PUBLICO AQUI OS ULTIMOS EPISODIOS DO MEU LIVRO, O PERFEITO DO IMPERFEITO,
Os dias
cediam lugar ás noites, mas Filipa impedia o desfalecimento do seu lado mais
optimista e batalhador ao tentar preservar-lhe a pouca cor, harmonia e sentido
que ainda restava, ao fazer sempre o necessário.
Continuava
a refugiar-se cada vez que lhe era possível, com as suas lembranças, ao
contemplar as fotografias, algumas das quais, já com uns bons anitos.
Filipa
procurou, sem se aperceber, um retrato com Paulo, na noite em que o conheceu,
ele sorria-lhe e Filipa escondia o rosto por trás da aniversariante, que era
Sofia. Nessa altura ainda mantinha os longos cabelos soltos, mas agora
sentiu-se obrigada a corta-los, talvez por ser mais fácil e mais higiénico.
Esta última tinha emigrado, pouco tempo depois, com a intenção de encontrar uma
vida mais digna. Mas nunca se esquecia de Filipa, mandava-lhe sempre um postal,
seja nas festas, principais, ou no seu aniversário.
Depois
surgiu outra fotografia que era do seu primo Jaime, o qual entretanto tinha
falecido, após ter padecido bastante, motivo pelo qual Filipa continuava a
viver, mentalmente, neste pesadelo contínuo e infernal. Mais algumas fotos
surgiram entre tanto, mas o principal é que ela existiu na altura certa e
inclusivamente trouxe óptimas recordações.
A maioria
dos amigos desses tempos longínquos, já não existiam, ou talvez desistissem
dessa amizade, incomoda para alguns e desnecessária para outros, como aconteceu
com o casal de primos afastados, o tal casal que a acolheu. O pouco que sabe
deles, é que, ele fez algo semelhante a outra adolescente, e entretanto,
separaram-se.
Lembrou-se da última conversa trocada com Francisca, no dia anterior ao
chamamento dela para o hospital, onde ia ser observada meticulosamente para
futuros exames e tratamentos.
Ela
tinha-se oferecido como cobaia, queria por todos os meios conquistar uma
melhoria, algo que travasse este progresso indesejável. -“Não exclusivamente
por mim, mas para que o futuro seja mais ameno para muitos” dizia Francisca
cheia de convicção.
Nesse dia,
Filipa queixava-se mais uma vez, das horríveis dores de cabeça, as quais, a
faziam sentir pessimamente.
- Continuo
com estas dores de cabeça, cada vez mais intensas, às vezes modificam-se para
enxaquecas ou tonturas, quando não é tudo ao mesmo tempo…
Francisca
contemplava-a com uma expressão interrogativa ao memo tempo que desejava por a
amiga bem disposta!
- E tu não
tens dores? Nunca te ouço queixar? Perguntava-lhe Filipa.
-
Raramente… só o normal! - Dizia-lhe Francisca com bastante custo.
- Ainda
bem, já te chega de sacrifício… mas o que é certo é que cada um sofre à sua
maneira, não achas?
Francisca
fez um sinal afirmativo com a cabeça ao mesmo tempo que lhe ofereceu um sorriso
repleto de mágoa.
Presentemente, Francisca encontrava-se no hospital para futuros testes e
diagnósticos, o que deixava Filipa optimista, porque sendo a doença da amiga
parecida à sua, por essa razão, as hipóteses de melhorias eram maiores.
Recorda-se
com saudade, da última parodia, em que as três amigas se reuniram. Francisca
encontrava-se ausente há exactamente oito dias, e as saudades já apertavam.
-Se
ganhasse na lotaria, ia dar a volta ao mundo, num cruzeiro… -Dizia Helena.
- Eu…
fazia todos os possíveis para alcançar uma cura para a minha doença… ou pelo
menos parar com esta evolução. Dizia Francisca.
- Depende
do que saísse, se chegasse para isso tudo, comprava inclusivamente, uma casa
com todas as condições necessárias a uma pessoa de cadeira de rodas… E claro
não podia faltar um bom borracho, bom em todos os sentidos…
- Deixa lá
que se ganhasses uns bons milhões, homens não te faltavam… tinhas escolha… para
todos os gostos… embora eu ache que as aparências enganam.
- Eu
também acho que o que conta é a qualidade e não a quantidade! Dizia Francisca…
- E eu não
sei?! Por vezes, aquele que parece não é, e aquilo que na realidade é não
parece. Mas, não acham que estamos a sonhar alto demais?...
Claro que
era verdade, mas também era certo que era uma enorme ajuda para a coloração das
poucas fantasias.