COMO PROMETIDO DEIXO AQUI MAIS UMA PARTE DO MEU LIVRO. QUEM QUISER COMPRAR... DIGA.
CAPITULO
TRÊS
PRÍNCIPE
ENCANTADO
Quando entrou e fechou a porta da cozinha, Frederica
não viu a irmã, mas reparou que o cunhado enchia dois copos de água na
torneira. Um deles bebeu-o ali mesmo, com satisfação e pressa, o outro levou-o
para dentro, e seria, certamente, para a sua esposa. Não resistiu a
perguntar-lhe o que tanto a afligia, e logo que ele se voltou para ela,
Frederica questionou-o:
- Então, o
que disse o médico…? Pelos vistos, nada de agradável… - Perguntou, receosa.
- Foi
complicado… o bebé está ótimo, por enquanto, mas quanto a Júlia, infelizmente,
já tem alguns sintomas. Vou dar-lhe um calmante, porque ela está muito nervosa
e tenho medo que prejudique o bebé, não demoro.
Foi como se
uma bomba acabasse de explodir em cima da sua cabeça. Afinal, tudo se
confirmava. O que ela implorava para que não passasse de um engano, era
verídico, a realidade tornava-se ainda mais amarga do que o que ela imaginara.
José, com o copo
na mão, subiu os dois degraus de uma só vez, dos que davam acesso ao quarto,
depois entrou e fechou a porta.
Frederica sentiu imensa
vontade de o seguir, mas não o fez. Não queria invadir a privacidade deles,
embora sentisse que se tratava de algo que também lhe dizia respeito, pois era
um assunto familiar. Um péssimo assunto de família, do qual ninguém era
responsável nem culpado. Era o início de um difícil caminho, onde teriam que
aprender a lidar com as dificuldades, cada vez mais custosas, como aliás lhes
afirmara o médico.
Frederica, com os olhos
cheios de lágrimas que lhes turvavam a visão, deixou-se cair numa cadeira que
estava ali, mesmo junto à mesa.
- Oh não, meu Deus, não
por favor! Não pode ser! Não posso acreditar! Porquê nós? Não nos faças passar
por isto, também! Faz com que seja apenas um engano! - De lágrimas nos olhos,
ela interrogava talvez a Deus, mas não encontrava a resposta às suas súplicas.
Desejara desaparecer dali e pôr fim àquela vida tão difícil. Sentia-se incapaz
de dar forças à irmã, pois nem para ela as tinha.
Passou assim vários
e longos minutos, que mais lhe pareceram uma eternidade. Depois, achou melhor
começar a preparar alguma coisa para o jantar. Estava na hora, apesar de
ninguém ter demonstrado apetite. Talvez uma sopa, ou algo ligeiro, ocupar a
mente e não pensar mais no que não queria e não podia mudar. No entanto, algo
que era, também, deveras complicado de esquecer. Iria preparar uma sopa de
legumes, uma coisa fácil e simples, algo que se apresentava bem a qualquer hora
e em qualquer circunstância.
Levantou-se e enxaguou os
olhos com um lenço de papel, que guardou no bolso e, depois de tirar alguns
legumes do frigorífico, começou a descascá-los. Tinha que lutar, nesses
momentos difíceis que estavam a ficar deveras entrelaçados pelo mesmo problema
de saúde que ambas viviam. Mesmo que não tivesse a coragem de pôr um ponto
final na sua vida, tinha que conquistar forças para ajudar a irmã. Pelo menos
agora, mais do que nunca, ela precisava de toda a coragem e apoio do mundo para
enfrentar aquela dor deveras cruel.
Essa certeza entrava na sua memória,
custosamente, e ela queria acreditar que seria uma situação provisória, que um
dia tudo ria mudar. Este pensamento positivo estava com ela, constantemente,
mas o presente estava a ser, um autêntico sacrifício, por perspetivar o seu
destino.
Passada hora e meia,
aproximadamente, José entrou, de novo, na cozinha. Apenas falou o necessário e
pouco e pouco depois. Comeu uma tijela de sopa, levou outra consigo, e refez o
caminho de volta.
Depois de gerir uma
noite dificílima, cheia de reviravoltas na cama porque não conseguia dormir,
levantou-se e dirigiu-se à casa de banho. Enxaguou o rosto com água fria e
olhou fixamente a imagem que estava refletida no espelho à sua frente. Era uma
imagem que infelizmente estava habituada a contemplar, mas da qual não gostava.
