Um dia juntei todas as palavras que já aprendera e busquei para elas novos sentidos, novas maneiras de soar e de voar ate ao coraçao dos homens.
Censuram-me por te-lo feito e houve ate quem me dissesse:
“as palavras são o que são e procurar para elas novos significados é pura perda de tempo e ofensa aos deuses”.
Eu não lhes dei ouvidos e continuei a escrever, aprendendo o sabor do casar a palavra agua com a palavra vento e a palavra corpo com a palavra terra
E a palavra homem com a palavra sonho e a palavra natureza com a palavra vida.
Foi assim, um pouco sem o querer, um pouco sem o esperar, que usei pela primeira vez a palavra “poesia.”
Que viaja comigo, companheira eterna, para todos os lugares onde vou, desde a memoria do homem até aos últimos esconderijos da noite, ate ao fundo da claridade dos dias.
Poema de José Jorge Letria. No voo de uma palavra.
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