terça-feira, 1 de agosto de 2017

O PERFEITO DO IMPERFEITO II A outra face


    Faço aqui um apelo, a todos os meus amigos e amigos dos meus amigos. Eu preciso muito de vender livros e assim conseguir o próximo lançamento, pois só com a vossa ajuda conseguirei concretizar.A todos os que estiverem interessados em adquirir um livro com o meu autografo, basta enviar-me a vossa direção, em MI,obrigados.Entretanto fica mais uma parte.


    - Hum… mas que “borracho”, quem será esta vitamina para os olhos? Será o novo vizinho? Não, não pode ser. E se for, de certeza que vem aí mulher… acho que não iam deixar andar por aí sozinho um pão como este! Podiam comê-lo… e depois? - Perguntava-se ela, enquanto sorria para si mesma, e respondia ao continuar com o comentário, em pensamentos.

Ele era alto, cabelo escuro, liso e bem curtinho. O que mais lhe chamou a atenção, para além do olhar lindo e meigo do qual não conseguia determinar a cor devido à distância que os separava, foi a maneira de vestir: um elegante fato e uma gravata azul-escura e camisa azul-clara.
  Depois de o contemplar melhor, por mais alguns breves segundos, dirigiu-lhe um olhar e um sorriso e entrou novamente na casa azul, onde continuou a falar consigo própria.
- Seria para mim aquele lindo sorriso? Não acredito, ele não me conseguia ver dali! Deve pertencer à empresa de mudanças… ou será ele o chefe? E se fosse...? Que maravilha receber assim um belo sorriso do homem de azul, da casa azul. Deve ser alguém que tem algum cargo importante! - Dizia-se ela, suspirando, quando ao mesmo tempo, desviou o olhar e tentou concentrar-se num poema de amor. O seu pensamento continuava a voar… talvez o que acabara de presenciar fosse o impossível…
Depois de fechar o livro, fechou também os olhos e recostou-se por breves minutos, enquanto esperava pela irmã. Quando os voltou a abrir, depois de ter passado pelas brasas, já não ouviu mais nenhum barulho. Olhou para o outro lado da rua, só para satisfazer a curiosidade. Como não viu mais a carrinha, nem nenhuma das pessoas que tinha visto junto à casa, concordou com o que tinha pensado. Talvez fosse alguém de visita, ou mesmo alguém que tinha feito uma pausa no trabalho.
        Então, abriu de novo o livro numa página ao acaso, pois desejava ter a mente ocupada. Quando leu um pequeno texto sobre o engano e a paixão, o seu pensamento disparou na direção de Miguel… e todas as questões se reavivaram na sua memória!
        Será que fazia sentido Miguel sentir-se plenamente confiante, em relação aos sentimentos que despertava? Frederica questionava-se várias vezes, sobre esse facto. Será que era essa a razão de ele se deixar acomodar a esse sentimento? Só podia ser… muito provavelmente estava a aproveitar-se daquela paixão tão pura e agradável.
        Frederica decidiu pô-lo à prova e fez com que sentisse a sua falta. Percebera o interesse que o seu corpo despertava em Miguel e sentia-se bastante humilhada e até usada. Não encontrava a coragem necessária para recusar cada carícia, cada beijo apaixonado e cada palavra romântica.
        Amava a pessoa errada, ela sabia-o, mas não encontrava coragem para resistir ao seu encanto. Frederica gostava de sentir-se desejada e compreendida, mas queria que ele gostasse dala como ela era, não pelo que poderia ser, ou pelo que ele queria que ela fosse.
        As saudades que Frederica sentia de Miguel, eram imensas e entravam com força na memória e no coração. Tinha medo de vir a ser rejeitada por ele, e centrava toda a culpa na sua maldita doença. Vivia atormentada com essa realidade!
       Recorda-se das primeiras vezes que se entregou ao prazer, de corpo e alma. Nas tardes suavemente calmas, em meados de Outono, quando as videiras, quase nuas, refletiam o seu esplendor. Deixava-se levar pelas carícias repletas de doçura e prazer que ele lhe proporcionava e entrava num mundo de sonho. Os seus olhos negros que brilhavam de desejo chamavam-na em silêncio e ela deixava-se levar, para um universo encantador. Nesses primeiros encontros, tudo era maravilhoso e desfrutavam ao máximo dessa pura paixão. No princípio, ambos decidiram guardar segredo de comum acordo, mas depois, com o passar do tempo, sem o sentir com vontade de assumir a relação, sentia-se usada e injustiçada. Tudo era como Miguel queria e quando queria, e isso não era justo.

       Quando Frederica decidiu ir passar uns meses com a sua irmã e o marido, na grande cidade, foi com a esperança de que esse afastamento resultasse em algo positivo. Assim, podia ajudar Júlia nas tarefas caseiras e não só. Ela já se sentia demasiado cansada e tinha a certeza que a distância seria a solução ideal, para eles, pois a saudade era um ótimo remédio, para muitas coisas, principalmente para os sentimentos. Decidiu ficar ali, pelo menos até a criança nascer, e assim juntava o útil ao agradável.
      Miguel não soube cuidar do amor que Frederica lhe oferecia. Precisava de se sentir amada, estava consciente disso e necessitava de algo mais semelhante ao amor que ela lhe oferecia.
       Frederica ia fazer novos conhecimentos e encontrar novas amizades, viver outras aventuras e descobrir outras maneiras de pensar. Ia conhecer outra forma de ver a vida, talvez melhor.
Quando acordou do sonho, dirigiu-se imediatamente para o caminho do abismo, que se vislumbrava cada vez mais complicado. Foi precisamente quando começou a desfrutar da vida que começou o seu pesadelo, o seu tormento que era bem pesado.
        De vez em quando, vinha-lhe à ideia, a hipótese de nunca ter nascido, ou então o de poder morrer de repente. Algo que tornaria tudo muito mais fácil para si própria.
        Mas não tinha coragem suficiente para pôr um ponto final na linha da sua própria vida. Pensava constantemente que se o seu destino era aquele, alguma razão teria de haver para ela se defrontar com uma cruz assim. Sacudiu a cabeça, mandando embora esse pensamento, preferia não pensar em nada, se nada podia fazer.

