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Precisava muito saber o que a amedrontava, precisava de saber a verdade.
Colocava perguntas a si própria, às quais
respondia em pensamento.
Ao mesmo tempo, olhava
em seu redor, na esperança de descobrir mais alguma pista… o peluche, kiko, se estava
ali, tinha de haver uma razão e ela
queria descobri-la.
Quem era? Isso sabia...
Onde
estava? Também, pois perante o que ouviu e do que vagamente se lembra, só podia ter acabado numa tragédia. Que fazia ela naquele lugar e há quanto tempo? Não imaginava... Mas estava prestes a descobrir, e por essa razão, o seu nervosismo
aumentava.
O seu olhar prendeu-se no ursinho azul… o que faria ele naquele lugar? O seu pensamento perguntava, mas ela continuava sem saber a
resposta, da sua primeira pista.
Francisca sentiu
um arrepio ao reavivar a última imagem guardada no seu cérebro, aquela que se recusava a acordar. A maneira simpática e amorosa de como o menino, conhecido, a abordou dizendo-lhe:
- Mãos ao ar! Rápido ou disparo!
Depois, ouviu a
gargalhada cheia de felicidade, lançada ao ar por aquela criança de
nome Luizinho.
Ela
sorriu, ao mesmo tempo que deu um pequeno
passo para se
voltar para o menino,
quando ouviu e sentiu um disparo que
tudo parou. A luz da sua memória apagou-se naquele instante.
Sentiu uma dor tão profunda ao ressuscitar os
momentos
que a lançaram para o vazio, que estremeceu de medo e de dor, só de pensar.
Francisca esticou-se na tentativa de conseguir alcançar o peluche azul, que estava sentado, aos pés
da sua cama. Quando satisfez
a vontade de o
agarrar olhou-o bem, nos olhos, e com o seu olhar perguntou-lhe:
- O que significa a tua presença aqui?...
Sim, ela lembrava-se perfeitamente bem
quando e a quem tinha oferecido aquela lembrança…
só não percebia o que fazia ali e agora. Abraçou-o tão fortemente, como se fosse a própria pessoa que ali estivesse e, ao mesmo tempo, quisesse aliviar o pavor que
habitava nela.
Já era manhã, talvez perto das nove… calculava
ela, visto estar na hora do pequeno-almoço. Nessa altura, foi ajudada
a escolher uma posição
diferente, talvez mais cómoda,
para assim comer qualquer coisa, aconchegando
um pouco mais o
estômago.
Foi obrigada a comer umas bolachas e beber um pouco de leite.
O Dr. Rui Rodrigues, como estava escrito na etiqueta
exposta no peito da sua bata, entrou pelo
quarto adentro, alegre e charmoso, como sempre,
na sua vestimenta branca.
- Olá bom dia, como se sente? Perguntou
ele com o seu sorriso charmoso, a
sua
voz meio rouca e com o jeito atraente.
Francisca retribuiu-lhe o sorriso meigo, ao cumprimentá-lo e, apreciou a sua delicadeza ao
puxar a cadeira de madeira,
solitária, que ali
se encontrava. Francisca pode contemplar, melhor, a doçura de todos os seus gestos, quando se sentou ao seu lado. Até sentiu a ternura agradável e suave, da loção que usava.
Sentia-se agora muito melhor, física e emocionalmente,
apetecia-lhe dizer
algo
mais,
que bom-dia, como esperava que fosse. Continuava com as pernas insensíveis, algo
esquisito,
mas
passageiro,
pensava ela. Tinha a cabeça cheia de
perguntas, mas bastante receio de saber qual
seria a verdade… aquela verdade
que ainda não sabia e se tornava cada vez mais duvidosa.
Francisca
desejava muito ouvir a resposta ambicionada
e pretendida
e, ao mesmo tempo, poder continuar a desfrutar do tempo futuro, daquele que ainda não
viveu. Implorava para que isso fosse totalmente verdade.
Foi algo que levou o Dr. Rui a ficar com a
sua
paciente, por um tempo indefinido.
Para, também, a fazer compreender o quanto a verdade pode ser hesitante e imperfeita. Nada é definido nem decisivo, tudo é passageiro e, principalmente, tudo pode acontecer a qualquer um e em qualquer circunstância.
Fê-la compreender que ninguém é dono do destino, nem tem o poder de muda-lo. Esse facto deixou-a muito perturbada, mas bem realista, esperançosa e duvidosa. Porque agora só lhe era permitido,
saber
esperar e ser positiva o máximo possível…
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