quarta-feira, 16 de novembro de 2016

Deixo aqui mais um capítulo do meu livro O PERFEITO DO IMPERFEITO..


  Depois de estar ausente durante alguns meses, por motivos familiares, estou de regresso... com mais poemas. Para já, aqui deixo mais um pouco do meu livro.


Cativou com doçura e carinho a ateão, repleta de simplicidade e doçura, de uma velhinha com oitenta e  poucos  anos.  Chamava-se Joaquina  e tinha adquirido, involuntariamente, uma doença de nome: Alzheimer.
Sempre que via dirigia-se, imediatamente, ao seu encontro. Só para lhe dar um abraço e um beijinho, cheios de ternura e simpatia, como se de uma criança se tratasse. Embora fosse isso o que muitas vezes parecesse. Foi infelizmente, o primeiro e último lar ou residência que conheceu, pois a sua patologia já estava bastante adiantada, agravando-se cada vez mais com o passar dos dias.
Esquecia-se constantemente das coisas mais simples. Quem era, onde estava ou se tinha família… coisas que para ela tinham um enorme significado e um grande valor moral. Tinha família, duas  filhas,  embora  o  marido   tivesse  partido desta vida, muitas vezes recordava-se dele! Tinha netos que vinham visitá-la, mas raramente, apenas quando caia nas malhas da lucidez.
Francisca era considerada por ela como sendo sua neta e sentia-se feliz com tal facto. Conseguira assim ter a avó que não chegou a conhecer, por isso lhe dedicou este poema:


Minha avó emprestada


Tuas  palavras  ditas  ao  acaso!
Cheias de ternura e por vezes tão banais,
em frases tão insignificantes,
mas que fazem a alegria
sobrepor- se à tristeza!
Teus gestos tão simples,
carregados de dura
fazem renascer a bondade,
tantas vezes perdida
ou deixada escondida!
Teus beijos e abraços carinhosos
fazem-me lembrar a avó que,
infelizmente,
não conheci,
mas tantas vezes imaginei!
Tua pele enrugada
pelas ondas do tempo,
mostra ainda  a  sabedoria
que  te resta dos tempos longínquos!
O teu sofrimento acabou,
deixaste esta vida
mas  não  deixarás  os nossos corações       
nem o nosso pensamento!
Simplesmente
porque nós não deixamos,
minha avó emprestada!

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