       Frederica recordava também, com imensas saudades, a sua grande amiga Laura. Pensava nas brincadeiras da sua adolescência, passada lado a lado, quando ainda moravam na aldeia. Lembrou-se de uma vez, quando tinha dez anos, e acabara de completar alguns exercícios dados pela única professora da terra – Teresa. Para além de ser uma professora bastante simpática, bonita e jovem, era também muito amiga, o que não era muito comum naquela época. Sabia manter o respeito, e mostrava ser digna de recebê-lo, apesar de diversas vezes se sentir obrigada a dar algumas reguadas nos alunos mais distraídos ou preguiçosos. Era algo muito comum nesses tempos, pois a régua representava a lei e a ordem e a lei mantinha o respeito.
         Um dia, chegou à escola um novo colega, oriundo de terras Africanas. Um retornado, bonito. Depois de se apresentar, João Manuel, como ele se chamava, escolheu sentar-se na carteira ao lado de Frederica, que se sentiu tímida e nervosa a sua presença. O seu coração saltitou, as pernas tremeram e as cores rosadas a invadiram-lhe o rosto. Foi a primeira vez que se sentiu assim.
        JM, como lhe passaram a chamar, sabia escrever o seu nome e pouco mais. A professora tentava reavivar o pouco adormecido na sua memória, para que pudesse recuperar nos estudos. Ela tinha consciência das dificuldades passadas por aquelas crianças, ausentadas por tempo suficiente para esquecer o então aprendido e para aprender o que queriam esquecer.
         Frederica não queria admitir perante ela própria, o seu interesse por aquela pessoa, a primeira que lhe abrira uma janela desconhecida no seu coração. Quando JM necessitava de alguma ajuda, ela estava sempre disponível e apoiava-o no que mais necessitasse.
        Frederica era uma das crianças mais inteligentes da classe e orgulhava-se desse facto. Muitas vezes sentia a vaidade e o orgulho a apoderarem-se dela e, pouco a pouco, achava-se com a coragem suficiente para atrair a atenção e conquistar o coração do seu querido JM.
        Como recompensa, ela via crescer lentamente o fruto daquela linda paixão, que era secretamente correspondida. A sensação do poder amar e ser amada era ótima, mas a de amar pela primeira vez era ainda maior.
       No recreio, JM gostava muito de jogar futebol com os colegas. Não era o único, mas era apenas ele que chutava a bola propositadamente para junto de Frederica, apenas para sentir o seu olhar contemplar carinhosamente todos os movimentos do seu corpo. Mas aquele amor platónico não durou muito, pois, passados alguns meses, JM teve que se mudar para o Porto, terra de origem de seu pai.


       Nos meses que foram passando, e afastado de Frederica, Miguel sentiu saudades. Afinal, ela era a pessoa que nunca o rejeitava, aquela pessoa que sempre o amara, apoiara e desculpara incondicionalmente. Sentia a falta de alguém que lhe desse a certeza de ser amado e só a encontrava na pessoa de Frederica.
        Miguel entendeu-o, percebeu exatamente o que ela lhe tentara transmitir e arrependeu-se de ter agido friamente com quem não merecia. Percebeu inclusivamente que o amor existe e que por vezes só damos conta dele quando parte. Miguel sentiu que estava a perdê-la e teve saudades da pessoa que nunca o rejeitara e do corpo que estava sempre disposto a acolhê-lo. Queria novamente essa Frederica, aquela que sempre lhe estendia os braços em qualquer circunstância.
         Miguel declarou o seu amor a Frederica pela segunda vez, e disse-lhe o quanto a amava e a desejava de volta. Ela aceitou-o, mas apenas porque desejava que ele sentisse o mesmo que ela a fizera sentir e, principalmente, porque ela já estava resignada àquele abandono do passado, que a marcara bastante. Sabia que a sua doença lhe furtava sempre os momentos de maior beleza, por isso, roubar-lhe-ia assim os seus momentos de maior felicidade.
      Frederica aceitou-o, e disse-lho por mensagem de correio eletrónico. Embora eles se falassem várias vezes ao telefone, ela preferiu escrever, pois conseguia exprimir-se melhor. Disse-lhe que a esperasse, porque iria regressar por uns dias, para estar com a restante família. Mas também lhe disse que não esperaria nada mais, nem dele nem de ninguém. Só queria estar com ele para partilhar alguns momentos de amor e de puro prazer, pois era simplesmente o que a vida lhe reservaria.

       O final da tarde chegou. Frederica levantou-se quando ouviu o motor de um carro bem conhecido, que estacionara ali perto. Era a irmã Júlia que acabara de abrir a porta dianteira, do carro, acompanhada do seu cunhado, que também saíra do carro. Reparou que alguns vestígios de lágrimas marcavam o seu lindo rosto. Depois de trancar a viatura abraçou a amada e entraram em casa.