Deixo aqui exposto mais uma parte do meu livro...
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Dez dias mais tarde, Francisca despediu-se dos poucos amigos que cativou no hospital. Alguns deles insistiram em trocarem
direções com ela, com a
esperança de conseguirem
algo mais... embora ela
não estivesse interessada a
esse nível, a amizade nunca se
nega a ninguém. A única pessoa que lhe tocou os sentimentos
mais íntimos, do coração, foi a pessoa que
a cuidou o melhor possível,
fisicamente. Ficou
deveras admirada
quando ele insistiu em dar-lhe o seu contacto ao dizer:
- Desejo muito
que tenhas sorte, e, quando decidires ao certo onde vais ficar, envia-me
a direção,
pode ser que te faça uma surpresa, um
dia... Disse-lhe ele com um belo sorriso,
quando se despediu e lhe depositou dois beijos na face. Sim,
ela adorou esse gesto e, por alguns
segundos, deliciou-se com o seu cheiro.
Os meses passaram normalmente,
mas o desejo de Francisca era que eles passassem o mais
depressa possível. Unicamente por se achar naquela
vida demasiado destruída, mesmo estando na casa
de familiares,
junto dos entes mais queridos. Ela
sentia-se um peso e não pretendia que tudo isto se prolongasse por mais tempo. Ambicionava ser
feliz, simplesmente isso. Quando brincava com os
sobrinhos, as brincadeiras eram contagiosas e a
alegria prolongava-se. Francisca, não queria pensar
em nada pior, nada de péssimo nem azarento. Só
desejava o melhor. Fazia por se esquecer
do infortúnio
que
lhe bateu à porta, sim porque os risos e as gargalhadas
dos
sobrinhos contagiavam- na, e assim tentava alcançar a felicidade, ou o que ainda restava dela…
O Natal chegou, para mais uma vez fazer as delícias das crianças. Para Francisca era o primeiro, e desejava que fosse o último
naquele estado. Foram apenas as crianças as presenteadas por ela, com
coisas úteis que ela fez questão de oferecer. Mas
apesar de tudo foi uma noite agradável, divertida e especialíssima...
Embora ela estivesse consciente de que a
cadeira de rodas fosse uma
parte necessária e útil para ela, para as crianças não passava de mais um, novo, brinquedo.
Sim... ela ria-se com eles, porque
achava que fosse só passageiro.
Só que, com o passar dos meses, ela via-se cada vez mais desesperada e desejava que estivessem absolutamente certos
ao dizerem que era só passageiro.
Justamente naquela altura, em que descobrira como cuidar de si mesma e como ficar independente… nesse
preciso
momento a sua liberdade tinha sido derrubada. No fundo,
sentia a sua vida a extinguir-se, no exato momento em
Que se acendera a
chama, não tivera o privilégio de saborear o verdadeiro gosto da liberdade. Todos os sonhos se desmoronavam, como a água do rio, tão pura, mas que se evaporava
com a corrente.
Mesmo assim, ela recusava-se a baixar os braços
e a
entregar-se as armas sem batalhar.
Por
esse motivo não lhe era permitido desanimar nem assim,
nem
agora. Não tinha autorização de ficar parada, e muito menos de ficar à
espera, sem saber
do quê! O seu principal objetivo podia não ser concluído, mas recusava-se a baixar os braços. Especialmente porque
ainda estava viva, e esse era o primeiro e
o maior motivo.
Francisca
continuava na espectativa,
de receber boas notícias. Foi passado dois meses, que ela obteve a confirmação, quanto à sua ida para a
nova residência. Quando lhe disseram para entrar assim que desejasse, a notícia caiu-lhe muito bem. Francisca ficou contente
por
poder aliviar a família,
mas, ao mesmo tempo, foi invadida por uma tristeza estranha, pois era como se
entrasse para uma prisão de portas abertas. De qualquer forma, fez logo a confirmação
e dirigiu-se para lá no dia seguinte