Aqui deixo mais uma parte do meu livro, aqui fica tambem o link para quem estiver interessado
Por muito que recusasse aceitar este desgosto,
ou acreditar nesta decepção, Francisca
sabia quem
tinha razão. Paulina conhecia bem os
homens e
sabia o significado do egoísmo
à sua maneira. Por
muito magoada que estivesse
e lhe custasse acreditar, feliz ou infelizmente assim aconteceu...
Era por essa razão, que faltava a certos
compromissos, sem motivo aparente… andava
menos carinhoso e
mais descomprometido. Cada
vez que Francisca
lhe tocava no assunto, ou lhe
perguntava se havia algum problema, ele respondia que não, que estava tudo bem, que o mau humor
estava só de passagem, a culpa era do stress… mas seria só esse, o motivo?...
João tentou telefonar-lhe,
depois disso, por
duas ou três vezes. Mas como ela se recusou a
atender, ele escreveu-lhe
uma
mensagem onde dizia: Fala comigo, deixa-me explicar, pois lamento muito o que aconteceu. Francisca ficou imóvel sem
saber o que dizer nem fazer, mas logo fez questão
em
responder o dizer: igualmente.
Foi
unicamente essa palavra, que conseguiu escrever-lhe,
nada mais. Depois disso, nunca mais se falaram, pois o
que viu valia mais que mil palavras…
Alguns dias apos esta tragédia,
Francisca ficou com a certeza, da sua gravidez. Algo que já
desconfiava, pela ausência da menstruação, mas também dos repetitivos
enjoos. Quando soube, parecia que o mundo lhe caía em cima, sentia-se dividida e injustiçada pela vida. Pois desejava muito
ter
uma criança sim… queria tanto conceber um
filho, mesmo sozinha,
mas não agora, não sem as
mínimas condições. Viveu com a indecisão, durante alguns dias.
Recusou-se
a dar conhecimento a quem
de direito, sem ter mais nenhum direito
sobre a vida de Francisca.
Deixou assim os sentimentos negativos falarem mais alto.
Francisca não queria imaginar
sequer que João pensasse que foi um acto propositado só para o prender… Não desejava nada involuntário
nem
obrigado. Então, sentindo-se confusa
e de cabeça quente, decidiu fazer o que
muitas mulheres já tinham feito. Uma
interrupção voluntária da gravidez.
Achou-se com a coragem
suficiente, para desistir de tudo o que lhe rememorasse o amor
perdido, algo que não seria nada fácil, mas teria que se esforçar para que isso fosse possível.
Aquele
grande amor, o primeiro, o que a ilusão ditava ser o único até ao fim da sua vida. Sim… foi cremado
juntamente com a primeira desilusão e os primeiros golpes na pureza da sua alma. Lá, onde nasciam
as coisas mais puras e belas, que desejavam florescer
e habitar permanentemente no seu coração e na
sua
memória. Mas a ferida recusava-se a cicatrizar, de tão profunda que fora… A afeição, o
respeito e a amizade nunca mais seriam iguais, tudo à sua volta se desmoronava.
Francisca fez um enorme esforço para virar
a página do livro da sua vida, pois
esquecer seria impossível.
Uma
coisa ela sabia: essas decepções fazem-nos chegar à conclusão de
que cada episódio imprevisto serve unicamente para nos ensinar, aprender a
viver nos tornarmos pessoas melhores. Cada página virada, por mais pesada que seja, obriga-nos a caminhar para uma
vida mais sã e equilibrada.
Se daí tirarmos o máximo proveito,
de cada curva do nosso caminho, encontramos a certeza de que todos os passos
do
nosso trajeto serão sempre válidos.
Talvez as páginas, na maioria das
vezes, sejam indesejáveis,
ou talvez, cada
uma mais difícil
do que a outra, mais triste ou mais feliz, mas assim é a
vida, simplesmente
a vida, com episódios diferentes e páginas únicas.
Após essas tragédias,
todos os valores
sentimentais,
que Francisca tentava manter puros,
nunca mais foram
os mesmos. A dupla traição sujava todos os atos imaginados… e não só. Tal e
qual como a paz e a generosidade
que
ainda pudessem
florescer consigo
própria. Sim, porque a partir desses instantes, a consideração,
o carinho e o amor simplesmente evaporavam.
Por mais que quisesse ultrapassar
esse
capítulo era impossível, pois tinha ficado muito magoada, até no seu amor-
próprio. Era algo como um espinho, que
ficaria
encravado eternamente
e impedia
que os melhores
sentimentos florescessem.
