Frederica e Miguel, após ficarem sozinhos, olharam-se e sorriram,
mais descontraidamente, invadidos de paixão e carinho. Frederica quebrou o
silêncio e disse:
- Vamos ver quem encontra o próximo cacho de uvas…
- Sou eu, claro! - Disse Miguel, rindo-se para as videiras,
do outro lado.
- Querias! - Disse-lhe Frederica, retribuindo-lhe o sorriso e, ao
mesmo tempo, olhando também para o mesmo lado onde espreitava um belo cacho.
Frederica, quando acelerou o passo para ser a primeira a
alcançá-lo… tropeçou na terra seca e quase caiu nos braços de Miguel.
Abraçados e a olharem-se tão próximos, a paixão começou a
incendiá-los e deixaram-na seguir. Os seus lábios aproximarem-se e beijarem-se,
suavemente.
- Como adoro esse teu sabor! - Murmurou ele, sentando-se com ela
no chão, em cima de algumas folhas, quase secas, mas continuando a explorar-lhe
a boca.
- Oh claro, este sabor doce, o sabor a uvas, não é? Pois tenho
comido bastantes! - Respondeu ela com um ar bem brincalhão.
- Pois sim, esse também é bom, mas prefiro de uma outra maneira! -
Comentou Miguel ao retribuir-lhe o sorriso.
Esticando o braço, ele apanhou dois apetitosos bagos de uva de um
cacho que estava mesmo ao seu lado. Pousou-lhe um nos lábios e trincou o outro,
dizendo:
- Prefiro assim, isto faz uma mistura ótima, ora prova, não
queres? - Perguntou ele, sem lhe dar a oportunidade de responder. Apenas a de aceitar
os seus lábios molhados, sua boca, e depois a sua língua, enquanto a sua mão
lhe acariciava a pele nua da cocha.
Frederica sentia-se maravilhosamente bem nesses instantes
apaixonados… eram momentos que ficariam para toda a vida, pela inocência que e
doçura de que se revestiam.
Frederica sentiu a mão dele a acariciá-la lentamente e deixava-a
seguir o seu caminho pela anca acima ate aos seios já rijos pelo seu toque. Ao
mesmo tempo deliciava-se com as carícias e o contacto do seu corpo todo. O
delicioso gosto do prazer provocava-lhe arrepios que ela já não conseguia
descrever. Frederica encantava-se com a sensação dos seus corpos seminus
tateando um no outro… E queriam mais…
- Oh, desejo-te tanto! - Sussurrava Miguel, entre beijos e
deitando-se sobre ela.
Frederica tentou responder, mas só os gemidos se ouviam, pois seus
corpos falavam em silêncio. Só o desejo e o prazer cresciam, pouco a pouco,
nesse espaço. Miguel deixava esses sentimentos invadi-los.
O sol já estava a desaparecer, a terra a ficar gelada e húmida.
Frederica, depois de abotoar a blusa de xadrez, olhou para o relógio que trazia
no pulso e disse:
- Já...? Como o tempo voa quando estamos bem! Tenho que ir, faz-se
tarde e a minha mãe já deve estar preocupada.
- Sim, eu também vou! - Disse Miguel ao levantar-se e compondo as
calças.
A seguir esticou-lhe a mão para a ajudar a levantar-se e ela
aproveitou para o abraçar pela cintura e lhe sussurrar ao ouvido:
- Foram momentos maravilhosos e únicos, só nossos, que recordarei
para sempre, amo-te!
- Eu também te amo, hoje deste-te a mim pela primeira vez e
adorei… Sentiste dor?
- Um pouco, mas é normal… foi a primeira vez! Depois sentimos a
recompensa. - Respondeu ela, sorrindo e serrando-lhe ainda mais a cintura!
- Ah, assim gosto
mais! Foi a primeira vez, mas muitas mais virão ainda. - Disse ele,
retribuindo-lhe o sorriso e beijando-a, novamente.
Caminharam muito abraçados enquanto dividiram promessas de amor
eterno, como era típico daquelas idades. Quando chegaram perto da casa dela, ela
afastou-se e disse-lhe:
- Bom, até amanhã então, eu vou primeiro, pode ser? Só para não
desconfiarem!
Miguel olhou-a com um sorriso apaixonado e acenou-lhe com a
cabeça.
- Até amanhã! - Respondeu ele, muito baixo e mandando-lhe um beijo
silencioso.
Foram dias de puro romantismo, pois cada vez que se encontravam a
sós, a paixão e o amor estavam presentes e era lindo. Podiam explorar os seus
corpos e assim aperfeiçoarem o amor que os unia.
Mas Miguel, quando estava acompanhado, agia de forma diferente.
Não lhe ligava e fazia como se não a conhecesse, sem lhe dar muita importância.
Essa atitude magoava-a bastante e deixava-a triste. Fazia pensar ainda mais no
seu problema de saúde, desencadeando-lhe sentimentos pessimistas e deixando-a
mais insegura e fracassada.
Frederica julgara que ele notara o seu problema de saúde… só
podia ser isso, pois o seu desequilíbrio intimidava-a cada vez mais.
Quando completou os dezoito anos, foi uma vez mais surpreendida
pela mesma traição, apesar da expectativa de que Miguel assumisse ou desse a
conhecer o namoro perante os restantes familiares. Frederica enganou-se na
espera de mais um momento magicamente feliz, mas apenas imaginado por ela.
Miguel encontrava sempre desculpas esfarrapadas e sem sentido. Mas
Frederica desculpava-o, pois estava apaixonada, de uma tal forma que essa
paixão a impedia de ter outros pensamentos ou sentimentos.
- Seria mesmo essa a razão? Só porque sentia vergonha dela? Não
seria o amor, o principal? Ou porque estava receoso de assumir tal compromisso?
- Interrogava-se Frederica, sempre com a mesma dúvida. Claro… só podia ser essa
a razão, embora ele gostasse dela, não era o suficiente para o assumir perante
os outros. Por vezes, Frederica acreditava que ainda eram jovens e teriam muito
tempo para aprenderem a amar. Mas outras vezes sentia contrário: pensava que a
justificação se encontrava no seu problema de saúde, refletido no seu andar. Se
fosse essa a razão, ela sentia-se muito injustiçada perante a vida, o destino
ou mesmo o amor.
Frederica pressentia esse
amor, ou talvez sentisse que seria ela quem nutria o amor suficiente para os
dois. Mas não queria acreditar nessa realidade. Confusa, já não sabia o que
pensar. Então, interrogava-se a si própria. Embora receosa, e com bastante medo,
algo que nunca a largava, Frederica convencia-se a esperar com paciência, pois
a altura certa havia de chegar.
- Se para tudo há um tempo, por que não esperar? Talvez antes de
completar os dezanove anos, dizia-se ela…
Mas, nem aos vinte!...
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