quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016

POEMA MEU

O jogo da vida


Como gotas de lembrança

Que se evaporam no mar

São os riachos de esperança

Que me impedem de recuar


No jogo da vida eu vivi
E foi assim que eu aprendi

Nas brincadeiras da vida

Eu joguei e não pensei

Que no brilho das estrelas

Encontrasse um sinal teu

No jogo da vida eu brinquei

Mas sempre nele avancei


São as lembranças pavorosas

Que atormentam o meu sonhar

Como recordações dolorosas

Que me impedem de amar

Na juventude procurei
Laços de amor encontrei
E com eles eu brinquei
Mas depois descobri
Que o amor brotou de mim

FREDY











O PERFEITO DO IMPERFEITO mais uma parte

DEIXO AQUI MAIS UMA PARTE DO LIVRO QUE PUBLIQUEI... O QUAL TENHO MUITO GOSTO EM PARTILHAR.








CAPÍTULO OITO Divididos

Semanas, meses, anos passaram. Francisca observava-os ao sentir o ambiente cada vez mais pesado. Via-se na obrigação de aguentar tudo aquilo, pois fora ela própria a tomar a decio de ir para aquele lar.
Por vezes refugiava-se do ambiente barulhento, que se tornava cada vez mais insuportável. Francisca estava bem consciente de que ninguém tinha culpa, apenas o destino... E essa era a tarefa, mais difícil de suportar.
A convivência entre os residentes fazia crescer a amizade e o carinho entre alguns deles. Francisca, que não era exceção, tinha algumas amizades mais íntimas, embora respeitasse a todos, cada um no seu lugar. Somos todos diferentes, mas também todos iguais e só o respeito pelos outros pode fazer valer esta premissa.
Sempre que via algum dos residentes meter- se à frente da sua cadeira de rodas, ela tentava desviar-se. Fazia os possíveis para não ir contra ninguém, mas, por vezes, não o fazia a tempo, então riam-se, como crianças que eram, ainda que apenas mentalmente.
De vez em quando chateava-se, mas logo se mentalizava de que não valia a pena, pois de nada adiantaria. Antes pelo contrio, se lhes chamasse a atenção sobre algo, ainda os deixava mais revoltados. Alguns deles poderiam até, eventualmente, deixar a sua revolta falar mais alto. Talvez essa fosse mais uma injustiça da vida, ou do destino.
Francisca dizia que Deus dividiu cada ser humano em dois, dando a perfeição motora a uns, e a perfeição mental a outros... Embora soubesse que não existe ninguém perfeito e que noção de perfeição é muito subjetiva. Pensava que o mundo precisava de pessoas e que, no fundo, tudo o que fazia falta era a quantidade e não a qualidade mas teria de ser assim…? Perguntava-se ela, muitas vezes, dececionada.
Francisca esperava algo, sem saber o quê. Padecia, sem saber por que razão. Não encontrava um sentido justo para aquela injustiça. Muitas vezes vivia sem interesse, vivia apenas porque tinha de viver. Sentia a obrigação bater-lhe à porta, e, completamente desesperada, abria-a estando certa que a vida era uma longa espera. Apesar de tudo, sentia que valia a pena viver e esperar, mas principalmente saber e poder viver a vida.
Era esse o verdadeiro motivo de ela continuar a batalhar contra aquele desgosto. Teria de conquistar forças para não se deixar afundar, como já acontecera tantas outras vezes, quando era invadida pelas ondas do pessimismo. Francisca resistia sempre e tentava acompanhar a certeza de um amanmelhorado. Pensava que tinha de conseguir sair dali, que não podia desistir da felicidade, ainda que estivesse naquele estado. Ouvia a voz do silêncio do seu coração.
Tentava encontrar razões justas nas injustiças
que via, onde tantos pagavam pelos erros de outros, onde tudo o que via lhe parecia injusto! Um local onde, infelizmente, a saúde se recusara a habitar. Muitas vezes, reparava que a vontade que a fizera brotar para a vida murchava, e ela nada podia fazer. Depois, deixava-a desfalecer e seguir caminho. Talvez ela voltasse com a felicidade, dizia-lhe muitas vezes a sua voz interior.
Francisca pensava ser essa a razão do seu maior sofrimento: o facto de continuar a manter a
mente totalmente lúcida, um pensamento que a desiludia bastante, por esse mesmo motivo.
Os sentimentos eram a única coisa que realmente lhe pertenciam e a prendiam à vida, algo que ela fazia intenção de continuar a preservar.
Em muitas ocasiões, perguntava-se a si própria se não seria mais fácil suportar a vida ficando perdida no tempo e alheia o mundo que a rodeia, como acontecia com muitos outros que apenas viviam num mundo inventado e construído por si mesmos. Viver com uma doea não apenas física, mas também mental, de quem vive sem tempo nem medida, sem dores, sem prazeres, sem emoções e sem fracassos. Talvez fosse mais fácil conquistar a felicidade nessa condição: vivendo no estado em que muitos se encontram, num mundo emprestado à realidade, unicamente habitado por felicidades, sonhos e fantasias.
Mais uma vez, Francisca era invadida por questões existenciais… seria esse o recheio da vida… sem objetivos nem esperas? Seria o imprevisto unicamente constituído por coincidências? Sabia que pelo menos a sua felicidade podia ser trabalhada em cima de coisas simples, mas não ocas.
Tentava achar uma solução para não ser tão pessimista, pois isso nunca a levaria a lugar algum. Eram essas dúvidas, quase sempre dificílimas, que a faziam tentar entender as necessidades do dia-a-dia, onde outros nem sequer tentavam perceber as pequenas “grandes diferenças. O que para a maioria dos utentes era uma enorme dificuldade, para outros era apenas algo aceitável.
Francisca concordava plenamente com uma pessoa que costumava dizer:
- Cada um é como é! Aturar canalha maluca, não… não tenho idade para isso! Estou farta! Comentava, sempre que se sentia revoltada, talvez só com ela mesma, por se encontrar num sítio daqueles, ou porque, de vez em quando, caía nas malhas da sua lucidez e lembrava-se de tudo o que podia fazer ainda, ou talvez no que fez e não volta mais...