DEIXO AQUI MAIS UMA PARTE DO LIVRO, QUE SERÁ LANÇADO AMANHÃ, APAREÇAM, PORQUE VAI HAVER SURPRESAS...
- E comiam os legumes assim, crus? - perguntou
o André.
- Sim, claro que isso dependia do que se
tratasse. Mas pensem comigo, pelo menos eram produtos biológicos, ou seja, eram
naturais e puros, nascidos da terra preparada para isso mesmo!
- Eu, quando vou à horta, como cenouras
arrancadas na hora, e é bem bom! - exclamou a Ana.
- E eu adoro todos aqueles tomates
pequeninos, são ótimos e gosto bué! Que maravilha! - disse outra menina.
- Chamam-se a esses tomates cherry ou chucha,
o nome diz tudo! - disse a professora Laura, sorrindo, mas logo depois
continuou…
- Maria, como se chamava a filha dos donos da
horta, era filha única e de posses, que sempre desejou ter mais irmãos. Então
considerava-os a eles como família, uma vez que os pais alegavam não querer
mais filhos.
- Que sorte! Isso queria eu! Infelizmente,
tenho seis irmãos, todos mais velhos e só me chateiam! - disse o Adolfo.
- Eu só tenho uma irmã e chega-me bem! Como
me chateia, preferia por vezes não ter nenhuma! - interveio a Ana.
- Mas isso é sempre assim! Quem é que daqui
não tem mais irmãos? - perguntou a professora, ao mesmo tempo que dirigiu o
olhar para uma menina – a Elisa - que falava muito pouco, mas que respondeu.
- Eu não tenho nenhum irmão!
- Mas gostarias de ter? E porquê?
- Sim, adorava ter, mesmo que me chateassem,
ao menos tinha com quem falar, quando estivesse sozinha.
- Estão a ver? É sempre assim, quem não tem,
gostaria de ter, e quem tem irmãos, gostaria de ser filho único! É por isso que
eu digo: devemos valorizar o que temos!
- Sim, é verdade, professora! - responderam
eles, enquanto encolhiam os ombros. A professora continuou:
- A cabana ficava num lugar muito bonito,
onde no verão podiam tomar banhos diferentes, seja de água ou de sol! Era a
praia deles, porque não conheciam mais nenhuma! Um dia, combinaram entre eles
uma espécie de jogo! Onde cada um deveria arranjar uma coisa útil, como
presente para a casa. A ideia era que a cabana ficasse mais composta e alegre,
pois seria o seu ponto de encontro.
Laura olhou de novo para a sala e voltou a
encontrar nos olhares dos alunos um brilho de encantamento.
- Vocês sabiam que aquela cabana estava
assombrada? Pelo menos era o que se ouvia dizer. Havia até um ditado, um pouco
escondido, que dizia que aquela cabana era habitada por um fantasma! Mas eles
queriam ser mais corajosos que os restantes e, simplesmente, ignoravam tal
facto, ou então riam-se e diziam que não acreditavam em fofocas, nem eram
medricas!
- Eu também não acredito em nada disso, acho
que é só para as pessoas ficarem com mais medo! - disse uma voz vinda do fundo
da sala…
- Eu já não acredito em fantasmas! - disse o
André…
- Eu nunca vi nenhum, mas tenho medo, sim, e
acredito que eles existam nas pessoas más! - respondeu a Ana.
- Querem que continue ou não? Sabem que o
tempo passa rápido e se eu quero contar não é para ficarem com medo, antes pelo
contrário! – disse a professora, olhando-os calmamente, e depois sorriu.
- Sim, desculpe - respondem todos em
uníssono.
- A cabana, a cada dia que passava, ia
ficando mais arrumada e cada vez mais se parecia com a casa habitável que fora
em tempos. Todos eles levavam coisas descabidas, coisas que, em vez de deitarem
fora, levavam para ali! Poderia vir a ser preciso para qualquer outra coisa que
fizesse falta! Era uma espécie de reciclagem!
- E o que é reciclagem, professora? – interrompeu
o Jaime, um aluno, que estava muito atento… questão a que os outros acenaram
com a cabeça, mostrando ter a mesma dúvida que o colega.
