Depois de viver vinte e seis anos, uma vida, numa cadeira de
rodas, eu pergunto-me se não chega de sofrimento?
Eu sei que ninguém é culpado da doença, progressiva, que
herdei, nem sequer do infortúnio que me calhou. Talvez só o destino ou, eu
mesma, numa outra vida, quem sabe?
As horas, os dias e os anos avançam lentamente, tal e qual, a
minha doença… mas continuo viva, feliz ou infelizmente, não sei até quando, só
espero que seja por pouco tempo.
Existem pessoas em situações piores que a tua. Ouço muitas vezes
dizer, sim é verdade, mas também há situações melhores! Pelo menos quem tem dinheiro
é uma grande ajuda! Mas quando não existe a sorte de possuir nenhum dos dois, o
azar acentua-se.
Nem sei se me considere uma pessoa, com sorte ou com azar, porque
tenho a mente sã, só sei que esta condição me traz, o maior sofrimento, mas também
a maior alegria, é como viver numa prisão de porta aberta… Observando tudo mas
impedida, pela minha condição.
No fundo, eu só desejo doar o meu corpo, talvez seja um
pequeno, grande, passo para a evolução da cura da mesma. Já que não fui útil em
vida talvez seja em morta, eu quero que fique escrito: Alfredina Ribeiro Almeida
de cinquenta e três anos pretende doar o seu corpo para investigação.