quinta-feira, 21 de maio de 2015

O PERFEITO DO IMPERFEITO


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Ficou com muitas caixas de chocolates, as quais  fez  questão  de  repartir,  pelas  enfermeiras amigas e por mais algumas amizades, feitas naquele hospital. Um ramo de lindas rosas amarelas e outro de flores campestres, enfeitavam o quarto. Recebera também, dos sobrinhos, um frasco de perfume com um agravel aroma.
Tinha sido extremamente agradável para ela receber aquelas visitas que lhe trouxeram a alegria que tinha perdido.


Alexandra era mais velha que Alberta, dois anos, mas casou  e engravidou depois  da  irmã. Teve gémeos, um casal, que agora tinham vinte e seis meses e eram a dura da família. Além de serem lindos e engraçados tentavam imitar tudo e todos. Estavam a ficar demasiado traquinas, pois estavam na idade de o ser.
Alexandra e a irmã insistiram em que ela fosse viver com elas até melhorar, pois moravam ao lado uma da outra. Sendo assim, podia ficar na casa daquela que preferisse, o tempo desejado, até a recuperação ser total.
Mas Francisca, generosamente, recusou a oferta, bastante agradecida. Simplesmente não queria acomodar-se a ninguém nem a nada, recusava depender dos outros ou sentir-se um peso. Evitava, tão simplesmente, perturbar.
As certezas transformaram-se em vidas, mas depois de dias sem resultados positivos, as dúvidas passaram a esperanças. Pensava no rumo que teria de dar à sua vida. Não queria ser um fardo para ninguém, disso tinha a certeza, evitava um futuro indesejado, tanto para ela como para os outros. Teria que decidir o seu amanhã. Recusava-se a empatar a felicidade de alguém, enquanto ainda tivesse oportunidade de escolha.


 Nessa noite, antes de dormir, Francisca chamou algumas das recordações mais importantes que fantasiavam na sua memória. A sua especial amiga, Joaninha, tomava o primeiro lugar. Lembrou-se inclusivamente da pessoa que lhe fizera a oferta, alguém que tomara um lugar especialíssimo no seu coração, alguém que jamais esquecera.
Guardava com imenso carinho as recordações da sua adolescência. Para além de ser uma criança bastante divertida, achava-se tímida e discreta. Estava consciente das rias dificuldades e necessidades acumuladas à sua volta, que a  obrigavam a concordar com a privação do menos útil para assim construir uma vida mais serena. Por isso fechara bem a porta dos seus sonhos, trancando assim os desejos mais simples, para, de mansinho, enriquecer todos os seus sonhos. Faltava quase tudo para conseguir uma vida mais rica e
mais justa. Era um nível de vida desconhecido na altura, mas algo que agora fazia enorme falta. Sim a orientação é precisa
Tinha consciência das dificuldades dessa época visto que as sentia na pele. Sabia ver e sentir, o quanto, a vida, era complicada e exigente, sabia o difícil que era ter que seguir as regras do dia-a-dia. Tudo isto era absorvido pelos olhos da criança que,
habitava nela. Sentia-o exatamente como ela era,
em ponto pequeno


Francisca recordou-se de um dia três de Abril, Um sábado. Foi diferente, porque era Páscoa e, nesse dia completara dez anos de idade. Ninguém se apercebeu, como costume, foi mais um dia igual a outros. Mais uma data alheia, ignorando o que para Helena tinha um valioso significado. Era uma data, inesquecível, era a sua entrada na pré-adolescência. Não era costume, nem nunca  fora  


