rosto com água fria e olhou fixamente a imagem que estava refletida no espelho à sua frente. Era uma imagem que infelizmente estava habituada a contemplar, mas da qual não gostava. Um reflexo que nem parecia o dela, pois estava com grandes olheiras. O cansaço e o desespero estavam-lhe bem estampados no rosto e, a tristeza era bem visível.
         Depois de descer as escadas devagar, entrou na cozinha. Ficou mais tranquila quando encontrou a pessoa que procurava. Avistou a irmã que se encontrava sentada à mesa, com um copo de leite à sua frente e uma expressão muito pensativa. Quando Júlia pressentiu a presença de alguém levantou-se devagar e com cuidado, olhou a irmã com um sorriso murcho, encheu o peito de ar e disse-lhe:
         - Bom dia… sei que já sabes da novidade que eu desconfiava há meses, mas que recusava aceitar. - Disse com o rosto muito triste e um sorriso sério.
        - Pois… eu também queria acreditar que seria apenas um engano... mas ela esta cá, dentro de nós. - Frederica retribuiu o sorriso, quando pegou na mão fria da irmã.
       - Graças a Deus, o meu bebé esta bem de saúde… pelo menos isso! – Afirmou, acariciando a barriga.
       - Sim, isso é o mais importante! - Respondeu Frederica que imaginava já os dias futuros, os que seriam deveras amargos de aguentar e, só por isso, sentia já muito medo do amanhã.
       - Felizmente a vida continua e vamos evitar falar nisso, está bem? – Pediu.
      - Claro! De nada serve falarmos muito no assunto, além disso, já sabemos o mais importante.
        Esse dia passou, não muito diferente dos outros. Talvez mais perturbador, pelo que tentavam disfarçar. Tentavam desviar o assunto da doença, mas era impossível evitar o que estava bem visível e presente no corpo de cada uma. Nos últimos dias, Frederica, sentia-se cada vez pior, como o médico tinha afirmado. Para além disso, ela notava algo de anormal na irmã, mas pensava que fosse devido à sua gravidez.
        O dia seguinte chegou, e, como já era sábado, faltavam poucos dias para rever os entes mais queridos e saudosos. Frederica, depois de se levantar, passou o rosto por água fria, como era seu costume, e vestiu uns calções e uma blusa brancos e bem fresquinhos, pois o dia anunciava-se de novo bem quente. Quando percebeu que a sua irmã e o marido ainda estavam a descansar, decidiu sair. Olhou a sua imagem no espelho, reparou que estava com um ar melhorado, prendeu então os cabelos e saiu para o calor da rua.
          Assim, aproveitava o passeio e comprava o pão para o pequeno-almoço, para além de fazer um pouco de exercício físico, com a curta caminhada. A padaria era já ali, a poucos metros de distância. Foi avançando devagar e com jeito, enquanto pensava na maldita doença, que era tão estranha e tão lentamente progressiva que até lhe provocava arrepios.
       Ao sair da padaria não viu ninguém. Tudo estava tranquilo. Sentiu uma brisa fresca a acariciar o princípio de mais um dia calmo e quente. Deixou-se ficar uns segundos encostada ao poste de iluminação e a sentir o ar a refrescar-lhe as pernas, principalmente descobertas, graças aos calções que usava quase sempre. Deixou-se absorver pelos pensamentos românticos e nem reparou na aproximação de uma pessoa que lhe perguntou:
      - Precisa de ajuda…?
        Frederica olhou imediatamente para o lado de onde vinha aquela voz meiga e doce, como a carícia da brisa do tempo. Viu o mesmo rosto que tinha visto dois dias antes, mas agora estava ali, ao pé dela a falar-lhe e a sorrir-lhe. Ficou surpreendida, não lhe respondeu, apenas fixou aqueles olhos, que agora podia apreciar melhor. Seriam castanhos, verdes ou cinzentos, não dava para perceber. Primeiro, sorriu-lhe, mas depois sentiu-se tímida, sem saber o que dizer e como dizer… afinal não passava de um desconhecido.
        Um pouco hesitante e suspirando fundo, ela pegou na primeira resposta que lhe veio à memória e disse:
       - Obrigada, aceito! Respondeu ela com um belo sorriso.
       - Eu não mordo! Pode apoiar-se no meu braço, se quiser. - Comentou ele quando lhe retribui outro sorriso cheio de simpatia, que a fez sentir-se mais descontraída.
        Sem dizer nada, Frederica agarrou-se ao braço que ele lhe estendia e experimentou o contacto com a sua pele quente. Ele usava uma t-shirt sem mangas, o que era normal, pois estávamos no tempo quente.
        Segura ao seu braço nu, pele contra pele, ela avançou, bem mais confiante. Era a pessoa que tinha visto uma única vez e já sentia a intimidade a querer mandar…? Não podia ser… seria da surpresa… ou porque o achava um gato...- Pensava para si, enquanto caminhava lentamente.
         Apesar de ter tantas perguntas para lhe fazer, apenas lhe fez uma, que tinha a ver com o que mais ansiava saber:
          - Desculpe a pergunta, mas estou curiosa… por acaso, é familiar de alguém daqui?
         - Por acaso não sou, mas sim, conheço bem a rua e as pessoas de cá! - Rematou ele, com um ar brincalhão.
          - Ah, fiquei a saber o mesmo… - Disse Frederica com um sorriso aberto. Eu sou familiar do casal que mora aqui, nesta casa, azul! - Exclamou ela, enquanto se aproximavam da vivenda, de tamanho normal, com um pequeno jardim à frente. O espaço era separado por um portão.
       - Sim, eu sei, eu vi-te quando fiz a mudança.
       - Ah pois, afinal agora eu também sei que és o novo vizinho, certo? - Perguntou-lhe ela sorrindo de felicidade.
       - É verdade sim… e já agora apresento-me, o meu nome é Jorge Duarte! - Ao mesmo tempo, fez-lhe uma vénia de cordialidade.
       - Prazer em conhecê-lo, senhor Jorge! Eu sou a Frederica, que lhe fica muito agradecida pela sua prestável ajuda.
      - Ora essa… foi de boa vontade! - Respondeu ele, com um sorriso cheio de simpatia.
       Quando ele fez um gesto para seguir em frente, ela pôde apreciá-lo melhor. Vestia algo bem simples, como uns calções de ganga. Era um traje muito diferente do que lhe tinha visto anteriormente e que realçava o seu físico bem feito. Quando deu dois passos em frente, ele voltou-se, como se sentisse o seu olhar. Mas mais nenhuma palavra foi trocada entre eles, apenas uma troca de olhares de cumplicidade, que a fizeram sentir-se admirada e vaidosa, mas também algo acanhada e até diminuída, sob aquele olhar lindo e esverdeado que lhe chamara a atenção.
       - Oh, que homem, tão belo! - Pensou Frederica, e sorriu-lhe como forma de agradecimento.

