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CAPÍTULO SEIS
O CERTO E O ERRADO
Nesse fim-de-tarde,
Francisca sentia-se bem mais tranquila, enquanto desfolhava
uma
revista recente, que as suas irmãs lhe tinham trazido no dia
anterior. Gostava de saber as novidades que faziam este mundo girar e o que nele se
passava. De vez em quando,
sem
tirar os olhos da
revista, metia um chocolate na boca, tirado da caixa que continuava em cima da mesinha-de-cabeceira,
e que fora oferecida por Irene.
Nessa altura, o Dr. Rui entrou, depois de bater à
porta do quarto.
- Olá, posso incomodar?
Perguntou ele, com ar
brincalhão e simpático, como de costume.
- Olá Doutor,
sim e não,
respondeu
ela
com
um
sorriso um pouco atrapalhado… - claro que sim, faça o favor de entrar e claro que não, não incomoda nada!
Respondeu-lhe
ela, continuando a sorrir e,
pegando na caixa para lhe oferecer. Tire um chocolate, são muito bons, foi a minha sobrinha que mos trouxe ontem.
- Obrigado, não costumo aceitar, mas sim
aceito, já que são oferecidos por alguém com tanta delicadeza!
- Hum, muito agradecida,
pela parte que me toca e fico muito lisonjeada
também, disse ela e sorrindo e lançando-lhe um olhar sensual.
Depois, poisou a revista que estava a ler na cama ao seu lado.
Ele pegou na caixa que ela lhe estendeu,
e ao mesmo tempo que olhou para eles, escolheu
um entre vários, em forma de um coração, que
levou aos lábios (bastante apetecíveis) e saboreou.
- Pronto, tirei-te o coração, tem um gostinho mesmo
bom,
sabe a noz… explicou
ele,
depois de dar
umas dentadinhas no chocolate e se sentar em cima da cama,
a pouca distância dela e junto de kiko.
- Oh, não, mas que maldade! Nunca pensei
que tivesse a coragem de me comer o coração, não fica triste depois disso? Perguntou
ela num tom meio sério, meio de brincadeira.
- Não fico não, porque
foste tu que mo deste e depois fica dentro de mim, perto do meu, e assim
sei
que está protegido.
- Oh... Mas que simpático ele esta! Soube-lhe
bem,
não soube? Isso é que importa. Riram um
para o outro.
- Sim... muito bem. Vindo de alguém tão
especial, só podia! Deitou-lhe um olhar ardente e ela sentiu-se queimar, ainda que apenas no seu íntimo. Foi como se ele a despisse com esse olhar, charmoso, que a fez sentir tímida e envergonhada.
Francisca
olhou-o com mais atenção, mas
reparou que ele, também a observava. Seus olhos
castanhos tinham um reflexo acinzentado, com um brilho que nunca tinha visto neles, e falaram só com
o olhar, durante uns segundos,
talvez devido ao
facto de estar mais alegre que habitualmente. Teve vontade de tocar aquele rosto, comprido e liso, e
desejou beijar aquela pele bem cuidada
e aquele rosto de queixo quadrado,
cabelo aos caracóis, castanhos- escuros e altura média. Ele tinha uma atração única,
era lindo e extremamente sexy.
Não... não me é sequer permitido ter esses
pensamentos, além disso só podia ser casado e com
filhos, pois é sempre assim, o melhor pão
tem sempre dono, pensava ela.
- Diz-me como te sentes, sei que gostaste
das visitas, eu encontrei-as.
Foi interrompida pela voz mais carinhosa que
conhecera, a da tal pessoa, a que neste
momento, ocupava os seus pensamentos,
mais
românticos e sensuais.
- Sim... gostei muito, já há bastante tempo
que não via os meus sobrinhos, e eles estão tão queridos e
traquinas!
- Ainda bem, eles estão na idade disso, era
pior se fosse o contrário!
- É verdade... mas buscando a coragem continuou:
- Acho que tem filhos, já agora posso saber a
idade deles? Lançou ela cheia de curiosidade
ao perguntar algo mais pessoal.
O Dr. Rui deixou sair uma gargalhada,
quando abanou com a cabeça, e confirmou
o que Francisca
já desconfiava:
- Não, não tenho, nem sequer sou casado e
não tenho pressa nenhuma!
- A verdade é que nunca tinha visto nenhum
tipo de anel, nas suas mãos, mas para ter filhos não
era necessário...
- Desculpe a sinceridade, mas para ter filhos
não precisa casar… Atirou ela com um sorriso, mas ao
mesmo tempo com
algum receio.
- Tens razão, mas talvez seja porque ainda não
encontrei a pessoa certa!
Quando acabou de dizer isso, olhou-a com um ar doce e apaixonado, como Francisca nunca tinha
visto nele. Alguns segundos depois levantou-se e, como
se despertasse
de um sonho, pegou
no
ursinho azul, piscou-lhe o
olho e,
delicadamente, deu-lhe um beijo rápido, e atirou-lho e
disse:
- Bom, abraça-te ao peluche e fica com ele, que eu vou trabalhar, só passei por aqui a ver se
estavas bem, e já vi que sim…
- Abraçava-me a ti, se pudesse… pensou ela nesse instante, sem verbalizar.
-Está bem... Obrigada
pela visita... Agora que
estava a achar a conversa interessante, é que vai embora! Depois, despediu-se com um olhar triste e um sorriso aborrecido.
- Tem que ser, é a vida,
não se tem o que se
quer, e depois tenho que trabalhar
- Pois...
- Pois...
- Obrigado pelo bombom. Era muito bom… respondeu ele com um sorriso encantador.
Respirou fundo, e, assim que ele passou a porta, pensou que ele é que era um ótimo bombom. Aquela tinha sido a primeira vez que eles tinham tido uma conversa mais
íntima
e ficara a saber que ele era livre e desimpedido, mas
devia ter centenas de mulheres, ou mesmo homens,
a candidatarem-se…
como era óbvio... era atraente, lindo e meigo, algo que chamava
a atenção.
- Que vontade
de beijar aqueles
lábios perfeitos pensava ela… mas, ao mesmo tempo, achava-se
uma pateta, pois nunca haveria nada
entre eles. No
entanto, não deixava de ser especial e romântico ao sonhar com essa situação, inaceitável, para a maioria.
Francisca riu-se dos seus pensamentos, ao saber que já não era nenhuma adolescente
para
pensar assim, nem para sonhar com coisas impossíveis.
Nem
que fossem coisas que nunca se
iriam concretizar, esses pensamentos eram como uma lufada de ar fresco, pois chamavam a esperança
e construíam um futuro de sonhos... No fundo era
só isso que ela aguardava. Sabia que estava a ser
injusta consigo própria, mas nunca foi interdito a ninguém sonhar poder sonhar…