sexta-feira, 16 de novembro de 2012

O PERFEITO DO IMPERFEITO 1ª PARTE


Aqui publico o meu livro que foi alterado, para melhor, deixo-vos apreciar...


            CAPITULO UM

 

           Uma jovem chamada Helena


    Despertando da longa viagem, o corpo que até agora estava calmo e inconscientemente indefeso, pouco a pouco regressou ao mundo, inconstante, dos vivos. Retomou a realidade que a raptou por uns tempos indefinidos e voltou à certeza, que a rejeitou, para um presente “imperfeito”. Mas principalmente à vida serena, que a tinha esperado em todos os instantes e momentos incertos. Fazendo despertar e florescer nela, toda a beleza e encanto, resplandecendo em cada minuto e em cada segundo, os quais eram simplesmente passados despercebidos, e onde a sua ingenuidade e juventude foi conservada. Mas agora eram resgatados, inteiramente.
   O corpo mantinha-se anestesiado, Helena tentou mexer-se e tudo permanecia intacto, só a mente começava a despertar. O lado físico continuava dormente e tudo ao seu redor era silêncio. Só ouvia repetidamente, envolvido na calmaria, o som da máquina que permanecia ao seu lado e fazia baixinho bip… bip... bip…
   Tentou abrir os olhos, lentamente, mas eles teimavam em fechar-se, o motivo era a claridade que calmamente se fazia notar. Helena continuava com dores, sem saber de onde provinham, exactamente.
   Sentia-se completamente perdida, sem vontade sequer para pensar, como se acordasse de uma embriaguez, igual à que provou em criança quando quis saborear o gosto proibido. Depois de abrir os olhos, com bastante custo, olhou ao seu redor e viu que se encontrava num lugar desconhecido, completamente alheio ao seu raciocínio. Com as paredes recentemente pintadas de branco e a cama ao lado que estava vazia, só com uma colcha a cobrir o colchão, parecia igualmente novo.
   O seu corpo permanecia imóvel e delicado, pesado e leve em simultâneo. Como se acabasse de acordar de uma ressaca, de uma tareia ou talvez de um desmaio! Helena continuava desorientada e perdida. Principalmente sem saber onde estava, nem qual o motivo de lá permanecer.

   Como se tivesse dormido uma eternidade, e deixado tudo para fazer à ultima hora. Despertava agora de um, intenso, sono e sem perder mais tempo tentou pôr as ideias em ordem. Exactamente como se encontrasse a casa numa completa desarrumação após uma ausência longínqua, sem saber por onde começar, pois tudo se acumulava na sua cabeça.
   Ora se amontoavam os diversos pensamentos, ora não encontrava nenhum, quer as ideias eram repletas de felicidade quer ficavam vazias e transparentes. Tudo se confundia, dentro de si e à sua volta, parecendo um total remoinho, precisava de pensar mas ao mesmo tempo não queria, pois nem descobria forças para tal.
   Passado uns minutos, sem saber ao certo quantos, apareceu uma moça vestida de branco, talvez alertada pelo som da máquina, à qual ela estava ligada. Abriu a porta e entrou, parecia apressada ou seria apenas imaginação dela? Tentou abrir os olhos e fixos nela, pouco a pouco, eles habituaram-se à pouca intensidade da luz finalizando o dia.

