terça-feira, 30 de janeiro de 2018

O PERFEITO DO IMPERFEITO II a outra face

    
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     No final da tarde de terça-feira, depois das horas de maior calor, Frederica resolveu ir a casa dele, saber se encontrava algum sinal de que aquela pessoa ainda ali existisse. Riu-se para si mesma, quando pensou nessa possibilidade, mas logo a seguir, o seu pensamento falou-lhe:
    - É claro que existe, que pensamento mais parvo! Aquela visão tão bonita não surgiria assim… do nada! Ele era bem verdadeiro, porque me assustou. E para além disso, de nos termos falado, também lhe toquei e senti que era bem real! Não foi só um sonho, apesar de parecer... - Pensou ela, rindo enquanto suspirava.
         Em primeiro lugar saiu o portão da sua casa, ou melhor, da casa de sua irmã. Depois, verificou que a rua se mantinha quase deserta e foi avançando calmamente, apoiada à grade. Em seguida, olhou para os lados, e, como não viu ninguém por perto, dirigiu-se cuidadosamente, para evitar cambalear, em direção à casa do outro lado da rua.
          Frederica aproximava-se, bem menos confiante, pois cada vez que se via desamparada, no meio do nada, o grande desequilíbrio apoderava-se dela. Com atenção e a curiosidade a comandar, ela seguiu em frente… era como se sentisse o seu corpo no vazio, ou sem apoio. Sentia a falta de controlo no seu corpo, ela sabia que esse problema estava cada vez mais presente. Parecia uma árvore sacudida pelas carícias do vento, ou demasiada fragilizada pelas suas pancadas. Era assim que ela se sentia, aquele castigo apoderava-se dela muito lentamente, tomando conta de si mesma, o que mais parecia uma longa e lenta, tortura.
       Quando alcançou o passeio do lado oposto da rua, sentiu-se com mais segurança. Já tinha a oportunidade de se apoiar, ou apenas de tocar em alguma coisa, como um muro, uma grade ou, até, um poste. Tudo ficava mais fácil, ela ficava muito mais confiante, porque sentia o equilíbrio que lhe queria fugir quando se sentia desamparada. Era uma sensação demasiado esquisita e complicada, mas também verdadeira, algo que nem ela própria conseguia explicar.
        Alguns metros mais à frente, ela já podia ver a entrada da casa, que era azul clara e não muito grande. A casa tinha algo que lhe chamava a atenção: era separada por duas portas paralelas, feitas de vidro escuro. Aproximou-se um pouco mais e outra coisa lhe despertou novamente a atenção: uma linda roseira branca, que se encontrava no meio do jardim, junto a um pequeno lago. Tinha rosas grandes, e sobre elas estava uma linda borboleta, em tons de azul-marinho e que passeava sobre as suas frágeis pétalas. A terra estava molhada, o que dava a entender que alguém lá estivera a regá-la.
       - Olá! A menina precisa de ajuda? - Ouviu ela perguntar. Reconheceu aquela voz que pairava sobre o seu pescoço nu, e igual a uma suave carícia...
      - Oh não! - Pensou ela nervosa e assustada, mas fechando os olhos e dando meia-volta, respirou fundo e perguntou-lhe:
      - Olá, senhor Jorge! Por aqui? Ela ficou completamente
desamada e perplexa, sem saber o que fazer.
       Olharam um para o outro, surpreendidos, e depois ele sorriu-lhe.
        Ela reparou mais uma vez o quanto ele era atraente com aquela roupa. Trazia o, mesmo, fato que tinha vestido na primeira vez que reparou nele. Também usava uns óculos escuros, que lhe davam um ar mais sensual, mas que tirou logo a seguir, talvez para a ver melhor.
          Jorge sorriu-lhe descaradamente e com o seu lindo olhar verde-claro, que o deixava ainda mais atraente e apetitoso.
       - Isso pergunto eu! - Afirmou ele, com um ar curioso e sorriso brincalhão...
        Frederica ficou sem reação, a verdade era essa, apesar de tudo, ela é que estava em território alheio. É um facto que poderia estar apenas de passagem, sem invadir a propriedade de ninguém. Mas com o seu belo sorriso e bonito olhar, ele continuou…
      - Desculpa, eu sei que a rua é pública, mas ao ver-te aqui assim, pareceu-me que procurava alguma coisa, ou estou enganado…? Perguntou-lhe ele.
        Numa primeira reação, ela pensou em mentir, talvez com a intenção de se desculpar. Depois pensou melhor nos fracassos que a vida lhe trazia, e decidiu contar-lhe a verdade.