Um reflexo que nem parecia o dela, pois estava com grandes olheiras. O cansaço
e o desespero estavam-lhe bem estampados no rosto e, a tristeza era bem
visível.
Depois
de descer as escadas devagar, entrou na cozinha. Ficou mais tranquila quando
encontrou a pessoa que procurava. Avistou a irmã que se encontrava sentada à mesa, com um copo de leite à sua frente e uma expressão
muito pensativa. Quando Júlia pressentiu a presença de alguém levantou-se
devagar e com cuidado, olhou a irmã com um sorriso murcho, encheu o peito de ar
e disse-lhe:
- Bom dia… sei
que já sabes da novidade que eu desconfiava há meses, mas que recusava aceitar.
- Disse com o rosto muito triste e um sorriso sério.
- Pois… eu também
queria acreditar que seria apenas um engano... mas ela esta cá, dentro de nós.
- Frederica retribuiu o sorriso, quando pegou na mão fria da irmã.
- Graças a Deus, o meu
bebé esta bem de saúde… pelo menos isso! – Afirmou, acariciando a barriga.
- Sim, isso é o mais
importante! - Respondeu Frederica que imaginava já os dias futuros, os que
seriam deveras amargos de aguentar e, só por isso, sentia já muito medo do
amanhã.
- Felizmente a vida
continua e vamos evitar falar nisso, está bem? – Pediu.
- Claro! De nada serve
falarmos muito no assunto, além disso, já sabemos o mais importante.
Esse dia passou,
não muito diferente dos outros. Talvez mais perturbador, pelo que tentavam
disfarçar. Tentavam desviar o assunto da doença, mas era impossível evitar o
que estava bem visível e presente no corpo de cada uma. Nos últimos dias, Frederica,
sentia-se cada vez pior, como o médico tinha afirmado. Para além disso, ela
notava algo de anormal na irmã, mas pensava que fosse devido à sua gravidez.
O dia seguinte
chegou, e, como já era sábado, faltavam poucos dias para rever os entes mais
queridos e saudosos. Frederica, depois de se levantar, passou o rosto por água
fria, como era seu costume, e vestiu uns calções e uma blusa brancos e bem
fresquinhos, pois o dia anunciava-se de novo bem quente. Quando percebeu que a
sua irmã e o marido ainda estavam a descansar, decidiu sair. Olhou a sua imagem
no espelho, reparou que estava com um ar melhorado, prendeu então os cabelos e
saiu para o calor da rua.
Assim,
aproveitava o passeio e comprava o pão para o pequeno-almoço, para além de
fazer um pouco de exercício físico, com a curta caminhada. A padaria era já
ali, a poucos metros de distância. Foi avançando devagar e com jeito, enquanto
pensava na maldita doença, que era tão estranha e tão lentamente progressiva
que até lhe provocava arrepios.
Ao sair da padaria não
viu ninguém. Tudo estava tranquilo. Sentiu uma brisa fresca a acariciar o
princípio de mais um dia calmo e quente. Deixou-se ficar uns segundos encostada
ao poste de iluminação e a sentir o ar a refrescar-lhe as pernas, principalmente
descobertas, graças aos calções que usava quase sempre. Deixou-se absorver
pelos pensamentos românticos e nem reparou na aproximação de uma pessoa que lhe
perguntou:
- Precisa de ajuda…?
Frederica olhou
imediatamente para o lado de onde vinha aquela voz meiga e doce, como a carícia
da brisa do tempo. Viu o mesmo rosto que tinha visto dois dias antes, mas agora
estava ali, ao pé dela a falar-lhe e a sorrir-lhe. Ficou surpreendida, não lhe
respondeu, apenas fixou aqueles olhos, que agora podia apreciar melhor. Seriam
castanhos, verdes ou cinzentos, não dava para perceber. Primeiro, sorriu-lhe,
mas depois sentiu-se tímida, sem saber o que dizer e como dizer… afinal não
passava de um desconhecido.
Um pouco hesitante
e suspirando fundo, ela pegou na primeira resposta que lhe veio à memória e
disse:
- Obrigada, aceito!
Respondeu ela com um belo sorriso.
- Eu não mordo! Pode
apoiar-se no meu braço, se quiser. - Comentou ele quando lhe retribui outro
sorriso cheio de simpatia, que a fez sentir-se mais descontraída.
