quinta-feira, 27 de outubro de 2011

O PERFEITO DO IMPERFEITO parte 25

 AQUI DEIXO MAIS UMA PARTE DO LIVRO QUE ESCREVI, TIRADO DA REALIDADE, DE PESSOAS DEFICIENTES MOTORAS,TALVEZ POR SER DEMASIADO DURO É QUE AINDA NAO FOI PUBLICADO.

   Foi na grande cidade que Filipa viveu, dos catorze aos dezoito anos. No meio de tanta gente e ao mesmo tempo imensamente só. Aproveitou a oportunidade de viver, dos catorze aos dezoito anos, numa casa fria e vazia de humanismo. Continuou os estudos, consciente de que seria um grande desperdício se não o fizesse. Pois era considerada uma das alunas mais inteligentes da turma, senão de escola.
   Ela ansiava pela idade de ser independente, e com a ajuda de um casal de primos bastante afastados, a Margarida e o Zé Pedro, recomeçou nova vida noutras paragens. Deus sabe o que faz, ou o que ignora, assim se dizia Filipa, pois era um casal saudável e sem filhos.
   Aos quinze anos, no dia seis de Junho, na tarde do seu aniversário, ficou admirada quando ao sair da escola se deparou com Zé Pedro.
   Sem nunca ter tido a possibilidade nem a oportunidade de celebrar o dia de anos, ficou contentíssima quando o ouviu dizer:
   -Hoje é o teu dia de sorte, e eu vou-te levar a um lugar muito bonito, mas não digas a ninguém, fica em segredo, unicamente nosso, está bem? - Disse-lhe ele com um ar sorridente.
   Aproveitou a companhia, e sentiu-se privilegiada por ser um homem mais velho, fazendo-se valorizar perante as amigas, e deixando-as pensar no que quisessem, pois quase todas elas tinham namorado julgando-se mais importantes por isso.
   Ninguém o conhecia e ela também não o apresentou, nem fazia intenção nenhuma, sentindo-se vaidosa e convencida, por ter o privilégio de sair com um homem bonito, elegante e apresentável, mas também “proibido”, sendo ele quem era.
   Levou-a para comemorar a um parque que ela ainda não conhecia, com flores de todas as cores e qualidades. No meio existia um lago com patinhos, e ao lado havia uma sala de convívio que também servia de café. Foi um fim de tarde agradável e diferente daqueles a que estava acostumada.
   Depois de saborear um pouco de “vinho doce”, (quem não está acostumado, o pouquinho faz a diferença) sentiu-se bastante “alegre”, mais que o normal.
   Regressaram aos seus lugares no carro e dirigiram-se para casa, onde ele lhe pediu sigilo mais uma vez.
   - Não digas nada à Margarida. Hei-de trazer-te cá mais vezes, está bem? - Disse-lhe ele depois de estacionar, ao dar-lhe um beijo na testa.
   Ela concordou timidamente, e ficou contente por ter tido uma oportunidade fora do comum. Mas sentiu-se admirada ao mesmo tempo, pois não estava habituada a esses costumes tão nobres.
   Conhecia bem Margarida, não era má pessoa, mas era bastante gananciosa e prepotente, por isso compreendia-o perfeitamente.
   Ao entrarem em casa, depararam-se com um cheirinho a comida bem agradável vindo da cozinha, onde ela preparava “ um petisco” para o jantar, com um pouco de vinho a acompanhar.
   Filipa completou então os seus quinze anos muito bem disposta, se calhar até demais. Nessa noite, para seu espanto recebeu um beijo nos lábios… o seu primeiro beijo… algo para recordar… não fosse ele do marido da pessoa que a abrigou… A culpa foi da bebida, e esse momento “a sós” ofereceu-lhe a oportunidade…, dizia-lhe a voz do seu pensamento.
   Alguns dias após esse acontecimento, estando Filipa pronta para dormir, no seu lugar de sempre, um pequeno divã na sala, o único espaço que lhe “pertencia” (sem na verdade lhe pertencer), viu surgir da escuridão a mesma pessoa, Zé Pedro.

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