quinta-feira, 26 de julho de 2018

parte seguinte do meu livro: OS SETE E A CABANA.


   DEIXO AQUI MAIS UMA PARTE DO LIVRO, QUE SERÁ LANÇADO AMANHÃ, APAREÇAM, PORQUE VAI HAVER SURPRESAS...
 - E comiam os legumes assim, crus? - perguntou o André.
   - Sim, claro que isso dependia do que se tratasse. Mas pensem comigo, pelo menos eram produtos biológicos, ou seja, eram naturais e puros, nascidos da terra preparada para isso mesmo!
  - Eu, quando vou à horta, como cenouras arrancadas na hora, e é bem bom! - exclamou a Ana.
  - E eu adoro todos aqueles tomates pequeninos, são ótimos e gosto bué! Que maravilha! - disse outra menina.
  - Chamam-se a esses tomates cherry ou chucha, o nome diz tudo! - disse a professora Laura, sorrindo, mas logo depois continuou…
  - Maria, como se chamava a filha dos donos da horta, era filha única e de posses, que sempre desejou ter mais irmãos. Então considerava-os a eles como família, uma vez que os pais alegavam não querer mais filhos.
  - Que sorte! Isso queria eu! Infelizmente, tenho seis irmãos, todos mais velhos e só me chateiam! - disse o Adolfo.
  - Eu só tenho uma irmã e chega-me bem! Como me chateia, preferia por vezes não ter nenhuma! - interveio a Ana.
  - Mas isso é sempre assim! Quem é que daqui não tem mais irmãos? - perguntou a professora, ao mesmo tempo que dirigiu o olhar para uma menina – a Elisa - que falava muito pouco, mas que respondeu.
  - Eu não tenho nenhum irmão!
  - Mas gostarias de ter? E porquê?
  - Sim, adorava ter, mesmo que me chateassem, ao menos tinha com quem falar, quando estivesse sozinha.
  - Estão a ver? É sempre assim, quem não tem, gostaria de ter, e quem tem irmãos, gostaria de ser filho único! É por isso que eu digo: devemos valorizar o que temos!
  - Sim, é verdade, professora! - responderam eles, enquanto encolhiam os ombros. A professora continuou:
   - A cabana ficava num lugar muito bonito, onde no verão podiam tomar banhos diferentes, seja de água ou de sol! Era a praia deles, porque não conheciam mais nenhuma! Um dia, combinaram entre eles uma espécie de jogo! Onde cada um deveria arranjar uma coisa útil, como presente para a casa. A ideia era que a cabana ficasse mais composta e alegre, pois seria o seu ponto de encontro.
 Laura olhou de novo para a sala e voltou a encontrar nos olhares dos alunos um brilho de encantamento.
  - Vocês sabiam que aquela cabana estava assombrada? Pelo menos era o que se ouvia dizer. Havia até um ditado, um pouco escondido, que dizia que aquela cabana era habitada por um fantasma! Mas eles queriam ser mais corajosos que os restantes e, simplesmente, ignoravam tal facto, ou então riam-se e diziam que não acreditavam em fofocas, nem eram medricas!
  - Eu também não acredito em nada disso, acho que é só para as pessoas ficarem com mais medo! - disse uma voz vinda do fundo da sala…
  - Eu já não acredito em fantasmas! - disse o André…
  - Eu nunca vi nenhum, mas tenho medo, sim, e acredito que eles existam nas pessoas más! - respondeu a Ana.
  - Querem que continue ou não? Sabem que o tempo passa rápido e se eu quero contar não é para ficarem com medo, antes pelo contrário! – disse a professora, olhando-os calmamente, e depois sorriu.
  - Sim, desculpe - respondem todos em uníssono.
  - A cabana, a cada dia que passava, ia ficando mais arrumada e cada vez mais se parecia com a casa habitável que fora em tempos. Todos eles levavam coisas descabidas, coisas que, em vez de deitarem fora, levavam para ali! Poderia vir a ser preciso para qualquer outra coisa que fizesse falta! Era uma espécie de reciclagem!
  - E o que é reciclagem, professora? – interrompeu o Jaime, um aluno, que estava muito atento… questão a que os outros acenaram com a cabeça, mostrando ter a mesma dúvida que o colega.
  - Ora, boa pergunta! Alguém sabe? - ela olhava em volta, mas ninguém dizia nada, pelo que prosseguiu - Ora muito bem, a reciclagem é isto mesmo… o que já faziam na altura, mas sem saberem e sem sequer se falar deste conceito. Reciclar é reutilizar o que já não é necessário na altura, e, assim, aproveitar tudo o que é velho para reconstruir algo novo. Quase tudo era reciclado! – disse Laura, olhando em volta e sorrindo.
  - Também costumavam contar a história de cada peça ou artigo que arrecadavam para a cabana.
  - Olha que fixe, que ótima ideia! – sussurrou uma voz alegre e baixinho.
  - Sim, muito engraçado! - respondeu outra ao lado, também baixinho. Mas a professora fingiu não ouvir e continuou.
  - Sim, algo que tinha o seu encanto. - rematou ela.
 Pouco depois olhou, pela janela, o fim da tarde chegara, mas ela continuara com a sua história e iniciara o relato de um episódio tantas vezes contado pela sua avó.
   - Numa tarde de Outono, em que o sol ainda aquecia, mais ao menos como esta, Francisco trouxe uma pequena manta, feita de retalhos, e prontificou-se a contar uma pequena parte da sua história. Francisco era o melhor amigo da minha avó e era a mesma história que ele tinha ouvido vezes sem fim, contada pelo seu avô Alfredo. Francisco estava em pé, junto ao rio e em frente à cabana, com a manta de retalhos na mão, quando começou. Olhou com carinho para a minha avó Beatriz, que também estava em pé, junto ao rio. Ao lado dela estavam os gémeos Miguel e Manuel José, sentados em cima de uns pedregulhos, e as meninas Maria Amélia, Helena e Matilde, encostadas à cabana.

