segunda-feira, 31 de agosto de 2015

O PERFEITO DO IMPERFEITO


Deixo aqui exposto mais uma parte do meu livro...
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https://www.chiadoeditora.com/livraria/o-perfeito-do-imperfeito
Dez dias mais tarde, Francisca despediu-se dos poucos amigos que cativou no hospital. Alguns deles insistiram em trocarem direções com ela, com a esperança de conseguirem algo mais... embora ela não estivesse interessada a esse nível, a amizade nunca se nega a ninguém. A única pessoa que lhe tocou os sentimentos mais íntimos, do coração, foi a pessoa que a cuidou o melhor possível, fisicamente. Ficou deveras admirada quando ele insistiu em dar-lhe o seu contacto ao dizer:
- Desejo muito que tenhas sorte, e, quando decidires ao certo onde vais ficar, envia-me a direção, pode ser que te faça uma surpresa, um dia... Disse-lhe ele com um belo sorriso, quando se despediu e lhe depositou dois beijos na face. Sim,
ela adorou esse gesto e,  por alguns segundos, deliciou-se  com o seu cheiro.


Os meses passaram normalmente, mas o desejo de Francisca era que eles passassem o mais depressa posvel. Unicamente por se achar naquela vida demasiado destruída, mesmo estando na casa de familiares, junto dos entes mais queridos. Ela sentia-se um peso e não pretendia que tudo isto se prolongasse por mais tempo. Ambicionava ser feliz, simplesmente isso. Quando brincava com os sobrinhos, as brincadeiras eram contagiosas e a alegria prolongava-se. Francisca, não queria pensar em nada pior, nada de péssimo nem azarento.  desejava o melhor. Fazia por se esquecer do infortúnio que lhe bateu à porta, sim porque os risos e as gargalhadas dos sobrinhos contagiavam- na, e assim tentava alcançar a felicidade, ou o que ainda restava dela…
O Natal chegou, para mais uma vez fazer as delícias das crianças. Para Francisca era o primeiro, e desejava que fosse o último naquele estado. Foram apenas as crianças as presenteadas por ela, com coisas úteis que ela fez questão de oferecer. Mas apesar de tudo foi uma noite agradável, divertida e especialíssima...
Embora ela estivesse consciente de que a cadeira de rodas fosse uma parte necessária e útil para ela, para as crianças não passava de mais um, novo, brinquedo. Sim... ela ria-se com eles, porque achava que fosse passageiro. Só que, com o passar dos meses, ela via-se cada vez mais desesperada e desejava que estivessem absolutamente certos ao dizerem que era passageiro.
Justamente naquela altura, em que descobrira como cuidar de si mesma e como ficar independente…  nesse  preciso momento  a sua liberdade tinha sido derrubada. No fundo, sentia a sua vida a extinguir-se, no exato momento em


Que se acendera a chama, não tivera o privilégio de saborear o verdadeiro gosto da liberdade. Todos os sonhos se desmoronavam, como a água do rio, tão pura, mas que se evaporava com a corrente.
Mesmo assim, ela recusava-se a baixar os braços e a entregar-se as armas sem batalhar. Por esse motivo não lhe era permitido desanimar nem assim, nem agora. Não tinha autorização de ficar parada, e muito menos de ficar à espera, sem saber do quê! O seu principal objetivo podia não ser concluído, mas recusava-se a baixar os braços. Especialmente porque ainda estava viva, e esse era o primeiro e o maior motivo.
Francisca  continuava  na  espectativa,  de receber boas notícias. Foi passado dois meses, que ela obteve a confirmação, quanto à sua ida para a
nova residência. Quando lhe disseram para entrar assim que desejasse, a notícia caiu-lhe muito bem. Francisca ficou contente por poder aliviar a família, mas, ao mesmo tempo, foi invadida por uma tristeza estranha, pois era como se entrasse para uma prio de portas abertas. De qualquer forma, fez logo a confirmação e dirigiu-se para lá no dia seguinte

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