   - Olá… como se sentes? estás bem disposta?
   Perguntou a moça de branco, bem perto dela, lançando-lhe um lindo sorriso carinhoso e cheio de simpatia, onde Helena pode apreciar seus dentes brancos, os quais, sobressaíam por entre os lábios vermelhos e carnudos.
  Aproximou-se das máquinas que estavam em seu redor para as observar melhor e desligar a que já não era necessário.  
   Helena esforçou-se para conseguir responder-lhe: como é que achas que me sinto, bem? Mas limitou-se a pensar, pois o som não queria sair.
   Olhou admirada para a moça de branco, com uma expressão interrogativa, enquanto ela desviava o olhar para o relógio. Já era final de tarde pois o tempo começava a escurecer. Ainda se diferenciava bem, o lindo ramo de flores, que se destacava em cima do pequeno e único móvel, que permanecia no quarto. A moça olhou novamente para ela e sorriu outra vez. Helena sentia-se a naufragar no vazio incompleto, sem força nem disposição para nada, nem para perguntar o que a afligia tanto.
   - Onde estou eu? Que faço aqui? Quem é a senhora? - Conseguiu ela pronunciar com algum esforço.
   - Calma, estás em boas mãos, não te preocupes, não vale a pena entrares no desassossego, vamos começar do princípio, sim? Respondeu ela com outra pergunta. Então o ar de simpatia e carinho que lançou a Helena fê-la sentir-se mais tranquila, por fim pegou-lhe na mão fria e respondeu dizendo:
   -Chamo-me Elsa e sou enfermeira, como deves ter percebido estás no hospital, a recuperar de um acidente que sofreste há dias … acabando de dizer isto calou-se instantaneamente.
   O sorriso que a moça de branco lhe transmitia ficou de repente mais triste e sombrio. Então acariciou-lhe, de novo, a mão agora mais quente e enviou-lhe um olhar, como se necessitasse de lhe transmitir algo. Helena sentiu uma tremura na voz e, dentro da sua cabeça só ouvia repetidamente estas palavras: há dias, há dias… há quantos? Perguntava-se ela.
   De repente, sem ter tempo de falar mais, entra um bonito homem de bata branca, cabelo encaracolado preto e com o ar de bom humor, acendeu a luz do tecto provocando-lhe um impacto à visão, mas também onde ela pode apreciar o quanto ele era atraente, e disse:
   - Viva!… até que enfim que acordaste, venho eu aqui todos os dias à tua cabeceira, e tu nada! Isso não se faz! Diz ele com um sorriso.
   Reconhecia aquela voz, sim, parecia vinda do fundo de um sonho distante e vago, era aquela mesma voz que ouvia tantas vezes ao longe, e ao mesmo tempo tão perto. Era a voz mais meiga e carinhosa que ouvira até agora. Brincava com ela, fazia-lhe perguntas, até lhe contava anedotas. Ela tentava responder, mas em vão, pois qualquer resposta ou pensamento adormecia antes de chegar à meta. Helena esforçava-se por lançá-los pela boca, mas de nada valia, eles morriam antes de chegarem ao destino, seus lábios já não obedeciam aos seus sentidos. Então ouvia como se fosse um eco, vindo sem saber de onde, talvez do fundo do nada, só ouvia esse eco que preenchia a solidão do vazio onde ela mergulhara.
   Helena sem conseguir responder, ficava na dúvida se essa pessoa era verdadeira, ou se era apenas um sonho, querendo-o projectar para a realidade.   
   Agora sabia que realmente existia e ofereceu-lhe um belo sorriso repleto de gratidão e carinho. A única coisa que realmente lhe pertencia. Algo que era só e unicamente seu, sabia poder partilhar com quem quisesse, principalmente com essa pessoa, esse alguém que a renovou.
   - Que faço aqui e onde estou? O que se passou e desde quando estou aqui? Perguntou ela outra vez! O desassossego começava a fazer-se notar dentro de si.
   - Calma. Respondeu-lhe ele, direccionando-lhe um lindo olhar e sorriso, carinhosos e inquietos.
    Então, ela olhou para as máquinas, depois para a enfermeira e viu o seu ar amargurado, depois outra vez para o homem de branco e esperou pela resposta.
   Ele expressou um ar mais sério e nessa troca de olhares repentinos, entre ele e Elsa, brilhou algo que transmitiu um sinal. Então perguntou à enfermeira se já lhe tinha molhado os lábios, ao que ela respondeu com um sinal negativo de cabeça.
   - Queres beber um pouco de água? Perguntou-lhe ele com amabilidade, Helena acenou-lhe que sim, pois sentia a garganta ressequida, talvez depois ficasse mais descontraída e mais forte.
   Então ele colocou umas gotas de um líquido amarelo, do frasco que a enfermeira lhe estendeu. Pegando-lhe na cabeça, levantou-a um pouquinho com delicadeza, e levou-lhe o copo com água à boca. Helena olhou para o recipiente, desconfiada e receosa pois parecia conter água suja, água acastanhada e ouviu ele dizer-lhe…
   - Não te preocupes que este líquido é apenas vitaminas para melhorares, nem te esforces por falar mais, por agora chega. Descansa hoje que amanhã falamos e farás as perguntas que quiseres, está bem? Dizendo estas palavras virou-se na direção da porta e saiu.
    Helena bebeu um gole e acenou com a cabeça, tinha um sabor esquisito, misturando o doce e o amargo. Mas soube optimamente bem sentir um líquido a escorregar de novo pela garganta, quando viu, aos pés da cama, sentado, o bem conhecido ursinho de peluche. 
   Depois de saborear o líquido, fechou os olhos e ouviu os passos da enfermeira a sair, cedeu à tentação de dormir outra vez, de entrar novamente num mundo alugado pela realidade e desafiando o destino, deixou-se levar.

 
continua...

Sem comentários: