sexta-feira, 8 de setembro de 2017

DOIS POEMAS DA MINHA AUTORIA

VEM...


Vem… vou falar-te baixinho
Quero ouvir a tua voz em mim
Onde o silêncio da noite
Nos chama com voz de cetim…

Vem… vou beber os teus gestos
Mastigar a tua voz lentamente
Sentir o teu perfume no ar
Com tudo o que a gente sente

Vem… vou fazer-te sentir
A força do meu sentimento
Passear-te a pele com os dedos
E contar-te os meus segredos

Vem… vou ser o que queres
Fazer todas as tuas loucuras
Vezes e vezes sem fim
Para ter dentro de mim
A certeza que não procuras
Outro amor, outras mulheres…


Fredy 2013
  





VAI...


Vai… sei que ficarás sem norte
E espero que encontres a sorte
Que nos deixou esperar em vão
E quase nos destruiu o coração

Vai… eu não estarei mais aqui
Quando te lembrares de mim
E decidires que sou p’ra ti
Como uma esperança sem fim!

Vai… mas nunca te esqueças
Que eu fui e sou somente tua
E mantenho as mil promessas
Que fizemos à noite sob lua!

Vai… acabaram-se as loucuras
Vê se encontras o que procuras
Na busca dos teus prazeres
Nos corpos de outras iguais
Mas sem nunca te esqueceres
Que um dia te amei demais...

  

Fredy 2013


quinta-feira, 7 de setembro de 2017

O PERFEITO DO IMPERFEITO, PARTE II

COMO PROMETIDO DEIXO AQUI MAIS UMA PARTE DO MEU LIVRO. QUEM QUISER COMPRAR... DIGA.

                              CAPITULO TRÊS
                          PRÍNCIPE ENCANTADO

          Quando entrou e fechou a porta da cozinha, Frederica não viu a irmã, mas reparou que o cunhado enchia dois copos de água na torneira. Um deles bebeu-o ali mesmo, com satisfação e pressa, o outro levou-o para dentro, e seria, certamente, para a sua esposa. Não resistiu a perguntar-lhe o que tanto a afligia, e logo que ele se voltou para ela, Frederica questionou-o:
         - Então, o que disse o médico…? Pelos vistos, nada de agradável… - Perguntou, receosa.
         - Foi complicado… o bebé está ótimo, por enquanto, mas quanto a Júlia, infelizmente, já tem alguns sintomas. Vou dar-lhe um calmante, porque ela está muito nervosa e tenho medo que prejudique o bebé, não demoro.

         Foi como se uma bomba acabasse de explodir em cima da sua cabeça. Afinal, tudo se confirmava. O que ela implorava para que não passasse de um engano, era verídico, a realidade tornava-se ainda mais amarga do que o que ela imaginara.
        José, com o copo na mão, subiu os dois degraus de uma só vez, dos que davam acesso ao quarto, depois entrou e fechou a porta.
       Frederica sentiu imensa vontade de o seguir, mas não o fez. Não queria invadir a privacidade deles, embora sentisse que se tratava de algo que também lhe dizia respeito, pois era um assunto familiar. Um péssimo assunto de família, do qual ninguém era responsável nem culpado. Era o início de um difícil caminho, onde teriam que aprender a lidar com as dificuldades, cada vez mais custosas, como aliás lhes afirmara o médico.
       Frederica, com os olhos cheios de lágrimas que lhes turvavam a visão, deixou-se cair numa cadeira que estava ali, mesmo junto à mesa.
       - Oh não, meu Deus, não por favor! Não pode ser! Não posso acreditar! Porquê nós? Não nos faças passar por isto, também! Faz com que seja apenas um engano! - De lágrimas nos olhos, ela interrogava talvez a Deus, mas não encontrava a resposta às suas súplicas. Desejara desaparecer dali e pôr fim àquela vida tão difícil. Sentia-se incapaz de dar forças à irmã, pois nem para ela as tinha.

        Passou assim vários e longos minutos, que mais lhe pareceram uma eternidade. Depois, achou melhor começar a preparar alguma coisa para o jantar. Estava na hora, apesar de ninguém ter demonstrado apetite. Talvez uma sopa, ou algo ligeiro, ocupar a mente e não pensar mais no que não queria e não podia mudar. No entanto, algo que era, também, deveras complicado de esquecer. Iria preparar uma sopa de legumes, uma coisa fácil e simples, algo que se apresentava bem a qualquer hora e em qualquer circunstância.
      Levantou-se e enxaguou os olhos com um lenço de papel, que guardou no bolso e, depois de tirar alguns legumes do frigorífico, começou a descascá-los. Tinha que lutar, nesses momentos difíceis que estavam a ficar deveras entrelaçados pelo mesmo problema de saúde que ambas viviam. Mesmo que não tivesse a coragem de pôr um ponto final na sua vida, tinha que conquistar forças para ajudar a irmã. Pelo menos agora, mais do que nunca, ela precisava de toda a coragem e apoio do mundo para enfrentar aquela dor deveras cruel.
         Essa certeza entrava na sua memória, custosamente, e ela queria acreditar que seria uma situação provisória, que um dia tudo ria mudar. Este pensamento positivo estava com ela, constantemente, mas o presente estava a ser, um autêntico sacrifício, por perspetivar o seu destino.
       Passada hora e meia, aproximadamente, José entrou, de novo, na cozinha. Apenas falou o necessário e pouco e pouco depois. Comeu uma tijela de sopa, levou outra consigo, e refez o caminho de volta.

