segunda-feira, 18 de julho de 2011

O PERFEITO DO IMPERFEITO PARTE 21







   Francisca conheceu Helena, poucos dias depois de ter entrado no lar para pessoas com deficiência. Pouco a pouco a amizade foi crescendo entre elas. Conversavam, desabafavam e riam as duas sobre os variadíssimos interesses que tinham em comum.
    Francisca tinha completado os vinte e oito anos, duas semanas antes de ter entrado para esse lar do qual ela dizia ser o primeiro e último.
   Era uma casa desigual, o seu lar de agora em diante. Era confortável e espaçoso apesar de tudo, ela estava consciente disso …
   Por mais difícil e complicado que fosse, ela já se sentia conformada com a sua triste sina. Francisca via e sentia que infelizmente não era nem sequer “foi” a única tocada pelo trágico destino. As deficiências eram diversas, desde doenças acidentais a doenças hereditárias, desde doenças físicas a doenças mentais, havia de tudo um pouco… e foi ali que escolheu viver, até um dia… ou para sempre não sabia só sabe que foi pura opção.
   Francisca por vezes comparava as diferenças existentes neles. Perguntava-se o que seria melhor e mais justo! Se entrar neste mundo já com uma triste enfermidade aliada sem provar outros sabores? Ou começar a saborear e sentir o fracasso a preencher o ser humano completa e lentamente? Ou então de um momento para o outro ver o pesadelo a invadi-la totalmente? O que ela realmente percebeu foi que: todos iguais, mas todos diferentes!
    Se alguns estavam conscientes do que eram… e principalmente que seriam úteis porque ainda continuavam vivos, pelo menos mentalmente… outros nem por isso, sabiam que viviam e pouco mais… enquanto uns estavam impossibilitados de andar, mas mantinham a mente perfeita, outros eram exactamente o oposto.
   Francisca dizia-se que Deus dividiu um ser em duas vidas distintas. Em vez de construir uma pessoa perfeita “porque não existe ninguém perfeito” dividiu-o em dois… a um deu a saúde física e ao outro a saúde mental… e assim se mentalizava ela… o que não deixava de ter a sua lógica por mais diferentes que fossem… eram iguais, pelo menos na questão “humanitária”.
   Mas também tinha a certeza absoluta de encontrar-se ali por algum motivo. Porque só Deus sabe aquilo que faz, por vezes o conteúdo é indesejável, mas para tudo existe uma razão válida, basta deixarmos a confiança, ou melhor a fé, habitar em nós e guiar-nos… embora, em certas ocasiões, Francisca sentia-se perdidamente frustrada ficando revoltada com Deus, por Ele permitir que a injustiça se instalasse na vida de quem menos merece.

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