sequer habituada a receber algo para assinalar esse dia. Para ela seria uma data de máxima importância, mas sabia que para os outros seria apenas mais um ano deixado para ts, desperdiçado com as sobras da criança que foi e ainda era…
Francisca ansiava sempre pelo ano seguinte, pois estava consciente de que era mais um pequeno passo em direcção ao futuro, à mulher desejada,
que cada vez mais queria ser. Fazer anos, era um sinal de sabedoria, de amadurecimento e de aprendizagem.
Desejava ansiosamente sair da sua concha, rumo à adolescência tão pretendida. Onde ambicionava satisfazer os desejos imaginados. Queria poder entrar lentamente nesse universo interessante, mas desconhecido. A impaciência perante esse novo futuro reinava, ansiava viver momentos que seriam únicos e belos. Como seria ser e descobrir a mulher perfeita, a  mulher ideal? Imaginava e tentava construir desde então o seu futuro ilusório.
Vivia-o exatamente como qualquer criança, na sua passagem ao mundo da adolescência. Sabia o quanto foi e era difícil lidar com a privação de quase tudo, simplesmente porque a vida se mantinha bastante problemática em todos os sentidos. Tinha aprendido o principal, a apreciar a enorme beleza da vida e o que ela possui de mais valioso. Talvez o verdadeiro valor da vida seja invisívele por ele ser tão grande se torna inalcançável à visão. Ou talvez simplesmente porque é um puro sentimento que nasce do olhar e mora no coração, como todos os outros… e por isso não se possa ver.


Francisca não era a única a sonhar com o seu futuro, nem foi sequer a única a atingir essa linda


idade, mas foi a única que recebeu o presente ambicionado,   durante                         os            tenros          anos   da   sua infância.
Na manhã seguinte foi dia quatro de Abril - domingo de Páscoa. Ao sair do quarto, deparou-se com o seu pai, que caminhava lentamente ao seu encontro. Com maneiras afetuosas, aproximou-se dela, de sorriso bem alegre e carinhoso, mãos atrás das costas, e no final uma expressão bem satisfeita! Denunciava esconder algo! Notava-se demasiado  bem  o  volume  da grande caixa, destapada, pois não havia dinheiro para comprar papel de embrulho. Tentava ao máximo manter a surpresa anónima, mas conseguia despertar a sua curiosidade. O coração de Francisca saltava de tanta euforia, palpitava de tão cheio de vontade de descobrir aquela oportunidade que a vida lhe oferecia. Ansiava por algo positivo, talvez bastante pretendido. Então, com atenção e cheia de orgulho, ouviu seu pai dizer:
- Tenho uma surpresa para ti, sei que vais gostar muito, aliás tenho a certeza! Mas não me foi possível consegui-la mais cedo, mais vale tarde do que nunca, não é? Estendeu-lhe as mãos com a caixa e, continuou:
-Quero dizer-te também que sinto um grande amor por ti e sinto-me muito orgulhoso em ter-te como filha. Quero desejar-te muitas felicidades e que Deus nunca se esqueça de ti.
Dizendo isto, uma lágrima de felicidade quis fazer-se mostrar no canto do seu olho, respirou fundo e continuou:
- com a força de viver, consegui superar o desgosto deste caminho tão difícil e muitas vezes indesejado.  Mas,  graças  a  ti,  tornou-se  bastante
enriquecedor. Que Deus te abençoe, minha filha!