        Frederica entrou em casa sorridente, mas quando viu a sua irmã e o marido, que estavam sentados à mesa da cozinha, parou e disse:
      - Olá bom dia! Fui comprar pão, ainda está fresquinho e quentinho! - Disse ela com satisfação.
      - Bom dia! Sim… parece mesmo que está a ser um bom dia para ti, pelo sorriso de felicidade que trazes na cara! - Respondeu-lhe a sua irmã sorrindo e piscando o olho ao marido, em tom de brincadeira.
      - Acabei de conhecer o novo e novo vizinho. - Disse ela, espontaneamente, e sorrindo.
      - Ah pois, explica isso melhor… - Perguntou o cunhado com curiosidade.
      - Simples, além de ser o novo vizinho, é novo em pessoa.
      - Por isso é que ouvi vozes, que pareciam vir daqui de dentro! - Afirmou José, com um sorriso aberto e olhar curioso.
      - Pois… ele ofereceu-me ajuda e eu aceitei. Quando chegámos à frente da porta… ele apresentou-se e foi quando me ouviste falar, pois é bem simpático!
      - Se o dizes…! - Comentou a sua irmã Júlia, com o rosto mais animado que lhe vira nos últimos dias
      - Chama-se Jorge e deve ter vinte e alguns anos… acho que é solteiro, mas deve rondar por aí alguma mulher!
      - Porque é que dizes isso…? Perguntou-lhe a irmã, curiosa.
      - Porque é um borracho… ou um pão, como lhe queiram chamar! E um homem como aquele não deve andar por aí, assim, sem dona! - Frederica riu-se quando acabou de proferir aquelas palavras, mas suspirou fundo e continuou:

        - Bom, vamos é comer este pão, enquanto está quentinho, sim? Deve estar ótimo. - Disse ela sem parar de sorrir.


terça-feira, 1 de agosto de 2017

O PERFEITO DO IMPERFEITO II A outra face


    Faço aqui um apelo, a todos os meus amigos e amigos dos meus amigos. Eu preciso muito de vender livros e assim conseguir o próximo lançamento, pois só com a vossa ajuda conseguirei concretizar.A todos os que estiverem interessados em adquirir um livro com o meu autografo, basta enviar-me a vossa direção, em MI,obrigados.Entretanto fica mais uma parte.