                              A primeira história de Francisco
                                     O BURRO INTELIGENTE

   - Quero deixar bem claro que a história que vou contar, já o meu avô a contava. Por isso, não sei até que ponto é mesmo verdade, mas acredito bem que sim, pois foi passada com o pai dele. De qualquer forma, verdadeira ou não, o que importa é o seu conteúdo, que é ainda bem atual. – começou o Francisco, grande amigo da minha avó.
   - Dizia que o seu pai, Francisco, de quem eu herdei o nome, com os seus oitenta anos de idade e viúvo, tinha um fiel amigo e companheiro, um burro já velhote.
     A professora Laura continuou, vestindo a voz de Francisco:
  - Tinha-lhe posto o nome de Fiel! - Francisco olhou para os seus amigos e viu a curiosidade crescendo nos seus olhos, assim, como agora eu vejo nos vossos! – disse a professora, observando os rostos dos alunos, ávidos de curiosidade.
   - O burro Fiel, que sempre vivera com ele, acompanhava-o sempre em todos os serviços da casa, do campo e não só. Como moravam distantes da aldeia, sem nenhum vizinho próximo, faziam por regressar a casa sempre antes do anoitecer, o que um dia não aconteceu. Era época de sementeiras e o velho burro tinha que lavrar fazendo os regos para ele semear. No fim da tarde desse dia, regressaram a casa, depois de um longo dia de trabalho.
    Fiel, já muito cansado e quase sem ver, pois o dia estava a chegar ao fim e já via mal por causa da idade, tropeçou e caiu acidentalmente num grande buraco, cheio de lama, na berma da estrada, perto de casa.
  - Oh! Coitado dele! - exclamou André.
  - Pois, tão cansado que estava… tinha de acontecer! – disse alguém do outro ao lado.
  - Mas continue...! - diziam eles!
  - Como a noite chegava depressa demais e a chuva também, o meu bisavô, Francisco, ficou cheio de medo sem saber o que fazer. Depois de pensar em como poderia agir para o salvar, chamava-o e nada. Puxava-o mas ele não reagia. Pensou ir em busca de socorro, mas ficaria na completa escuridão daqui a vários minutos e todo molhado, o que só pioraria a situação em que estava. Ele próprio já era velho e precisava de se cuidar se quisesse ajudar o amigo. Depois de respirar fundo várias vezes, andou um pouco e sentou-se debaixo de uma árvore, perto de casa e desse local. Ali, pelo menos, estava abrigado da chuva, podia descansar um pouco e enrolar-se na sua manta favorita, que era esta! – disse o Francisco, ao levantar o braço, mas logo depois continuou.


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