domingo, 11 de outubro de 2015

O PERFEITO DO IMPERFEITO

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CAPÍTULO SETE IMPACTO PROFUNDO




Estávamos no ano de mil-novecentos e noventa e três, numa quinta-feira, no dia quatro de fevereiro. Era uma tarde fria, embora ensolarada. Francisca, acompanhada pelos seus familiares, entrou pela primeira vez na enorme vivenda lindamente situada. Fora da civilização, e ao de dois montes, que se apresentavam cobertos de erva fresca, onde animais pastavam alegremente. Assim que entrou os grandes portões verdes reparou em como era enorme aquele espaço. Apreciava os pássaros que brincavam e cantarolavam ao apanharem banhos de sol, no relvado. Era um lindo e espaçoso jardim, bem cuidado,  onde  nasciam  os  rios  tipos  de flores, pois estávamos justamente na época do seu florescimento. Enquanto os jarros e lírios branquinhos mostravam a fragilidade nas talas maravilhosas, os malmequeres, as roseiras e as hortênsias mostravam os seus filhotes. Alguns já permaneciam em botões querendo espreitar para fora e assim acordarem com o calor dos primeiros, raios de sol. A relva também se mostrava bem aparada, algo que aparentava exigir um certo cuidado.
Logo que entrou os portões, viu um rapaz de aspeto esquisito,  baixo e  gorducho,  que  os observava e se dirigiu a eles assim que estacionaram.
Cumprimentou-os   todos   com   u forte abraço e um agradável sorrisoComo se os conhecesse já uma eternidade e fossem


íntimos. Mostrou-se bem-educado e amável fazendo-os sentir bem-vindos a sua casa.
- Olá, olá, está boa? Disse ele bastante sorridente e cumprimentando-os a todos, às mulheres com um beijo e um abraço, aos homens com um aperto de mão.. deixava transparecer muito bem a felicidade à flor da pele. Tudo isto e unicamente por serem pessoas desconhecidas, pessoas alheias… ele queria fazer mais amizades e diferentes das que estava habituado a conviver e, que conhecia bem demais
Só mais tarde, é  que  Francisca  ficou  a conhecer a realidade. O rapaz, com pouco cabelo e já quase branco era, simplesmente, uma criança no corpo de um homem que possuía uma doença denominada mongolismo. Era a primeira vez que Francisca ouvia e via uma pessoa assim, mas não seria a única com certeza.


Depois de entrarem na enorme vivenda, a pessoa responsável pelo acolhimento de Francisca convidou-os a conhecer o principal da casa. O conteúdo não era nada agravel aos olhos de quem o contemplava pela primeira vez. Esse facto era obrigatoriamente aceitável, embora indesejável, pensava ela.
Francisca vinha conhecer a sua futura casa, onde (in) felizmente permaneceria, nas próximas temporadas, ou talvez para sempre. Sim, porque foi opção dela, unicamente dela, e estava consciente da sua escolha. Conheceu e ficou a habitá-la, no mesmo dia. Porque Francisca vinha preparada para a sua estadia prolongada. Quanto ao seu primeiro impacto foi bastante doloroso, pois ela tinha bem presente, o pesadíssimo fardo que a aguardava, quanto ao outro fardo… esse estava


hospedado em toda a sua intimidade. Sabia o principal aquela casa seria a dela e por um tempo indefinido. Tempo esse que era bem dispensado por ela, mas também, com toda a certeza, pelas pessoas que ali permaneciam...
Sentiu-se bem acolhida pela maioria dos utentes que aí residiam, pois eles também ficaram radiantes por acolherem uma nova spede, alguém novo para conhecer e dividir  experiências. Era nova em todos os sentidos da palavra! Aquele seria assim mais um dia vivido naquele lugar, naquela casa tão desigual, um dia diferente de todos os outros, mas, no fundo, tão igual a tantos outros que se seguiriam.
Depois  de  Francisca  se  despedir  dos  entes mais queridos, ficou a olhar o vazio, numa casa enorme e no meio de tanta gente, mas ao mesmo
tempo tão sozinha. Tinha a cabeça cheia de dúvidas e pensamentos. Olhava e sorria com algum receio para as poucas ajudantes de lar, as que ficaria entretanto a conhecer melhor.
Depois de arrumar, com alguma ajuda, as suas coisas e roupas no pequeno armário, que apesar de ser pequeno, era suficiente para quem possuía o necessário, colocou o  ursinho azul em  cima  da
Cama. Aquele urso ocupava  um  grande  lugar  no  seu coração. Deixou-se empurrar, na cadeira de rodas, para conhecer o resto da casa. A pessoa que a acompanhava era uma residente, que se prontificara imediatamente em mostrar-lhe o que faltava. Depressa a amizade nasceu entre elas.
Teresa, como ela se chamava, desabafava com Francisca sobre os azares e alegrias da vida e queixava-se, tamm, das poucas vezes que as primas, a sua única família, a visitavam. Teresa tinha uma ligeira deficiência mental e física… era essa a razão da sua presença ali. Conversava bem,


embora não soubesse manter uma conversa de pé e coerente por muito tempo. Infelizmente, a maioria dos residentes era assim, cada um com as suas limitações. Cada caso continha a sua diferença, embora parecida, no fundo, cada pessoa permanecia ali, por alguma razão

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