Ao ouvir aquelas palavras tão bonitas e preciosas, Francisca transbordou de alegria. Ficou tão contente e comovida, que não encontrou o que dizer. Apenas o abraçou.
-Eu também pai, obrigada por tudo. Foi o que unicamente conseguiu lançar pela boca fora, porque o restante ficou entalado na garganta. encontrou forças na grande curiosidade, ao pegar na enorme
caixa e… acabar de abrir. Francisca depositou naquele momento toda a emoção e alegria que pudesse existir nela. Assim que verificou conter o que imaginava, deu pulos de felicidade e quase explodiu de contentamento.
- Oh pai obrigada é linda, linda! Com um forte abro, procurou retribuir-lhe a enorme alegria que a contagiava.
Vindo de uma pessoa tão querida, aquelas palavras e gestos, ficariam para sempre gravadas no seu pequeno mundo, tatuadas no seu coração e, eternamente, coladas no livro da vida. Aquecendo o mais pequeno grão de sentimentos, que teimavam arrefecer algum pedaço de defesa, existente na sua vida, ainda tão verde.
Seuolhos  castanhoesverdeados cintilavam
de tanta felicidade, ao denunciarem a alegria e o desejo contidos. As lágrimas que queriam sair pelos cortinados dos seus olhos, eram de felicidade. Era tanta a euforia e o contentamento sentidos por Francisca, que nem sabia se havia de chorar ou se havia de rir. Mas se fosse um sonho, era bom demais e recusava-se a despertar!
Era uma boneca, sim aquela que sempre desejou e aquela que sempre idealizou. Sempre pensou ser impossível satisfazer, pois era um
sonho… e os sonhos não se realizam. Principalmente


naquele  canto   do  mundo   onde   só  em   sonho   é possível alcançar os desejos.
Mas agora era real, de olhos bem abertos ela tinha aquela maravilhosa visão. Será que o sonho saiu da ficção para a realidade? Após tanto tempo de espera, a recompensa chegava, permanecia à sua frente e pertencia-lhe inteiramente.
Era linda e quase tão grande quanto ela. Possuía uns cabelos sedosos, ondulados e cor de cenoura, chegavam-lhe à cintura, cheirando otimamente. Umas enormes pestanas negras, contornavam uns belíssimos olhos cor de carvão, pintados com a cor da moda, um azul céu muito bonito. Para completar essa beleza facial, uns lábios carnudos, cor de sangue e entreabertos davam a impressão de querer falar com ela.
Vestia  umas  roupas  bastantmodernas que lhe assentavam lindamente. Um vestido cheio de folhos cor de laranja e dourado que descia até aos joelhos. Tinha uma fita enrolada na cabeça a condizer com o restante, a fazer sobressair os lindos cabelos que lhe caíam pelas costas.
Quando a tomou nos braços com toda a delicadeza, sorriu-lhe de encantamento, parecia-lhe um autêntico bebé, com uma expressão repleta de tranquilidade. A minha princesinha linda pensava ela. Não demorou muito para sair a correr, com a boneca nos braços, e apresentar, a sua nova hóspede a toda a vizinhança.


Foi um Domingo de scoa muito especial para Francisca, pois recebera aquela maravilhosa surpresa. Seguido da missa e do almoço, um pouco diferente, com mais fartura e com os tradicionais petiscos, o qual ela havia ajudado sua mãe a preparar   na


 Eram sempre feitos com antecedência e ela aproveitava aquela oportunidade de aprender algumas receitas tradicionais. Como o delicioso folar de carne, biscoitos ou bola de azeite, que eram confecionados com produtos regionais. A fogueira era acesa, no enorme forno de lenha, juntamente com outros vizinhos, que também iam preparar os seus petiscos. Apreciava e aprendia, ao mesmo tempo que saboreava os que sua mãe lhe preparava, especialmente.


Nessa noite deitou a boneca com ela, admirou- a mais uma vez e viu que fechava os olhos, fingindo dormir. Nela encontrou um abrigo apaziguador e amigável, que existe na ingenuidade de criança.
Tornou-se na sua principal confidente e irmã mais nova, aquela que nunca teve a sorte ou o azar de conhecer. Partilhava com a sua linda menina, todos os seus medos e emoções. Baptizou-a com o nome de Joana e contava-lhe todas as tristezas e alegrias, chegando ao ponto de lhe pedir conselhos, apesar de ela nada dizer.

Talvez fosse essa a principal razão de a considerar a sua amiga mais íntima e de maior confiança. Justamente porque não existiam sentimentos negativos, mas infelizmente tamm nada de positivo. O que era o menos importante, pois Francisca possuía muitos sentimentos bons que, segundo ela, eram suficientes para as duas.