    - Hum… mas que “borracho”, quem será esta vitamina para os olhos? Será o novo vizinho? Não, não pode ser. E se for, de certeza que vem aí mulher… acho que não iam deixar andar por aí sozinho um pão como este! Podiam comê-lo… e depois? - Perguntava-se ela, enquanto sorria para si mesma, e respondia ao continuar com o comentário, em pensamentos.

Ele era alto, cabelo escuro, liso e bem curtinho. O que mais lhe chamou a atenção, para além do olhar lindo e meigo do qual não conseguia determinar a cor devido à distância que os separava, foi a maneira de vestir: um elegante fato e uma gravata azul-escura e camisa azul-clara.
  Depois de o contemplar melhor, por mais alguns breves segundos, dirigiu-lhe um olhar e um sorriso e entrou novamente na casa azul, onde continuou a falar consigo própria.
- Seria para mim aquele lindo sorriso? Não acredito, ele não me conseguia ver dali! Deve pertencer à empresa de mudanças… ou será ele o chefe? E se fosse...? Que maravilha receber assim um belo sorriso do homem de azul, da casa azul. Deve ser alguém que tem algum cargo importante! - Dizia-se ela, suspirando, quando ao mesmo tempo, desviou o olhar e tentou concentrar-se num poema de amor. O seu pensamento continuava a voar… talvez o que acabara de presenciar fosse o impossível…
Depois de fechar o livro, fechou também os olhos e recostou-se por breves minutos, enquanto esperava pela irmã. Quando os voltou a abrir, depois de ter passado pelas brasas, já não ouviu mais nenhum barulho. Olhou para o outro lado da rua, só para satisfazer a curiosidade. Como não viu mais a carrinha, nem nenhuma das pessoas que tinha visto junto à casa, concordou com o que tinha pensado. Talvez fosse alguém de visita, ou mesmo alguém que tinha feito uma pausa no trabalho.
        Então, abriu de novo o livro numa página ao acaso, pois desejava ter a mente ocupada. Quando leu um pequeno texto sobre o engano e a paixão, o seu pensamento disparou na direção de Miguel… e todas as questões se reavivaram na sua memória!
        Será que fazia sentido Miguel sentir-se plenamente confiante, em relação aos sentimentos que despertava? Frederica questionava-se várias vezes, sobre esse facto. Será que era essa a razão de ele se deixar acomodar a esse sentimento? Só podia ser… muito provavelmente estava a aproveitar-se daquela paixão tão pura e agradável.
        Frederica decidiu pô-lo à prova e fez com que sentisse a sua falta. Percebera o interesse que o seu corpo despertava em Miguel e sentia-se bastante humilhada e até usada. Não encontrava a coragem necessária para recusar cada carícia, cada beijo apaixonado e cada palavra romântica.
        Amava a pessoa errada, ela sabia-o, mas não encontrava coragem para resistir ao seu encanto. Frederica gostava de sentir-se desejada e compreendida, mas queria que ele gostasse dala como ela era, não pelo que poderia ser, ou pelo que ele queria que ela fosse.
        As saudades que Frederica sentia de Miguel, eram imensas e entravam com força na memória e no coração. Tinha medo de vir a ser rejeitada por ele, e centrava toda a culpa na sua maldita doença. Vivia atormentada com essa realidade!
       Recorda-se das primeiras vezes que se entregou ao prazer, de corpo e alma. Nas tardes suavemente calmas, em meados de Outono, quando as videiras, quase nuas, refletiam o seu esplendor. Deixava-se levar pelas carícias repletas de doçura e prazer que ele lhe proporcionava e entrava num mundo de sonho. Os seus olhos negros que brilhavam de desejo chamavam-na em silêncio e ela deixava-se levar, para um universo encantador. Nesses primeiros encontros, tudo era maravilhoso e desfrutavam ao máximo dessa pura paixão. No princípio, ambos decidiram guardar segredo de comum acordo, mas depois, com o passar do tempo, sem o sentir com vontade de assumir a relação, sentia-se usada e injustiçada. Tudo era como Miguel queria e quando queria, e isso não era justo.

