terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

O PERFEITO DO IMPERFEITO 17ª PARTE

AQUI PUBLICO MAIS UMA PARTE DO MEU LIVRO



   Aos vinte e dois anos, depois da trágica morte da mãe, vítima de uma paragem cardíaca, Francisca sentia-se piorar com o passar do tempo. Qualquer pessoa já constatava que “algo” não estava normal no seu modo de andar. Por tudo isso decidiu aceitar a ajuda da irmã Júlia e do seu marido, viver permanentemente com eles. Ajudava no que podia e era ajudada no que precisasse.
   Não se podia era permitir ficar à espera do que não vem, de continuar na vida sem a viver. Francisca não tinha dores, não via nenhuma alteração no seu aspecto físico, mas sentia-se cada vez mais frágil e apavorada.
   Sempre que precisava de se deslocar, tinha de ser amparada por alguém ou amparar-se nalguma coisa ao seu redor que lhe restituísse um pouco do equilíbrio perdido. Cambaleava cada vez mais, parecia uma frágil árvore, balouçada pelo vento invisível.
   Lentamente, e em várias situações sentia-se desequilibrar-se. Sempre que o seu corpo lhe exigia o equilíbrio necessário, por mais insignificantes que fossem as tarefas solicitadas.
   Sentia-se pouco a pouco mais desamparada, mais frágil e impotente, cada vez mais aterrorizada, sabia que a sua vida iria piorar progressivamente e ela pouco ou nada podia fazer, a não ser mentalizar-se com esta ideia pavorosa e amaldiçoada.

   Francisca tinha necessidade de descobrir qualquer coisa. Precisava de travar esta “praga”, que progressivamente tomava conta do seu corpo e de tudo nela. Ansiava urgentemente encontrar uma solução.
    Depois de ouvir vários elogios, com respeito a diversos curandeiros, sentiu-se desejosa e com grande necessidade de experimentar o que muitos recusavam. Estava ansiosa de encontrar uma resolução para o seu problema. Já se encontrava no fim da linha, no limite da esperança, queria tentar o impossível, pois não tinha nada a perder, antes pelo contrário, estava sempre esperançosa por alguma novidade, alguma solução viável ou alguma realidade adequada às suas capacidades.
   E foi então que aceitou a boa vontade e actual ajuda de sua irmã Elisa, prestes a casar. Pois também ela se encontrava triste e impotente, por ver a grande decepção de Francisca, dado à estranheza desta incógnita doença.
    Alguns meses depois de Júlia dar à luz um lindo casal de gémeos, a Joana e a Julieta, decidiram explorar novas formas de cura e ao mesmo tempo diferentes moldes de vida.
   Desde bruxarias a terapias naturais, Francisca fez de tudo um pouco. Passou pelas mãos de alguns curandeiros que utilizaram magias recorrendo a terra, velas ou ervas, justamente para tentar conquistar alguma solução que ainda fosse possível. Por vezes sentia um certo receio, este transformava-se em pânico quando entrava nalgum lugar sombrio e tenebroso menos natural.
   Porque embora não acreditasse muito, respeitava e sabia que cada pessoa possuía o seu próprio dom, por vezes enganosa ou aproveitando-se da situação. No fundo o principal motivo por ela pretendido era recuperar a sua saúde ou pelo menos travar um pouco a evolução da doença, impedir que o que perdera não se alongasse ou deixaria fugir, pouco a pouco o que lhe restava sem nada poder fazer para minimizar.
   Fez de tudo um pouco, sempre na expectativa de obter algum resultado positivo, mas de nada adiantou a sua persistência, a sua inteira disponibilidade e o seu completo empenho. Nada travou o galope desta doença totalmente desconhecida.
   Francisca tentou tirar ou alcançar algum proveito, mas fracassou em tudo, em tudo viu uma decepção completa, e sentia-se cada vez mais afundada no incompleto vazio da sua vida!
   Por tudo o que não viveu, mas principalmente pelo que pretendia e desejava ainda viver, recusava-se a entregar o inseguro destino à realidade inconstante.

   Aos vinte e quatro anos, altura em que Francisca sentiu o peso da obrigação de tomar conta de si própria, viu-se sem escolha possível e começou a conformar-se com esta tragédia. Ou melhor sentiu-se forçada a aceitar, pois nunca se pode escolher o que nos está destinado.
   Foi-lhe diagnosticada uma doença genética (depois de ter passado por vários hospitais e feito muitíssimos exames) algo que afectava somente a disfunção principal, aquela que comandava o equilíbrio.
    Um futuro demasiado incerto e violento esperava por ela e uma única verdade a aguardava, a de atrair cada vez mais limitações.

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