- Ora, boa pergunta! Alguém sabe? - ela
olhava em volta, mas ninguém dizia nada, pelo que prosseguiu - Ora muito bem, a
reciclagem é isto mesmo… o que já faziam na altura, mas sem saberem e sem
sequer se falar deste conceito. Reciclar é reutilizar o que já não é necessário
na altura, e, assim, aproveitar tudo o que é velho para reconstruir algo novo.
Quase tudo era reciclado! – disse Laura, olhando em volta e sorrindo.
- Também costumavam contar a história de cada
peça ou artigo que arrecadavam para a cabana.
- Olha que fixe, que ótima ideia! – sussurrou
uma voz alegre e baixinho.
- Sim, muito engraçado! - respondeu outra ao
lado, também baixinho. Mas a professora fingiu não ouvir e continuou.
- Sim, algo que tinha o seu encanto. - rematou
ela.
Pouco depois olhou, pela janela, o fim da
tarde chegara, mas ela continuara com a sua história e iniciara o relato de um
episódio tantas vezes contado pela sua avó.
- Numa tarde de Outono, em que o sol ainda aquecia,
mais ao menos como esta, Francisco trouxe uma pequena manta, feita de retalhos,
e prontificou-se a contar uma pequena parte da sua história. Francisco era o
melhor amigo da minha avó e era a mesma história que ele tinha ouvido vezes sem
fim, contada pelo seu avô Alfredo. Francisco estava em pé, junto ao rio e em
frente à cabana, com a manta de retalhos na mão, quando começou. Olhou com
carinho para a minha avó Beatriz, que também estava em pé, junto ao rio. Ao
lado dela estavam os gémeos Miguel e Manuel José, sentados em cima de uns
pedregulhos, e as meninas Maria Amélia, Helena e Matilde, encostadas à cabana.
A primeira
história de Francisco
O BURRO INTELIGENTE
- Quero deixar bem claro que a história que
vou contar, já o meu avô a contava. Por isso, não sei até que ponto é mesmo
verdade, mas acredito bem que sim, pois foi passada com o pai dele. De qualquer
forma, verdadeira ou não, o que importa é o seu conteúdo, que é ainda bem
atual. – começou o Francisco, grande amigo da
minha avó.
-
Dizia que o seu pai, Francisco, de quem eu herdei o nome, com os seus oitenta
anos de idade e viúvo, tinha um fiel amigo e companheiro, um burro já velhote.
A professora Laura continuou, vestindo a voz
de Francisco:
- Tinha-lhe posto o nome de Fiel! - Francisco
olhou para os seus amigos e viu a curiosidade crescendo nos seus olhos, assim,
como agora eu vejo nos vossos! – disse a professora, observando os rostos dos
alunos, ávidos de curiosidade.
- O
burro Fiel, que sempre vivera com ele, acompanhava-o sempre em todos os
serviços da casa, do campo e não só. Como moravam distantes da aldeia, sem
nenhum vizinho próximo, faziam por regressar a casa sempre antes do anoitecer,
o que um dia não aconteceu. Era época de sementeiras e o velho burro tinha que
lavrar fazendo os regos para ele semear. No fim da tarde desse dia, regressaram
a casa, depois de um longo dia de trabalho.
Fiel,
já muito cansado e quase sem ver, pois o dia estava a chegar ao fim e já via
mal por causa da idade, tropeçou e caiu acidentalmente num grande buraco, cheio
de lama, na berma da estrada, perto de casa.
- Oh! Coitado dele! - exclamou André.
- Pois, tão cansado que estava… tinha de
acontecer! – disse alguém do outro ao lado.
- Mas continue...! - diziam eles!
- Como
a noite chegava depressa demais e a chuva também, o meu bisavô, Francisco,
ficou cheio de medo sem saber o que fazer. Depois de pensar em como poderia
agir para o salvar, chamava-o e nada. Puxava-o mas ele não reagia. Pensou ir em
busca de socorro, mas ficaria na completa escuridão daqui a vários minutos e
todo molhado, o que só pioraria a situação em que estava. Ele próprio já era velho
e precisava de se cuidar se quisesse ajudar o amigo. Depois de respirar fundo várias
vezes, andou um pouco e sentou-se debaixo de uma árvore, perto de casa e desse
local. Ali, pelo menos, estava abrigado da chuva, podia descansar um pouco e
enrolar-se na sua manta favorita, que era esta! – disse o Francisco, ao
levantar o braço, mas logo depois continuou.