       Quando Frederica decidiu ir passar uns meses com a sua irmã e o marido, na grande cidade, foi com a esperança de que esse afastamento resultasse em algo positivo. Assim, podia ajudar Júlia nas tarefas caseiras e não só. Ela já se sentia demasiado cansada e tinha a certeza que a distância seria a solução ideal, para eles, pois a saudade era um ótimo remédio, para muitas coisas, principalmente para os sentimentos. Decidiu ficar ali, pelo menos até a criança nascer, e assim juntava o útil ao agradável.
      Miguel não soube cuidar do amor que Frederica lhe oferecia. Precisava de se sentir amada, estava consciente disso e necessitava de algo mais semelhante ao amor que ela lhe oferecia.
       Frederica ia fazer novos conhecimentos e encontrar novas amizades, viver outras aventuras e descobrir outras maneiras de pensar. Ia conhecer outra forma de ver a vida, talvez melhor.
Quando acordou do sonho, dirigiu-se imediatamente para o caminho do abismo, que se vislumbrava cada vez mais complicado. Foi precisamente quando começou a desfrutar da vida que começou o seu pesadelo, o seu tormento que era bem pesado.
        De vez em quando, vinha-lhe à ideia, a hipótese de nunca ter nascido, ou então o de poder morrer de repente. Algo que tornaria tudo muito mais fácil para si própria.
        Mas não tinha coragem suficiente para pôr um ponto final na linha da sua própria vida. Pensava constantemente que se o seu destino era aquele, alguma razão teria de haver para ela se defrontar com uma cruz assim. Sacudiu a cabeça, mandando embora esse pensamento, preferia não pensar em nada, se nada podia fazer.

       Frederica recordava também, com imensas saudades, a sua grande amiga Laura. Pensava nas brincadeiras da sua adolescência, passada lado a lado, quando ainda moravam na aldeia. Lembrou-se de uma vez, quando tinha dez anos, e acabara de completar alguns exercícios dados pela única professora da terra – Teresa. Para além de ser uma professora bastante simpática, bonita e jovem, era também muito amiga, o que não era muito comum naquela época. Sabia manter o respeito, e mostrava ser digna de recebê-lo, apesar de diversas vezes se sentir obrigada a dar algumas reguadas nos alunos mais distraídos ou preguiçosos. Era algo muito comum nesses tempos, pois a régua representava a lei e a ordem e a lei mantinha o respeito.
         Um dia, chegou à escola um novo colega, oriundo de terras Africanas. Um retornado, bonito. Depois de se apresentar, João Manuel, como ele se chamava, escolheu sentar-se na carteira ao lado de Frederica, que se sentiu tímida e nervosa a sua presença. O seu coração saltitou, as pernas tremeram e as cores rosadas a invadiram-lhe o rosto. Foi a primeira vez que se sentiu assim.
        JM, como lhe passaram a chamar, sabia escrever o seu nome e pouco mais. A professora tentava reavivar o pouco adormecido na sua memória, para que pudesse recuperar nos estudos. Ela tinha consciência das dificuldades passadas por aquelas crianças, ausentadas por tempo suficiente para esquecer o então aprendido e para aprender o que queriam esquecer.
         Frederica não queria admitir perante ela própria, o seu interesse por aquela pessoa, a primeira que lhe abrira uma janela desconhecida no seu coração. Quando JM necessitava de alguma ajuda, ela estava sempre disponível e apoiava-o no que mais necessitasse.
        Frederica era uma das crianças mais inteligentes da classe e orgulhava-se desse facto. Muitas vezes sentia a vaidade e o orgulho a apoderarem-se dela e, pouco a pouco, achava-se com a coragem suficiente para atrair a atenção e conquistar o coração do seu querido JM.
        Como recompensa, ela via crescer lentamente o fruto daquela linda paixão, que era secretamente correspondida. A sensação do poder amar e ser amada era ótima, mas a de amar pela primeira vez era ainda maior.
       No recreio, JM gostava muito de jogar futebol com os colegas. Não era o único, mas era apenas ele que chutava a bola propositadamente para junto de Frederica, apenas para sentir o seu olhar contemplar carinhosamente todos os movimentos do seu corpo. Mas aquele amor platónico não durou muito, pois, passados alguns meses, JM teve que se mudar para o Porto, terra de origem de seu pai.


