Meus amigos, aqui deixo mais uma parte do meu livro, ESPERO QUE GOSTEM...
O fim-de-semana
passou-se e o primeiro dia da semana seguinte chegou. Frederica, sem ter tido
mais nenhum sinal do novo vizinho, estava curiosa por saber mais alguma coisa
acerca de Jorge, então dizia-se constantemente:
- Será que
ele desistiu de vir morar para esta rua? Ou será que fui eu quem lhe meteu
medo? - Ela ria-se bastante quando pensava nisso, mas logo de seguida mudava de
ideia e pensava:
- Não…
o mais certo era ele ser casado. Talvez se tivesse chateado com a mulher e
pensado em morar sozinho… Talvez até já tenham feito as pazes… ou será que lhe
teria acontecido alguma coisa de mais grave…? Como uma doença repentina,
talvez…? - A sua curiosidade aumentava cada vez mais, com um misto de
preocupação sincera por alguém, algo que sentira assim apenas duas vezes em
toda a sua vida.
No final da tarde
de terça-feira, depois das horas de maior calor, Frederica resolveu ir a casa
dele, saber se encontrava algum sinal de que aquela pessoa ainda ali existisse.
Riu-se para si mesma, quando pensou nessa possibilidade, mas logo a seguir, o
seu pensamento falou-lhe:
- É claro que existe, que pensamento mais
parvo! Aquela visão tão bonita não surgiria assim… do nada! Ele era bem
verdadeiro, porque me assustou. E para além disso, de nos termos falado, também
lhe toquei e senti que era bem real! Não foi só um sonho, apesar de parecer...
- Pensou ela, rindo enquanto suspirava.
Em primeiro lugar
saiu o portão da sua casa, ou melhor, da casa de sua irmã. Depois, verificou
que a rua se mantinha quase deserta e foi avançando calmamente, apoiada à grade.
Em seguida, olhou para os lados, e, como não viu ninguém por perto, dirigiu-se
cuidadosamente, para evitar cambalear, em direção à casa do outro lado da rua.
Frederica aproximava-se, bem menos confiante,
pois cada vez que se via desamparada, no meio do nada, o grande desequilíbrio
apoderava-se dela. Com atenção e a curiosidade a comandar, ela seguiu em
frente… era como se sentisse o seu corpo no vazio, ou sem apoio. Sentia a falta
de controlo no seu corpo, ela sabia que esse problema estava cada vez mais
presente. Parecia uma árvore sacudida pelas carícias do vento, ou demasiada
fragilizada pelas suas pancadas. Era assim que ela se sentia, aquele castigo
apoderava-se dela muito lentamente, tomando conta de si mesma, o que mais
parecia uma longa e lenta, tortura.
Quando alcançou o
passeio do lado oposto da rua, sentiu-se com mais segurança. Já tinha a
oportunidade de se apoiar, ou apenas de tocar em alguma coisa, como um muro,
uma grade ou, até, um poste. Tudo ficava mais fácil, ela ficava muito mais
confiante, porque sentia o equilíbrio que lhe queria fugir quando se sentia
desamparada. Era uma sensação demasiado esquisita e complicada, mas também
verdadeira, algo que nem ela própria conseguia explicar.
Alguns metros mais
à frente, ela já podia ver a entrada da casa, que era azul clara e não muito
grande. A casa tinha algo que lhe chamava a atenção: era separada por duas
portas paralelas, feitas de vidro escuro. Aproximou-se um pouco mais e outra
coisa lhe despertou novamente a atenção: uma linda roseira branca, que se
encontrava no meio do jardim, junto a um pequeno lago. Tinha rosas grandes, e
sobre elas estava uma linda borboleta, em tons de azul-marinho e que passeava
sobre as suas frágeis pétalas. A terra estava molhada, o que dava a entender
que alguém lá estivera a regá-la.
- Olá! A menina precisa
de ajuda? - Ouviu ela perguntar. Reconheceu aquela voz que pairava sobre o seu
pescoço nu, e igual a uma suave carícia...
- Oh não! - Pensou ela nervosa
e assustada, mas fechando os olhos e dando meia-volta, respirou fundo e
perguntou-lhe:
- Olá, senhor Jorge! Por aqui?
Ela ficou completamente
desamada e perplexa, sem saber o que fazer.
Olharam um para o
outro, surpreendidos, e depois ele sorriu-lhe.
Ela reparou mais
uma vez o quanto ele era atraente com aquela roupa. Trazia o, mesmo, fato que
tinha vestido na primeira vez que reparou nele. Também usava uns óculos
escuros, que lhe davam um ar mais sensual, mas que tirou logo a seguir, talvez
para a ver melhor.
Jorge sorriu-lhe
descaradamente e com o seu lindo olhar verde-claro, que o deixava ainda mais
atraente e apetitoso.
- Isso pergunto eu! -
Afirmou ele, com um ar curioso e sorriso brincalhão...
