terça-feira, 11 de setembro de 2012

O PERFEITO DO IMPERFEITO

PUBLICO AQUI OS ULTIMOS EPISODIOS DO MEU LIVRO, O PERFEITO DO IMPERFEITO, 

   Os dias cediam lugar ás noites, mas Filipa impedia o desfalecimento do seu lado mais optimista e batalhador ao tentar preservar-lhe a pouca cor, harmonia e sentido que ainda restava, ao fazer sempre o necessário.

   Continuava a refugiar-se cada vez que lhe era possível, com as suas lembranças, ao contemplar as fotografias, algumas das quais, já com uns bons anitos.

   Filipa procurou, sem se aperceber, um retrato com Paulo, na noite em que o conheceu, ele sorria-lhe e Filipa escondia o rosto por trás da aniversariante, que era Sofia. Nessa altura ainda mantinha os longos cabelos soltos, mas agora sentiu-se obrigada a corta-los, talvez por ser mais fácil e mais higiénico. Esta última tinha emigrado, pouco tempo depois, com a intenção de encontrar uma vida mais digna. Mas nunca se esquecia de Filipa, mandava-lhe sempre um postal, seja nas festas, principais, ou no seu aniversário.

   Depois surgiu outra fotografia que era do seu primo Jaime, o qual entretanto tinha falecido, após ter padecido bastante, motivo pelo qual Filipa continuava a viver, mentalmente, neste pesadelo contínuo e infernal. Mais algumas fotos surgiram entre tanto, mas o principal é que ela existiu na altura certa e inclusivamente trouxe óptimas recordações.

   A maioria dos amigos desses tempos longínquos, já não existiam, ou talvez desistissem dessa amizade, incomoda para alguns e desnecessária para outros, como aconteceu com o casal de primos afastados, o tal casal que a acolheu. O pouco que sabe deles, é que, ele fez algo semelhante a outra adolescente, e entretanto, separaram-se.

    Lembrou-se da última conversa trocada com Francisca, no dia anterior ao chamamento dela para o hospital, onde ia ser observada meticulosamente para futuros exames e tratamentos. 

   Ela tinha-se oferecido como cobaia, queria por todos os meios conquistar uma melhoria, algo que travasse este progresso indesejável. -“Não exclusivamente por mim, mas para que o futuro seja mais ameno para muitos” dizia Francisca cheia de convicção.

   Nesse dia, Filipa queixava-se mais uma vez, das horríveis dores de cabeça, as quais, a faziam sentir pessimamente.

  - Continuo com estas dores de cabeça, cada vez mais intensas, às vezes modificam-se para enxaquecas ou tonturas, quando não é tudo ao mesmo tempo…

   Francisca contemplava-a com uma expressão interrogativa ao memo tempo que desejava por a amiga bem disposta!

   - E tu não tens dores? Nunca te ouço queixar? Perguntava-lhe Filipa.

   - Raramente… só o normal! - Dizia-lhe Francisca com bastante custo.

   - Ainda bem, já te chega de sacrifício… mas o que é certo é que cada um sofre à sua maneira, não achas?

   Francisca fez um sinal afirmativo com a cabeça ao mesmo tempo que lhe ofereceu um sorriso repleto de mágoa.

   Presentemente, Francisca encontrava-se no hospital para futuros testes e diagnósticos, o que deixava Filipa optimista, porque sendo a doença da amiga parecida à sua, por essa razão, as hipóteses de melhorias eram maiores.

   Recorda-se com saudade, da última parodia, em que as três amigas se reuniram. Francisca encontrava-se ausente há exactamente oito dias, e as saudades já apertavam.

   -Se ganhasse na lotaria, ia dar a volta ao mundo, num cruzeiro… -Dizia Helena.

   - Eu… fazia todos os possíveis para alcançar uma cura para a minha doença… ou pelo menos parar com esta evolução. Dizia Francisca. 

   - Depende do que saísse, se chegasse para isso tudo, comprava inclusivamente, uma casa com todas as condições necessárias a uma pessoa de cadeira de rodas… E claro não podia faltar um bom borracho, bom em todos os sentidos…

   - Deixa lá que se ganhasses uns bons milhões, homens não te faltavam… tinhas escolha… para todos os gostos… embora eu ache que as aparências enganam.

   - Eu também acho que o que conta é a qualidade e não a quantidade! Dizia Francisca…

   - E eu não sei?! Por vezes, aquele que parece não é, e aquilo que na realidade é não parece. Mas, não acham que estamos a sonhar alto demais?...

   Claro que era verdade, mas também era certo que era uma enorme ajuda para a coloração das poucas fantasias.
 

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