       Nos meses que foram passando, e afastado de Frederica, Miguel sentiu saudades. Afinal, ela era a pessoa que nunca o rejeitava, aquela pessoa que sempre o amara, apoiara e desculpara incondicionalmente. Sentia a falta de alguém que lhe desse a certeza de ser amado e só a encontrava na pessoa de Frederica.
        Miguel entendeu-o, percebeu exatamente o que ela lhe tentara transmitir e arrependeu-se de ter agido friamente com quem não merecia. Percebeu inclusivamente que o amor existe e que por vezes só damos conta dele quando parte. Miguel sentiu que estava a perdê-la e teve saudades da pessoa que nunca o rejeitara e do corpo que estava sempre disposto a acolhê-lo. Queria novamente essa Frederica, aquela que sempre lhe estendia os braços em qualquer circunstância.
         Miguel declarou o seu amor a Frederica pela segunda vez, e disse-lhe o quanto a amava e a desejava de volta. Ela aceitou-o, mas apenas porque desejava que ele sentisse o mesmo que ela a fizera sentir e, principalmente, porque ela já estava resignada àquele abandono do passado, que a marcara bastante. Sabia que a sua doença lhe furtava sempre os momentos de maior beleza, por isso, roubar-lhe-ia assim os seus momentos de maior felicidade.
      Frederica aceitou-o, e disse-lho por mensagem de correio eletrónico. Embora eles se falassem várias vezes ao telefone, ela preferiu escrever, pois conseguia exprimir-se melhor. Disse-lhe que a esperasse, porque iria regressar por uns dias, para estar com a restante família. Mas também lhe disse que não esperaria nada mais, nem dele nem de ninguém. Só queria estar com ele para partilhar alguns momentos de amor e de puro prazer, pois era simplesmente o que a vida lhe reservaria.

       O final da tarde chegou. Frederica levantou-se quando ouviu o motor de um carro bem conhecido, que estacionara ali perto. Era a irmã Júlia que acabara de abrir a porta dianteira, do carro, acompanhada do seu cunhado, que também saíra do carro. Reparou que alguns vestígios de lágrimas marcavam o seu lindo rosto. Depois de trancar a viatura abraçou a amada e entraram em casa.

terça-feira, 25 de julho de 2017

O PERFEITO DO IMPEDRFEITO





Como prometido aqui fica mais uma parte do meu livro

                          Pensamento voador

       As férias de Verão regressaram e Frederica aceitou ir, mais uma vez para casa da sua irmã Júlia. Para assim aliviar um pouco a sua mãe e o seu pensamento. A sua irmã estava grávida de quase cinco meses e assim juntava o útil ao agradável.
Uma tarde, ao regressar da habitual consulta de planeamento familiar, Júlia entrou em casa com o rosto banhado numa completa tristeza, as lágrimas brotavam-lhe dos olhos. Ao vê-la assim, com a infelicidade bem visível no rosto, Frederica abordou-a, receando passar-se alguma coisa com o bebé.
- Que se passa? O bebé está bem?
- Sim, ele esta ótimo, por enquanto… - Disse ela com uma voz duvidosa.
- Então, o que se passa? Se dizes por enquanto, algo aconteceu… o que foi? – Insistiu.
- O médico! - Disse Júlia, entre soluços. Depois, puxou uma cadeira e, com algum custo, sentou-se. Primeiro olhou para a irmã que estava perplexa e expectante.
- Ele encontrou-me alguma coisa, eu vi no olhar dele, eu notei algo de anormal!
Frederica sem saber o que pensar, não disse nada e continuou a ouvi-la.
- Eu insisti e pedi-lhe para ele me dizer alguma coisa mais, eu precisava saber, mas ele só me disse para ter calma. Achas que eu poderia ter calma? - Indignada, continuou o seu relatório.
- Eu imagino o que possa ser e tenho tanto medo… só de pensar nisso fico desesperada. Mandou-me ir lá novamente amanhã, acompanhada pelo meu marido - o Zé - para conversarmos melhor.
Júlia tentou sorrir, mas o seu rosto continuava murcho, tal e qual um dia nublado, onde o sol queria espreitar, mas as nuvens escuras sobressaiam.
- Não vai ser nada, tu vais ver! Os enganos acontecem, não fiques assim! - Disse-lhe Frederica, tentando acalmá-la, quando nem ela própria estava tranquila.
- Pois… falar é tão fácil. Tenho medo sim!
  Júlia, depois de olhar para a sua irmã e com lágrimas nos olhos, ficou mais pensativa e continuou:
- Sim acho que sei! Por isso tenho andado a fazer tantos exames! Confirmou ela.
- Tem calma por agora, sim? Amanhã logo saberás o resultado! - Respondeu Frederica, disfarçando o receio de qua a irmã estivesse certa.
- Que remédio! - Afirmou ela, respirando fundo.

