domingo, 27 de maio de 2012

O PERFEITO DO IMPERFEITO parte 25


AQUI DEIXO MAIS UMA PARTE DO MEU LIVRO


   Paulo continuou a escrever-lhe várias vezes, pelo menos uma carta por semana, pedindo-lhe ajuda silenciosamente. À qual Filipa não encontrou coragem para ignorar o “bem amado” apesar de tudo. Pois sabia que era a única pessoa que lhe dava força emocional, a força física já não existia, nem para si própria.
   Pediu-lhe muito que fosse visitá-lo à prisão, pedido esse que foi rejeitado por ela, pois para além de não ter condições, afastava a hipótese de se reconciliarem.
   Os meses passavam e as cartas de Paulo chegavam e amontoavam-se cada vez mais. Paulo fazia-lhe confidências, pedia-lhe conselhos e desabafava com ela. Contava-lhe as horas que preenchiam o seu dia a dia, nessa casa prisioneira da verdade.
   Chegou-lhe a contar que se meteu numa briga por tentar defender um jovem delinquente acabado de entrar, onde foi parar ao hospital, com duas facadas... pois queriam abusar dele sexualmente… fez de Paulo o seu refúgio, mas ele não se achou incomodado, conhecia bem demais até, o perigo que habitava ali, sendo esse um dos pratos do dia juntamente com a sida.
   Partilhava com ela também o tráfico de droga existentes nas prisões, o qual ele dizia que não fazia parte, mas Filipa ficava na dúvida, pois a confiança que tinha para com ele já se tinha evaporado, o medo do destino derrubou-o.
   As cartas de amor, que Paulo escreveu a Filipa com poemas dedicado à mesma, poemas atormentados, desabafos bárbaros e pensamentos torturantes, eram o constante recheio desses dias intermináveis.
   -O meu maior sonho é termos a nossa casa, eu o meu emprego, uma vida amor, é esse o meu grande sonho, construir uma vida despir-me de mim, de quem fui, e vestir a minha verdadeira pele… Lá estou eu outra vez a aborrecer-te, não é?
   -Perguntava-me ele sem eu querer responder, mas no fundo só desejava por isso.



                 A ti


  Nunca te esquecerei
  És senhora do meu coração
  Para sempre te amarei…
  A ti dona do meu coração

  No dia em que o sol morrer
  No dia em que deixar de brilhar!
  Então amor será nesse dia
  Que eu deixarei de te amar!




   Passados três anos, depois de sair, cumpriu o prometido, sim, foi visitá-la e jurou-lhe mais uma vez o que ela já sabia, que a principal intenção era recomeçar vida nova e limpa junto dela.
   Quanto a Filipa evitava falar sobre o assunto, pois não o queria desencorajar, antes pelo contrário, encorajava-o sempre a seguir em frente com o seu objectivo, só afastava qualquer hipótese de sustentar ilusões, só ansiava por saber e verificar quem tinha razão.
   Foi um mês depois que ela recebeu a noticia, pela única irmã dele e mais nova, ela era conhecedora do romance existente.
   - Tenho uma triste notícia – Dizia ela ao telefone.
   - Podes dizer, eu já estou pronta para tudo!
   Dizia Filipa, atenta à resposta do outro lado.
   - O Paulo faleceu, há três semanas mais ao menos, não encontrei coragem de te comunicar mais cedo…
   Filipa ao ouvir essa confirmação ficou abismada e muda sem sequer conseguir pensar. O silêncio mantinha-se… até que ouviu do outro lado:
   - Continuas aí?...
   - Sim…, -respondeu ela – Como é que ele morreu e onde? – Perguntou Filipa.
   -Com uma over-dose em casa de um amigo…
   A decepção tomou conta dela e só arranjou forças para agradecer…
    Pousou o telefone e deixou sair as lágrimas que inundavam seus olhos.
   Filipa sentia seu coração despedaçar-se, a última expectativa morreu com ele, então perguntava-lhe como se ele a ouvisse.
   - Porquê Paulo, porque partiste e me deixaste aqui e assim? Levaste contigo o resto da minha esperança… o que te fez vacilar? Foi a falta de coragem que assumiu o controlo? Ou foi o puro sentimento de fraqueza? Ou foste exclusivamente egoísta, buscando o caminho mais fácil? Fosse qual fosse a verdade, também sentiu uma pontinha de alívio, pois o constante pavor sustentado pela sua presença tinha-se evaporado completamente deixando o lugar ao medo da ausência.

          A nave dos loucos!


 Vagueio na grande nave espacial
           Em que tudo se dá…
 Há gingões atrevidos, tatuados e enlouquecidos
  Palhaços revoltados, cobardes e vencidos
   Destemidos e traidores…
           Dignos e adormecidos… Zumbies!
   Vagueiam por um corredor
  Sem destino e sem Norte
 Vagueiam nos corredores da morte…

 Há risos e sorrisos, palavras e gestos
  Desnorte, ódio e esperança
   Há de tudo um pouco…
             Na grande nave dos loucos…

  No seu longo vaguear, acolhe os filhos…
   Que o ventre do sociedade faz abortar…
    Da tortura à solidão, do desprezo à humilhação…
     Tudo se vende neste longo viajar!

     O guarda no desdém miserando
   Com a porta batendo, torturando
  Aqueles…
   Que ao fim da viagem, tentam chegar
    Mas jamais serão, como nele entrarão…

  O desprezo faz desprezar…
   A violência violentar
  O silêncio gritar…
   E a revolta revoltar

  Bem vindos ao mundo dos revoltados
  Mal vindos todos à nave dos loucos.

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