Sem dizer nada,
Frederica agarrou-se ao braço que ele lhe estendia e experimentou o contacto
com a sua pele quente. Ele usava uma t-shirt sem mangas, o que era normal, pois
estávamos no tempo quente.
Segura ao seu
braço nu, pele contra pele, ela avançou, bem mais confiante. Era a pessoa que
tinha visto uma única vez e já sentia a intimidade a querer mandar…? Não podia
ser… seria da surpresa… ou porque o achava um gato...- Pensava para si, enquanto
caminhava lentamente.
Apesar de
ter tantas perguntas para lhe fazer, apenas lhe fez uma, que tinha a ver com o
que mais ansiava saber:
-
Desculpe a pergunta, mas estou curiosa… por acaso, é familiar de alguém daqui?
- Por acaso
não sou, mas sim, conheço bem a rua e as pessoas de cá! - Rematou ele, com um
ar brincalhão.
- Ah,
fiquei a saber o mesmo… - Disse Frederica com um sorriso aberto. Eu sou
familiar do casal que mora aqui, nesta casa, azul! - Exclamou ela, enquanto se
aproximavam da vivenda, de tamanho normal, com um pequeno jardim à frente. O
espaço era separado por um portão.
- Sim, eu sei, eu vi-te
quando fiz a mudança.
- Ah pois, afinal agora
eu também sei que és o novo vizinho, certo? - Perguntou-lhe ela sorrindo de
felicidade.
- É verdade sim… e já
agora apresento-me, o meu nome é Jorge Duarte! - Ao mesmo tempo, fez-lhe uma
vénia de cordialidade.
- Prazer em conhecê-lo,
senhor Jorge! Eu sou a Frederica, que lhe fica muito agradecida pela sua
prestável ajuda.
- Ora essa… foi de boa
vontade! - Respondeu ele, com um sorriso cheio de simpatia.
Quando ele fez um gesto
para seguir em frente, ela pôde apreciá-lo melhor. Vestia algo bem simples,
como uns calções de ganga. Era um traje muito diferente do que lhe tinha visto
anteriormente e que realçava o seu físico bem feito. Quando deu dois passos em
frente, ele voltou-se, como se sentisse o seu olhar. Mas mais nenhuma palavra
foi trocada entre eles, apenas uma troca de olhares de cumplicidade, que a
fizeram sentir-se admirada e vaidosa, mas também algo acanhada e até diminuída,
sob aquele olhar lindo e esverdeado que lhe chamara a atenção.
- Oh, que homem, tão
belo! - Pensou Frederica, e sorriu-lhe como forma de agradecimento.
Frederica entrou
em casa sorridente, mas quando viu a sua irmã e o marido, que estavam sentados
à mesa da cozinha, parou e disse:
- Olá bom dia! Fui comprar
pão, ainda está fresquinho e quentinho! - Disse ela com satisfação.
- Bom dia! Sim… parece mesmo
que está a ser um bom dia para ti, pelo sorriso de felicidade que trazes na
cara! - Respondeu-lhe a sua irmã sorrindo e piscando o olho ao marido, em tom
de brincadeira.
- Acabei de conhecer o novo e
novo vizinho. - Disse ela, espontaneamente, e sorrindo.
- Ah pois, explica isso
melhor… - Perguntou o cunhado com curiosidade.
- Simples, além de ser
o novo vizinho, é novo em pessoa.
- Por isso é que ouvi
vozes, que pareciam vir daqui de dentro! - Afirmou José, com um sorriso aberto
e olhar curioso.
- Pois… ele ofereceu-me ajuda
e eu aceitei. Quando chegámos à frente da porta… ele apresentou-se e foi quando
me ouviste falar, pois é bem simpático!
- Se o dizes…! - Comentou a
sua irmã Júlia, com o rosto mais animado que lhe vira nos últimos dias
- Chama-se Jorge e deve ter
vinte e alguns anos… acho que é solteiro, mas deve rondar por aí alguma mulher!
- Porque é que dizes isso…?
Perguntou-lhe a irmã, curiosa.
- Porque é um borracho… ou um
pão, como lhe queiram chamar! E um homem como aquele não deve andar por aí,
assim, sem dona! - Frederica riu-se quando acabou de proferir aquelas palavras,
mas suspirou fundo e continuou:
- Bom, vamos é
comer este pão, enquanto está quentinho, sim? Deve estar ótimo. - Disse ela sem
parar de sorrir.