O quarto de Frederica estava silencioso e banhado pela luz do luar, que entrava pela janela adentro e o iluminava, completamente. A noite estava quente e calma e ela olhava, ora para o vazio repleto de luar, ora para a lua que o oferecia à noite. De janela aberta, ela implorava a si mesma um sinal, como se alguém a ouvisse. Talvez o luar trouxesse algo de mágico e a aconselhasse em silêncio:
- Oh, não, não pode ser, Meu Deus, faz com que isto não passe de um engano! Não deixes que a mesma tragédia nos aconteça, logo às duas!
Frederica murmurava no silêncio da noite, ora orava ora implorava com os olhos cheios de lágrimas… mas a quem?... Talvez à calmaria da noite, talvez nela existisse alguém que a ouvisse. Permaneceu assim uns longos minutos, até que o sono a levou para um mundo melhor, ilusório e maravilhoso.  
Foi um sonho lindo, mas pequenino, pois dormiu pouco. Sonhou que passeava num jardim fascinante, com um bebé recém-nascido, nos braços. Frederica pensava que só poderia ser o bebé da irmã, como um sinal positivo do futuro que se aproximava.
No dia seguinte, logo pela manhã, Frederica e Júlia conversaram e Júlia contou-lhe a conversa que tivera com o marido, José. Apesar de tudo, ele fazia questão em acompanhá-la.
- Mas ele não foi trabalhar?
- Foi sim, mas só de manhã. Vem almoçar a casa e fica… para ir comigo!
- Ah, assim é melhor! - Comentou Frederica com um breve sorriso de satisfação.
- Pois… mas sabes que ele já tinha conversado com o médico sobre isso?
- Ai é? Não me digas! Então ele já sabia e não te dizia nada? - Perguntou Frederica admirada.
- Sim e não… ele sabia mas não pensou que pudesse ser algo tão grave. Já desconfiava do problema que se adivinha… Aliás eu também sei e imagino que tu também. Por essa razão tenho tanto medo! Será que esta maldita doença, nunca mais tem fim? - Perguntou ela, com os olhos cheios de lágrimas a quererem saltar.
E perguntava a quem? A ninguém especial ou a quem soubesse a resposta… mas não havia quem pudesse responder.
- Sim é verdade, depois de mim, quem atingirá mais? Acho que já chega!
- Achas, dizes bem! Eu também acho, mas não somos nós quem deve achar! Somos obrigados a aceitar o que o que nos está destinado.
- Infelizmente é mesmo assim!
Acabando de proferir essas palavras, olharam uma para a outra, pois os pensamentos delas complementavam-se. De seguida Júlia olhou para o tapete do chão com desenhos coloridos e endireitou-o com o pé, dizendo:
- Amanhã tenho que por este tapete a lavar na máquina, espero que não debote, são cores tão vivas, mas está mesmo a precisar!
Assim, mudaram de assunto e acabaram de descascar as batatas, para prepararem a maravilhosa caldeirada, para o saboroso almoço.

