domingo, 29 de agosto de 2010

O PERFEITO DO IMPERFEITO 2

AI VAI A CONTINUAÇÃO:

Foi uma noite bastante custosa, agitada e perturbada, parecia não querer terminar nunca, dormia aos poucos e acordava sobressaltada. Simplesmente porque crescia, pouco a pouco, a sombra da última imagem escondida no cantinho da memória, tal como um quadro tornando-se cada vez maior e mais autêntico.

O sorriso da criança prisioneira na sua memória, depois o som do tiro ecoando nos seus ouvidos, fazendo-a mergulhar no inconsciente. Supostos acontecimentos que eram um autêntico pesadelo e teimavam em permanecer.

Tentou mexer-se, mas em vão, as dores impediam seu corpo de fazer qualquer movimento. Helena sabia que continuava lá mas tudo parecia irreal. Era uma lembrança demasiado penosa e maçadora atormentando o seu incómodo descanso.

Eram gritos, eram risos… era sangue… eram sombras, pequenas, grandes… ora fazia escuro ora fazia claro…tudo se misturava… o turbilhão prevalecia.

Até que a aurora entrou pela janela dentro rompendo a noite. Helena sabia que era Outono, pois via as folhas caírem devagarinho, secas e amarelas, da árvore situada no jardim, em frente à única janela do quarto.

Mantinha o corpo dormente, com uma sensação de pavor, demasiado esquisita. A sua memória continuava adormecida, pois tinha medo, muito medo do passo que viria a seguir. Sentia imenso receio do que poderia encontrar ou do que estaria escondido para além da escuridão, esta preenchia o vazio “pesado” da sua mente.

Fez mais um esforço para reavivar a memória, tentava descobrir o que a aguardaria brevemente. Precisava urgentemente saber o que a amedrontava. Fazia-se perguntas a si própria, às quais respondia em pensamento. Ao mesmo tempo olhava em seu redor, na esperança de descobrir alguma pista positiva.

Quem era? Isso sabia. Onde estava? Também sabia. Que fazia naquele sítio? Pressentia algo de grave, pois tinha seringas e estava ligada a máquinas. Como foi lá parar, e há quanto tempo? Não imaginava…

Mas o mais importante era saber o porquê de acordar e permanecer ali? E qual o motivo que derivou toda esta situação? E aquele peluche? O que fazia naquele lugar? Continuava com imensas dúvidas.

Helena sentiu um arrepio, ao puxar e reavivar a última imagem guardada no seu cérebro, “aquela que se recusava acordar”. A maneira simpática como o menino conhecido a “abordou” dizendo-lhe:

- Mãos ao ar, rápido ou disparo! Nisto ouviu a gargalhada cheia de felicidade lançada ao ar pela criança.

Ela sorriu e ao mesmo tempo deu um pequeno passo para se voltar para ele, quando ouviu e “sentiu” exactamente no mesmo instante um disparo… tudo parou… a luz da sua memória apagou-se… sentiu uma dor tão profunda ao ressuscitar aqueles momentos únicos, que estremeceu de medo.

Helena esticou-se na tentativa de conseguir alcançar o peluche azul que estava na sua cama. Quando satisfez a vontade olhou-o bem “como se lhe perguntasse, -que significa a tua presença aqui?”

Sim, ela lembrava-se perfeitamente bem “quando e a quem” tinha oferecido aquela prenda, só não percebia o que fazia ali e agora. Abraçou-o tão fortemente como se quisesse aliviar o pavor que iria sentir, ou buscasse nele a tranquilidade pretendida e a paz interior.

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