Frederica ficou
sem reação, a verdade era essa, apesar de tudo, ela é que estava em território
alheio. É um facto que poderia estar apenas de passagem, sem invadir a
propriedade de ninguém. Mas com o seu belo sorriso e bonito olhar, ele
continuou…
- Desculpa, eu sei que a rua é
pública, mas ao ver-te aqui assim, pareceu-me que procurava alguma coisa, ou
estou enganado…? Perguntou-lhe ele.
Numa primeira reação,
ela pensou em mentir, talvez com a intenção de se desculpar. Depois pensou
melhor nos fracassos que a vida lhe trazia, e decidiu contar-lhe a verdade.
- Não, não estás
enganado, procurava alguém sim, mas já encontrei! - Respondeu ela
imediatamente, antes de deixar fugir a coragem. Frederica olhou-o com
sinceridade e coragem e sorriu-lhe abertamente.
- Ah, então
sempre é verdade? Não me digas, será que andavas há minha procura? -
Perguntou-lhe Jorge sorrindo e com ar de gozo. Depois, observou-a com um rosto
muito mais sério e curioso.
Frederica
respondeu-lhe com um único gesto afirmativo de cabeça, olhou-o timidamente, e
lançou-lhe um sorriso sincero.
- E porquê? Posso saber? Não
me digas que fiz alguma coisa de errado sem saber…? - Perguntou-lhe ele
sorrindo, com um olhar provocador.
Frederica
não gostou daquela afirmação e quase se arrependeu da asneira que tinha feito –
a de querer saber se descobria algum sinal daquela pessoa, a quem decidiu
contar a verdade.
Falou sinceramente
com Jorge, contou-lhe a preocupação dela, por não o ter visto mais por ali.
Depois, confessou-lhe o porquê da sua ida a casa, e por fim contou-lhe o quanto
ficara encantada com a entrada da vivenda, principalmente, com a borboleta.
- Mas a borboleta,
apesar de ser linda, não é minha. - Disse-lhe ele, espontaneamente, e com um
sorriso sincero.
- Imagino que não. Disse
ela.
- Desculpa-me pela
brincadeira parva… foi estúpida, mas não foi intencional, acredita! Adorei a
tua sinceridade, sabias?
- Não é vulgar
encontrar a franqueza de alguém! Mas ainda bem que alguém se preocupou comigo e
com esta borboleta. – e prosseguiu dizendo:
- Sabes, acho que a
pessoa que se interessou por mim é parecida com uma borboleta: bonita, frágil e
que irradia encanto! – Disse Jorge, com um olhar sério e um sorriso de
encantamento e brincadeira. Depois continuou:
- Desculpa outra
vez a brincadeira, mas o que estou a dizer é a verdade! Vamos entrar? Porquê
ficar aqui, no meio do passeio… não é lugar para conversarmos, não achas?
No início,
Frederica não disse nada, pois já tinha visto quem queria. Depois ficou
indecisa e por fim, o telemóvel dele tocou. Jorge, depois de o tirar do bolso,
olhou-o e suspirando disse:
- Sim, mamã?
Claro que não me esqueci, vamos jantar sim, não me demoro, até já. Ah, vou só
tomar um banho, rápido, ok? Beijos.
Logo
que Jorge guardou o telemóvel no bolso, olhou para Frederica, com um ar
dececionado e rosto mais sombrio.
- Pronto…
pela terceira vez, peço-te desculpa, mas vai ter que ficar para a próxima.
Prometi que ia jantar com esta mulher que adoro! Sabes que foi onde fiquei,
nestes últimos dias? Disse-lhe ele, mais contente e sorrindo.
Frederica
sentiu-se mais leve ao ouvir aquelas palavras, embora a vida dele não lhe
dissesse respeito. Lançou-lhe um olhar amigável e disse:
- Não tens
que pedir desculpa, mãe é mãe, eu sei o que isso é… fica bem e bom jantar.
- Sim, ok!
Obrigada por tudo, mas já agora… deixa-me acompanhar-te?
Jorge ofereceu-lhe
o braço e ela concordou, acenando a cabeça, num gesto afirmativo. Agarrou-se a
ele e sentindo-se melhor e mais segura, foi avançando. Encheu-se de coragem e
falou-lhe sobre o seu problema de saúde, o que a fez sentir-se mais aliviada.
Confessou-lhe o quanto isso a deixava incomodada e insegura mas principalmente
sobre a sua evolução. Jorge disse-lhe que já tinha notado algo diferente, mas
nada disso impedia o facto de poderem construir uma amizade sincera. Não era
razão para se sentir diminuída, nem desesperada. Pensou também contar-lhe sobre
a péssima novidade, acerca da irmã, mas pensou melhor, e contou-lhe apenas da
gravidez.
- Ah, parabéns tia… -
Disse-lhe ele com um sorriso sincero e olhar ainda mais claro e brilhante,
talvez devido ao calor que se fazia sentir e ao sol que se refletia no seu
rosto.
- Obrigada! - Disse-lhe
ela satisfeita, apoiando-se à porta de entrada.
- Estás entregue! Fica
bem e até à próxima. - Respondeu-lhe ele. Colocou os óculos de sol, sorriu-lhe,
voltou-se e avançou.
- Obrigada e igualmente! -
Sorriu-lhe também e pensou para si: até à próxima meu príncipe encantado!