Depois de terem acabado de degustar a apetitosa refeição, Frederica levantou a mesa e lavou a loiça usada. Depois de ter arrumado a cozinha e enquanto preparava calmamente um café, sentou-se à mesa para o beber. A sua irmã e cunhado tinham acabado de sair, deixando Frederica a sós com seus pensamentos.
Ainda baloiçavam no ar as palavras duvidosas de Júlia em relação ao bebé
- O Doutor Ribas, sabe muito bem o quanto eu evitava engravidar, justamente por essa mesma razão, a que me deixa tão receosa. Mas aconteceu, pronto, agora não vou interromper esta gravidez, pois sou contra o aborto!
- Eu sei, deixa lá que eu penso igual a ti, e depois será o que Deus quiser, não achas? Será o bebé mais amado do planeta! - Comentou José, sorrindo de tão orgulhoso, enquanto acariciava a barriga da mulher, da qual o volume já era bem visível.
- Sim, será o nosso príncipe! De nada adianta falarmos deste assunto! Vamos é ouvir o que o senhor doutor tem para nos dizer!
- Sim, tem que ser!
Passados poucos segundos, Frederica abanou a cabeça, como se quisesse mandar embora os maus pensamentos. Não era nada agradável pensar na futura tragédia, aquela que seria inevitável não pensar. Uma tragédia que chegara, como sempre, sem avisar.
Levantou-se devagar e saiu a porta de casa, a mesma que dava acesso à cozinha. O pequeno jardim que enfeitava a entrada continuava ressequido, pois era o que esse tempo provocava. Frederica escolheu o lado mais escondido, onde a sombra já aparecia, e sentou-se.
Sentiu-se um pouco cansada e com uma tontura que, rapidamente aliviou. Isto só a fez pensar que seria por causa do calor, pois o tempo continuava abafado e quente, sem uma única brisa a passear, uma típica tarde de finais de julho.
 Sentada na confortável cadeira de baloiço, a única que ali se encontrava e acolhia quem a procurasse, Frederica respirou fundo e levantou o olhar, quando viu alguns belos, cachos de uva espreitando por baixo da latada que ali existia. Abriu um livro de poesia que trazia na mão e tentou fixar-se num poema de amor.
Depois de tentar abstrair-se nalgumas belas frases mais românticas, não conseguiu. O seu pensamento viajava e levava consigo o seu coração, ou melhor, os seus mais puros sentimentos. Aqueles que arrastavam as boas lembranças da pessoa amada e do dia em que se entregara a ele de corpo e alma. Pensava nos momentos de puro romantismo quando se amavam, no meio das vinhas. Esses tinham sido os dias mais apaixonados e românticos que vivera até então.

