quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

O PERFEITO DO IMPERFEITO parte 27

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   Filipa estava nos trinta anos, uma bonita idade como sempre pensou, o que sempre pensou também é que era com essa idade que deixaria esta vida, talvez porque ouvia falar repetidamente, que no ano dois mil acabava o mundo!
   Mas feliz ou infelizmente ainda continuava ali, no sítio que escolheu para viver, na casa onde se refugiou com os seus problemas. Era uma casa de acolhimento onde vivia muita gente com as mais diversas deficiências, ali as pessoas com quem mais se relacionava eram a Francisca e a Helena. Que involuntariamente carregavam a azeda e pesada fatia do destino.
   Sem dizer a ninguém, excepto Sofia, com quem se contactava e de vez em quando era visitada, viu-se confrontada com algo inesperado, totalmente imprevisto… e desconhecido… Sem saber como nem porquê, repentinamente sentiu atracção…
   Era uma experiência nova, um sentimento que, embora conhecido, era novíssimo para Filipa. Até parecia que estava apaixonada pela primeira vez, o que não deixava de ser verdade… pois ela amava pela primeira vez… alguém diferente.
   Uma mulher despertava algo nela… sem ela própria saber o quê? Não podia ser possível, como ela mexia com os seus sentimentos? Subitamente aconteceu com ela, e ainda por cima agora? Na altura em que Filipa pensava que o desejo já não existia? Na altura em que cansou de esperar deixando “o seu lado romântico” adormecer serenamente para sempre.
   Será que pela primeira vez, Filipa pretendia despertar e atrair o interesse dessa pessoa? Será que pela primeira vez o desejo pelo mesmo sexo nasceu nela? O sentimento adormecido brotava de novo no seu íntimo? E Filipa sentia-se alegre, uma completa adolescente, timidamente nervosa e felicíssima…
   Filipa saboreava esse despertar… diferente embora igual… idêntico embora distinto… e demasiadamente semelhante… com uma ligeira diferença… talvez mais suave… talvez mais meigo e mais carinhoso…
   Ela queria não abrigar este pensamento, recusava-se a ter esta intenção, mas ao mesmo tempo desejava essa vontade. Ansiava por esta nova experiência crescente na obscuridade. Inclusivamente sentia medo, um enorme receio apoderava-se dela.
    Ela sabia simplesmente que estava a sustentar uma loucura, uma novidade repleta de doçura, meiguice e encantamento mas também interdita… inteiramente proibida…
    Filipa despertava este sentimento pela primeira vez. O que por um lado ela recusava aceitar, por outro queria saborear… o gosto proibido… o que teimava em querer mostrar-se, em sair do anonimato.
    Era um sentimento diferente, lindo e puro, que até agora estava completamente adormecido, sendo desconhecido por Filipa era também involuntariamente desejado pelo seu íntimo… E perguntava-se se realmente era isso que pretendia?... E o seu “ eu ” respondia-lhe que sim… ela desejava e precisava. Amar como uma adolescente, amar como a primeira vez… Mas principalmente amar de coração… amar de corpo e alma.
   O poder do desejo ainda habitava nela, e recusava-se ir embora enquanto ainda permanecesse algum resto de existência predominando seus actos.
   Ela considerava-se no direito de ainda conquistar alguns momentos felizes, alguns momentos que segundo a maioria eram proibidos, só porque seu corpo recusava fazer a vontade ao pensamento.
   Será que por ter uma deficiência motora podem impedir a felicidade de ocupar um lugar no coração? Não será injusto obrigarem-na a pensar não ter o direito à felicidade?
   O que desperta o verdadeiro sentimento, não é a perfeição de uma mente sã e de um coração sadio!... Não é isso que activa o interesse?
   Filipa prevalecia na injustiça da dúvida… pois tinha medo, muito medo só de pensar que poderia estragar uma grande amizade… em não fazer absolutamente nada, por tudo isso a indecisão reinava…   

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