Francisca sabia que esse era um dos principais motivos
pelos quais preferia fazer amizades
com o
sexo oposto. Percebia que entre as mulheres
havia sempre uma pontinha de inveja a espreitar. A
rivalidade entre o sexo feminino, geralmente, transforma-se num ciúme deveras traiçoeiro. E assim nasciam
a raiva e o egoísmo. Mas o segredo consiste em nunca nos deixarmos naufragar na fortaleza
dessas ondas que, por vezes, nos trazem o sabor
amargo do desgosto. Estava consciente, de que nada acontece em vão, pois o segredo da vida consiste exactamente nisso:
nunca desistir dos nossos sonhos.
CAPíTULO QUATRO
ESCOLHA
ACERTADA
Francisca desejava ansiosamente
regressar à
vida que deixou parada, mas o seu corpo negava-se a ceder. Seria difícil, mas teria que se resignar com
o sucedido, teria que fazer os possíveis,
para
que a sua vida fosse mais amena. Sim… Porque a solução morava exclusivamente no seu íntimo. Já que era impossível
lutar contra esse azar,
pelo menos lutaria com ele. Tentaria aliviar o seu peso, ao sentir-se capaz de juntar, plantar e cultivar as
forças positivas
e assim superar, mais uma vez, a
injustiça.
Estava ela mergulhada nestes pensamentos, quando, ao cair na realidade,
uma
lágrima rolou dos seus olhos
e se deparou com o ursinho azul. Depois de o pegar nos seus braços, olhou-o e disse-lhe em pensamento: - tu me acompanharás sempre!
Tinha de conseguir sair dali, pelo próprio pé,
não lhe era permitido, desistir desta etapa. Onde a
força humana é verdadeiramente testada. Uma aprendizagem
que mostra, justamente, que a vida é constituída por bons e maus momentos.
Não desejava viver infinitamente
com o
inimigo, ou algo indesejável. O principal problema reside no saber
aceitar. De nada adianta
a revolta ou a
fraqueza, pois só prejudica e dá liberdade à
dor. Por tudo isso, era injusto deixar-se desfalecer.
Passados dois dias, dessa tragédia, Francisca
recebeu a visita tão desejada das irmãs Alberta, Alexandra, maridos e filhos, entre os seis e os dois
anos de idade, com um casal de gémeos
pelo meio.
Disponibilizaram-se a
estar presente logo que lhes
foi possível, mesmo vivendo a uns bons quilómetros
de distância. Mas isso nunca foi impedimento,
de prestarem auxílio à sua irmã mais nova...
Viu com prazer o seu quarto ser invadido
pelos sobrinhos que gostou imenso de rever. Apesar
das saudades começarem a nascerem, não queria
que a vissem nessas condições.
- Por que está deitada tia? Já é dia! Perguntou-
lhe Irene, a
sua sobrinha mais velha e filha de
Alberta, com um sorriso bem alegre e divertido.
- Eu sei, minha bonequinha, mas a tia magoou-se
nas
pernas e precisa de esperar que isto fique melhor, para
poder ir brincar contigo outra vez. Por causa
disso é que vieste cá ver-me, não foi? Respondeu com vontade de rir...
- Ah, pois foi…
- Oh tia… e vai demorar muito até ficares boa? Eu também
quero brincar contigo! Dizia Tiago, o
único irmão de Irene.
- Oh! Meus amores, a tia ainda não sabe quantos dias vai ter que ficar aqui, mas prometo
que assim que estiver melhor, vou logo ter convosco, meus queridos. Disse Francisca emocionada e rindo com a restante família.
- Pronto, esta bem, nós esperamos por ti, não vais
demorar muito, pois não? Perguntaram eles
com ar desanimado…
- Espero bem que não! Também já estou farta
de estar aqui à espera nem sei de quê! Se calhar
de nada... Respondeu ela, pensativa e esperando ver
um sorriso nos rostos deles.
Conversaram bastante sobre diversas coisas. As várias descobertas
e brincadeiras
dos
sobrinhos, era um assunto que ela não queria perder.
Ficou com
muitas caixas de chocolates,
as quais fez questão
de
repartir,
pelas enfermeiras amigas e por mais algumas amizades, feitas naquele hospital. Um ramo de lindas rosas amarelas
e outro
de flores campestres,
enfeitavam o quarto. Recebera
também, dos sobrinhos, um frasco de perfume com um agradável
aroma.
Tinha sido extremamente agradável para ela receber aquelas visitas que lhe trouxeram a alegria que tinha perdido.
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