       Depois de gerir uma noite dificílima, cheia de reviravoltas na cama porque não conseguia dormir, levantou-se e dirigiu-se à casa de banho. Enxaguou o rosto com água fria e olhou fixamente a imagem que estava refletida no espelho à sua frente. Era uma imagem que infelizmente estava habituada a contemplar, mas da qual não gostava. Um reflexo que nem parecia o dela, pois estava com grandes olheiras. O cansaço e o desespero estavam-lhe bem estampados no rosto e, a tristeza era bem visível.
         Depois de descer as escadas devagar, entrou na cozinha. Ficou mais tranquila quando encontrou a pessoa que procurava. Avistou a irmã que se encontrava sentada à mesa, com um copo de leite à sua frente e uma expressão muito pensativa. Quando Júlia pressentiu a presença de alguém levantou-se devagar e com cuidado, olhou a irmã com um sorriso murcho, encheu o peito de ar e disse-lhe:
         - Bom dia… sei que já sabes da novidade que eu desconfiava há meses, mas que recusava aceitar. - Disse com o rosto muito triste e um sorriso sério.
        - Pois… eu também queria acreditar que seria apenas um engano... mas ela esta cá, dentro de nós. - Frederica retribuiu o sorriso, quando pegou na mão fria da irmã.
       - Graças a Deus, o meu bebé esta bem de saúde… pelo menos isso! – Afirmou, acariciando a barriga.
       - Sim, isso é o mais importante! - Respondeu Frederica que imaginava já os dias futuros, os que seriam deveras amargos de aguentar e, só por isso, sentia já muito medo do amanhã.
       - Felizmente a vida continua e vamos evitar falar nisso, está bem? – Pediu.
      - Claro! De nada serve falarmos muito no assunto, além disso, já sabemos o mais importante.
        Esse dia passou, não muito diferente dos outros. Talvez mais perturbador, pelo que tentavam disfarçar. Tentavam desviar o assunto da doença, mas era impossível evitar o que estava bem visível e presente no corpo de cada uma. Nos últimos dias, Frederica, sentia-se cada vez pior, como o médico tinha afirmado. Para além disso, ela notava algo de anormal na irmã, mas pensava que fosse devido à sua gravidez.
        O dia seguinte chegou, e, como já era sábado, faltavam poucos dias para rever os entes mais queridos e saudosos. Frederica, depois de se levantar, passou o rosto por água fria, como era seu costume, e vestiu uns calções e uma blusa brancos e bem fresquinhos, pois o dia anunciava-se de novo bem quente. Quando percebeu que a sua irmã e o marido ainda estavam a descansar, decidiu sair. Olhou a sua imagem no espelho, reparou que estava com um ar melhorado, prendeu então os cabelos e saiu para o calor da rua.
          Assim, aproveitava o passeio e comprava o pão para o pequeno-almoço, para além de fazer um pouco de exercício físico, com a curta caminhada. A padaria era já ali, a poucos metros de distância. Foi avançando devagar e com jeito, enquanto pensava na maldita doença, que era tão estranha e tão lentamente progressiva que até lhe provocava arrepios.
       Ao sair da padaria não viu ninguém. Tudo estava tranquilo. Sentiu uma brisa fresca a acariciar o princípio de mais um dia calmo e quente. Deixou-se ficar uns segundos encostada ao poste de iluminação e a sentir o ar a refrescar-lhe as pernas, principalmente descobertas, graças aos calções que usava quase sempre. Deixou-se absorver pelos pensamentos românticos e nem reparou na aproximação de uma pessoa que lhe perguntou:
      - Precisa de ajuda…?
        Frederica olhou imediatamente para o lado de onde vinha aquela voz meiga e doce, como a carícia da brisa do tempo. Viu o mesmo rosto que tinha visto dois dias antes, mas agora estava ali, ao pé dela a falar-lhe e a sorrir-lhe. Ficou surpreendida, não lhe respondeu, apenas fixou aqueles olhos, que agora podia apreciar melhor. Seriam castanhos, verdes ou cinzentos, não dava para perceber. Primeiro, sorriu-lhe, mas depois sentiu-se tímida, sem saber o que dizer e como dizer… afinal não passava de um desconhecido.
        Um pouco hesitante e suspirando fundo, ela pegou na primeira resposta que lhe veio à memória e disse:
       - Obrigada, aceito! Respondeu ela com um belo sorriso.
       - Eu não mordo! Pode apoiar-se no meu braço, se quiser. - Comentou ele quando lhe retribui outro sorriso cheio de simpatia, que a fez sentir-se mais descontraída.
        Sem dizer nada, Frederica agarrou-se ao braço que ele lhe estendia e experimentou o contacto com a sua pele quente. Ele usava uma t-shirt sem mangas, o que era normal, pois estávamos no tempo quente.
        Segura ao seu braço nu, pele contra pele, ela avançou, bem mais confiante. Era a pessoa que tinha visto uma única vez e já sentia a intimidade a querer mandar…? Não podia ser… seria da surpresa… ou porque o achava um gato...- Pensava para si, enquanto caminhava lentamente.
         Apesar de ter tantas perguntas para lhe fazer, apenas lhe fez uma, que tinha a ver com o que mais ansiava saber:
          - Desculpe a pergunta, mas estou curiosa… por acaso, é familiar de alguém daqui?
         - Por acaso não sou, mas sim, conheço bem a rua e as pessoas de cá! - Rematou ele, com um ar brincalhão.
          - Ah, fiquei a saber o mesmo… - Disse Frederica com um sorriso aberto. Eu sou familiar do casal que mora aqui, nesta casa, azul! - Exclamou ela, enquanto se aproximavam da vivenda, de tamanho normal, com um pequeno jardim à frente. O espaço era separado por um portão.
       - Sim, eu sei, eu vi-te quando fiz a mudança.
       - Ah pois, afinal agora eu também sei que és o novo vizinho, certo? - Perguntou-lhe ela sorrindo de felicidade.
       - É verdade sim… e já agora apresento-me, o meu nome é Jorge Duarte! - Ao mesmo tempo, fez-lhe uma vénia de cordialidade.
       - Prazer em conhecê-lo, senhor Jorge! Eu sou a Frederica, que lhe fica muito agradecida pela sua prestável ajuda.
      - Ora essa… foi de boa vontade! - Respondeu ele, com um sorriso cheio de simpatia.
       Quando ele fez um gesto para seguir em frente, ela pôde apreciá-lo melhor. Vestia algo bem simples, como uns calções de ganga. Era um traje muito diferente do que lhe tinha visto anteriormente e que realçava o seu físico bem feito. Quando deu dois passos em frente, ele voltou-se, como se sentisse o seu olhar. Mas mais nenhuma palavra foi trocada entre eles, apenas uma troca de olhares de cumplicidade, que a fizeram sentir-se admirada e vaidosa, mas também algo acanhada e até diminuída, sob aquele olhar lindo e esverdeado que lhe chamara a atenção.
       - Oh, que homem, tão belo! - Pensou Frederica, e sorriu-lhe como forma de agradecimento.