Deu asas a algumas recordações que passeavam na sua memória e concentrou-se nos dias que viriam dali para a frente. Aqueles que seriam muito piores e mais amargos. Temia o seu futuro daqui em diante e o de Júlia, confusa e amedrontada.
          Frederica sentia muito receio pelo seu amanhã, embora evitasse pensar nisso, o que era cada vez mais difícil. Não existia cura para aquela doença esquisita, que já estava impregnada nela e ia progredindo, pouco a pouco. Recorda-se, como se fosse hoje, do discurso do médico que a seguia:
        - Trata-se de uma doença rara e, infelizmente, ela afeta algumas famílias! - Dissera-lhe ele, calmamente, com o olhar muito sério e preso numa fotografia que estava à sua frente, em cima da secretária. Tratava-se da fotografia de uma criança, que devia ser sua filha e teria cerca de dois anos. Era dona de um sorriso encantador.
      - Como assim? - Perguntou Frederica.
      - É uma doença genética e hereditária, quer dizer que está nos genes de cada familiar e que a mesma que pode ser ou não transmitida de geração em geração.
     - Não posso acreditar, mas… para além de ter sido só agora detetada, não conheço nem me lembro, sequer, de ninguém na minha família com algo igual ou parecido!
       O médico olhou para a mãe de Frederica e com uma expressão, mais séria, continuou...
       - Pois… mas o problema, pode vir também da família do seu marido! Como irmãos, tios, primos, ou mesmo avós dele, ou até dos seus antepassados!  Esta ou outras doenças parecidas podem ser hereditárias, até à sétima geração.
       - Sim, compreendo. - Respondeu dona Augusta. Depois de suspirar e respirar fundo, levantou o olhar, com uma expressão de deceção e tristeza.
        - Devo desde já informá-la que se trata de uma doença neuro degenerativa que vai evoluindo, ou seja, piorando, muito lentamente. Vai precisar de ter muita calma e muita força, para conseguir acompanhá-la. Sei que vai ser difícil superar todas estas etapas, mas vai ter que lidar com isso. – Dissera o médico ao olhar para Frederica e para a mãe dela, que tinham os olhos banhados em lágrimas.
        - Parece que estou no meio de um pesadelo, sem saber a origem… - Lamentava-se, dona Augusta, a mãe de Frederica.
        - Tenham calma, sim? Sabem que a ciência tem vindo a progredir imenso nesse aspeto… por essa mesma razão, é importante que mantenham a fé e a esperança.
       Quando Frederica lhe dirigiu novamente um olhar de súplica, ele afirmou-lhe:
        - Poderá existir uma solução, sim! Vamos fazer todos os possíveis, para que isso não seja em vão e vamos aguardando com paciência, sim? - Acabando de proferir estas palavras, ele olhou-a com um ar de quem coloca uma questão que quer ver respondida de forma afirmativa. O mesmo rosto, que estivera cheio de preocupação, sorriu-lhe com mais confiança!
        Frederica recordava-se, perfeitamente, das palavras que lhe tinham sido dirigidas, alguns meses antes. Mas ela continuava com bastante receio de que mais alguém daquela família viesse a ouvir aquelas frases, novamente.
        - Mas que rica herança nos deixaram os nossos antepassados… realmente… com certeza que desconheciam este problema! - Afirmava ela, com as lágrimas a quererem inundar os olhos, que permaneciam fechados.
        - Porquê eu, meu Deus? Será que mereço isto? Por que motivo me dás este castigo? – Perguntava-se tantas vezes, talvez ao acaso ou ao vazio, mas nunca obtinha resposta. Abriu os olhos e olhou em frente, para o outro lado da rua, quando um barulho lhe chamou a atenção.
        Reparou que uma carrinha amarelada tinha acabado de estacionar em frente a uma vivenda desabitada. Depois de olhar uma segunda vez, com mais atenção, ela reparou melhor, e viu que se tratava de uma carrinha de mudanças.
- Deve pertencer a alguém que mora por aqui, ou nesta rua. - Pensou.
Viu dois homens vestidos com fatos-macaco em tons de castanho que acabavam de sair da vivenda azul e se dirigiram para a carrinha. Abriram as portas da parte de trás, da bagageira, o que lhe despertara a curiosidade. Reparou mais atentamente, quando viu que eles transportavam alguns móveis para dentro da casa.
- Mais um novo vizinho, ou velho… - Pensou ela, rindo-se sozinha. Quando de repente, Frederica viu um homem, muito charmoso e elegante, que parou na entrada. Logo o seu interesse despertou.
- Hum… mas que “borracho”, quem será esta vitamina para os olhos? Será o novo vizinho? Não, não pode ser. E se for, de certeza que vem aí mulher… acho que não iam deixar andar por aí sozinho um pão como este! Podiam comê-lo… e depois? - Perguntava-se ela, enquanto sorria para si mesma, e respondia ao continuar com o comentário, em pensamentos.
Ele era alto, cabelo escuro, liso e bem curtinho. O que mais lhe chamou a atenção, para além do olhar lindo e meigo do qual não conseguia determinar a cor devido à distância que os separava, foi a maneira de vestir: um elegante fato e uma gravata azul-escura e camisa azul-clara.
  Depois de o contemplar melhor, por mais alguns breves segundos, dirigiu-lhe um olhar e um sorriso e entrou novamente na casa azul, onde continuou a falar consigo própria.
- Seria para mim aquele lindo sorriso? Não acredito, ele não me conseguia ver dali! Deve pertencer à empresa de mudanças… ou será ele o chefe? E se fosse...? Que maravilha receber assim um belo sorriso do homem de azul, da casa azul. Deve ser alguém que tem algum cargo importante! - Dizia-se ela, suspirando, quando ao mesmo tempo, desviou o olhar e tentou concentrar-se num poema de amor. O seu pensamento continuava a voar… talvez o que acabara de presenciar fosse o impossível…
Depois de fechar o livro, fechou também os olhos e recostou-se por breves minutos, enquanto esperava pela irmã. Quando os voltou a abrir, depois de ter passado pelas brasas, já não ouviu mais nenhum barulho. Olhou para o outro lado da rua, só para satisfazer a curiosidade. Como não viu mais a carrinha, nem nenhuma das pessoas que tinha visto junto à casa, concordou com o que tinha pensado. Talvez fosse alguém de visita, ou mesmo alguém que tinha feito uma pausa no trabalho.