        - Não, não estás enganado, procurava alguém sim, mas já encontrei! - Respondeu ela imediatamente, antes de deixar fugir a coragem. Frederica olhou-o com sinceridade e coragem e sorriu-lhe abertamente.
         - Ah, então sempre é verdade? Não me digas, será que andavas há minha procura? - Perguntou-lhe Jorge sorrindo e com ar de gozo. Depois, observou-a com um rosto muito mais sério e curioso.
          Frederica respondeu-lhe com um único gesto afirmativo de cabeça, olhou-o timidamente, e lançou-lhe um sorriso sincero.
      - E porquê? Posso saber? Não me digas que fiz alguma coisa de errado sem saber…? - Perguntou-lhe ele sorrindo, com um olhar provocador.
         Frederica não gostou daquela afirmação e quase se arrependeu da asneira que tinha feito – a de querer saber se descobria algum sinal daquela pessoa, a quem decidiu contar a verdade.
        Falou sinceramente com Jorge, contou-lhe a preocupação dela, por não o ter visto mais por ali. Depois, confessou-lhe o porquê da sua ida a casa, e por fim contou-lhe o quanto ficara encantada com a entrada da vivenda, principalmente, com a borboleta.
       - Mas a borboleta, apesar de ser linda, não é minha. - Disse-lhe ele, espontaneamente, e com um sorriso sincero.
       - Imagino que não. Disse ela.
       - Desculpa-me pela brincadeira parva… foi estúpida, mas não foi intencional, acredita! Adorei a tua sinceridade, sabias?
        - Não é vulgar encontrar a franqueza de alguém! Mas ainda bem que alguém se preocupou comigo e com esta borboleta. – e prosseguiu dizendo:
         - Sabes, acho que a pessoa que se interessou por mim é parecida com uma borboleta: bonita, frágil e que irradia encanto! – Disse Jorge, com um olhar sério e um sorriso de encantamento e brincadeira. Depois continuou:
        - Desculpa outra vez a brincadeira, mas o que estou a dizer é a verdade! Vamos entrar? Porquê ficar aqui, no meio do passeio… não é lugar para conversarmos, não achas?
         No início, Frederica não disse nada, pois já tinha visto quem queria. Depois ficou indecisa e por fim, o telemóvel dele tocou. Jorge, depois de o tirar do bolso, olhou-o e suspirando disse:
         - Sim, mamã? Claro que não me esqueci, vamos jantar sim, não me demoro, até já. Ah, vou só tomar um banho, rápido, ok? Beijos.
           Logo que Jorge guardou o telemóvel no bolso, olhou para Frederica, com um ar dececionado e rosto mais sombrio.
         - Pronto… pela terceira vez, peço-te desculpa, mas vai ter que ficar para a próxima. Prometi que ia jantar com esta mulher que adoro! Sabes que foi onde fiquei, nestes últimos dias? Disse-lhe ele, mais contente e sorrindo.
         Frederica sentiu-se mais leve ao ouvir aquelas palavras, embora a vida dele não lhe dissesse respeito. Lançou-lhe um olhar amigável e disse:
         - Não tens que pedir desculpa, mãe é mãe, eu sei o que isso é… fica bem e bom jantar.
         - Sim, ok! Obrigada por tudo, mas já agora… deixa-me acompanhar-te?
        Jorge ofereceu-lhe o braço e ela concordou, acenando a cabeça, num gesto afirmativo. Agarrou-se a ele e sentindo-se melhor e mais segura, foi avançando. Encheu-se de coragem e falou-lhe sobre o seu problema de saúde, o que a fez sentir-se mais aliviada. Confessou-lhe o quanto isso a deixava incomodada e insegura mas principalmente sobre a sua evolução. Jorge disse-lhe que já tinha notado algo diferente, mas nada disso impedia o facto de poderem construir uma amizade sincera. Não era razão para se sentir diminuída, nem desesperada. Pensou também contar-lhe sobre a péssima novidade, acerca da irmã, mas pensou melhor, e contou-lhe apenas da gravidez.
       - Ah, parabéns tia… - Disse-lhe ele com um sorriso sincero e olhar ainda mais claro e brilhante, talvez devido ao calor que se fazia sentir e ao sol que se refletia no seu rosto.
       - Obrigada! - Disse-lhe ela satisfeita, apoiando-se à porta de entrada.
       - Estás entregue! Fica bem e até à próxima. - Respondeu-lhe ele. Colocou os óculos de sol, sorriu-lhe, voltou-se e avançou.
      - Obrigada e igualmente! - Sorriu-lhe também e pensou para si: até à próxima meu príncipe encantado!




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