segunda-feira, 4 de maio de 2015

O PERFEITO DO IMPERFEITO

Aqui deixo mais uma parte do meu livro, aqui fica tambem o link para quem estiver interessado
https://www.chiadoeditora.com/livraria/o-perfeito-do-imperfeito



Por muito que recusasse aceitar este desgosto, ou acreditar nesta decepção, Francisca sabia quem tinha razão. Paulina conhecia bem os homens e sabia o significado do egoísmo à sua maneira. Por muito magoada que estivesse e lhe custasse acreditar, feliz ou infelizmente assim aconteceu...
Era por essa razão, que faltava a certos compromissos, sem motivo aparente… andava menos carinhoso e mais descomprometido. Cada vez que Francisca lhe tocava no assunto, ou lhe perguntava se havia algum problema, ele respondia que não, que estava tudo bem, que o mau humor
estava de passagem, a culpa era do stress mas seria esse, o motivo?...
João tentou telefonar-lhe, depois disso, por duas ou três vezes. Mas como ela se recusou a


atender, ele escreveu-lhe uma mensagem onde dizia: Fala comigo, deixa-me explicar, pois lamento muito o que aconteceu. Francisca ficou imóvel sem saber o que dizer nem fazer, mas logo fez questão em responder o dizer: igualmente. Foi unicamente essa palavra, que conseguiu escrever-lhe, nada mais. Depois disso, nunca mais se falaram, pois o que viu valia mais que mil palavras…


Alguns dias apos esta tradia, Francisca ficou com a certeza, da sua gravidez. Algo que já desconfiava, pela ausência da menstruação, mas tamm dos repetitivos enjoos. Quando soube, parecia que o mundo lhe caía em cima, sentia-se dividida e injustiçada pela vida. Pois desejava muito ter uma criança sim queria tanto conceber um filho, mesmo sozinha, mas não agora, não sem as mínimas condições. Viveu com a indecio, durante alguns dias. Recusou-se a dar conhecimento a quem de direito, sem ter mais nenhum direito sobre a vida de Francisca. Deixou assim os sentimentos negativos falarem mais alto.
Francisca o queria imaginar sequer que João pensasse que foi um acto propositado só para o prender… Não desejava nada involuntário nem obrigado. Então, sentindo-se confusa e de cabeça quente, decidiu fazer o que muitas mulheres tinham feito. Uma interrupção voluntária da gravidez.
Achou-se com a coragem suficiente, para desistir de tudo o que lhe rememorasse o amor perdido, algo que não seria nada fácil, mas teria que se esforçar para que isso fosse possível. Aquele
grande amor, o primeiro, o que a ilusão ditava ser o único até ao fim da sua vida. Sim foi cremado juntamente com a primeira desilusão e os primeiros golpes na pureza da sua alma. Lá, onde nasciam


as coisas mais puras e belas, que desejavam florescer e habitar permanentemente no seu corão e na sua memória. Mas a ferida recusava-se a cicatrizar, de tão profunda que fora… A afeição, o respeito e a amizade nunca mais seriam iguais, tudo à sua volta se desmoronava.
Francisca fez um enorme esforço para virar a página do livro da sua vida, pois esquecer seria impossível. Uma coisa ela sabia: essas decepções fazem-nos chegar à conclusão de que cada episódio imprevisto serve unicamente para nos ensinar, aprender a viver nos tornarmos pessoas melhores. Cada página virada, por mais pesada que seja, obriga-nos a caminhar para uma vida mais sã e equilibrada. Se daí tirarmos o máximo proveito, de cada curva do nosso caminho, encontramos a certeza de que todos os passos do nosso trajeto serão sempre válidos. Talvez as páginas, na maioria das vezes, sejam indeseveis,  ou  talvez,  cada  uma mais difícil do que a outra, mais triste ou mais feliz, mas assim é a  vida,  simplesmente   a   vida,   co episódios diferentes e ginas únicas.