        Frederica entrou em casa sorridente, mas quando viu a sua irmã e o marido, que estavam sentados à mesa da cozinha, parou e disse:
      - Olá bom dia! Fui comprar pão, ainda está fresquinho e quentinho! - Disse ela com satisfação.
      - Bom dia! Sim… parece mesmo que está a ser um bom dia para ti, pelo sorriso de felicidade que trazes na cara! - Respondeu-lhe a sua irmã sorrindo e piscando o olho ao marido, em tom de brincadeira.
      - Acabei de conhecer o novo e novo vizinho. - Disse ela, espontaneamente, e sorrindo.
      - Ah pois, explica isso melhor… - Perguntou o cunhado com curiosidade.
      - Simples, além de ser o novo vizinho, é novo em pessoa.
      - Por isso é que ouvi vozes, que pareciam vir daqui de dentro! - Afirmou José, com um sorriso aberto e olhar curioso.
      - Pois… ele ofereceu-me ajuda e eu aceitei. Quando chegámos à frente da porta… ele apresentou-se e foi quando me ouviste falar, pois é bem simpático!
      - Se o dizes…! - Comentou a sua irmã Júlia, com o rosto mais animado que lhe vira nos últimos dias
      - Chama-se Jorge e deve ter vinte e alguns anos… acho que é solteiro, mas deve rondar por aí alguma mulher!
      - Porque é que dizes isso…? Perguntou-lhe a irmã, curiosa.
      - Porque é um borracho… ou um pão, como lhe queiram chamar! E um homem como aquele não deve andar por aí, assim, sem dona! - Frederica riu-se quando acabou de proferir aquelas palavras, mas suspirou fundo e continuou:

        - Bom, vamos é comer este pão, enquanto está quentinho, sim? Deve estar ótimo. - Disse ela sem parar de sorrir.