Após essas tragédias, todos os valores sentimentais, que Francisca tentava manter puros, nunca mais foram os mesmos. A dupla traição sujava todos os atos imaginados… e não só. Tal e qual como a paz e a generosidade que ainda pudessem florescer consigo própria. Sim, porque a partir desses instantes, a consideração, o carinho e o amor simplesmente evaporavam. Por mais que quisesse ultrapassar esse capítulo era impossível, pois tinha ficado muito magoada, até no seu amor- próprio. Era algo como um espinho, que


ficaria encravado eternamente e impedia que os melhores sentimentos florescessem.
Francisca sabia que esse era um dos principais motivos pelos quais preferia fazer amizades com o sexo oposto. Percebia que entre  as mulheres havia sempre uma pontinha de inveja a espreitar. A rivalidade entre o sexo feminino, geralmente, transforma-se num ciúme deveras traiçoeiro. E assim nasciam a raiva e o egoísmo. Mas o segredo consiste em nunca nos deixarmos naufragar na fortaleza dessas ondas que, por vezes, nos trazem o sabor amargo do desgosto. Estava consciente, de que nada acontece em o, pois o segredo da vida consiste exactamente nisso: nunca desistir dos nossos sonhos.


CAPíTULO QUATRO ESCOLHA ACERTADA


Francisca desejava ansiosamente regressar à vida que deixou parada, mas o seu corpo negava-se a ceder. Seria difícil, mas teria que se resignar com o sucedido, teria que fazer os posveis, para que a sua vida fosse mais amena. Sim Porque a solução morava exclusivamente no seu íntimo. Já que era impossível lutar contra esse azar, pelo menos lutaria com ele. Tentaria aliviar o seu peso, ao sentir-se capaz de juntar, plantar e cultivar as forças positivas e assim superar, mais uma vez, a injustiça.
Estava ela mergulhada nestes pensamentos, quando, ao cair na realidade, uma lágrima rolou dos seus olhos e se deparou com o ursinho azul. Depois de o pegar nos seus braços, olhou-o e disse-lhe em pensamento: - tu me acompanharás sempre!
Tinha de conseguir sair dali, pelo próprio pé, não lhe era permitido, desistir desta etapa. Onde a  força humana é verdadeiramente testada. Uma aprendizagem que mostra, justamente, que a vida é constituída por bons e maus momentos.
Não desejava viver infinitamente com o inimigo, ou algo indesevel. O principal problema reside no saber aceitar. De nada adianta a revolta ou a fraqueza, pois só prejudica e dá liberdade à dor. Por tudo isso, era injusto deixar-se desfalecer.


Passados dois dias, dessa tragédia, Francisca recebeu a visita tão desejada das irmãs Alberta, Alexandra, maridos e filhos, entre os seis e os dois anos de idade, com um casal de gémeos pelo meio.



Disponibilizaram-se a estar presente logo que lhes foi possível, mesmo vivendo a uns bons quilómetros de distância. Mas isso nunca foi impedimento, de prestarem auxílio à sua irmã mais nova...
Viu com prazer o seu quarto ser invadido pelos sobrinhos que gostou imenso de rever. Apesar das saudades começarem a nascerem, não queria que a vissem nessas condições.
- Por que está deitada tia? Já é dia! Perguntou-
lhe Irene, a  sua sobrinha mais velha e  filha de
Alberta, com um sorriso bem alegre e divertido.
- Eu sei, minha bonequinha, mas a tia magoou-se nas pernas e precisa de esperar que isto fique melhor, para poder ir brincar contigo outra vez. Por causa disso é que vieste cá ver-me, não foi? Respondeu com vontade de rir...
- Ah, pois foi…
- Oh tia… e vai demorar muito até ficares boa? Eu também quero brincar contigo! Dizia Tiago, o único irmão de Irene.
- Oh! Meus amores, a tia ainda não sabe quantos dias vai ter que ficar aqui, mas prometo que assim que estiver melhor, vou logo ter convosco, meus queridos. Disse Francisca emocionada e rindo com a restante família.
- Pronto, esta bem, nós esperamos por ti, não vais demorar muito, pois não? Perguntaram eles com ar desanimado
- Espero bem que não! Também já estou farta de estar aqui à espera nem sei de quê! Se calhar de nada... Respondeu ela, pensativa e esperando ver um sorriso nos rostos deles.
Conversaram bastante sobre diversas coisas. As rias descobertas e brincadeiras dos sobrinhos, era um assunto que ela não queria perder.
Ficou com muitas caixas de chocolates, as quais  fez  questão  de  repartir,  pelas  enfermeiras amigas e por mais algumas amizades, feitas naquele hospital. Um ramo de lindas rosas amarelas e outro de flores campestres, enfeitavam o quarto. Recebera também, dos sobrinhos, um frasco de perfume com um agravel aroma.


Tinha sido extremamente agradável para ela receber aquelas visitas que lhe trouxeram a alegria que tinha perdido.

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