segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

O PERFEITO DO IMPERFEITO 13ª parte

QUERO DIZER A TODOS AQUELES QUE SEGUEM O MEU BLOG, QUE ESTÃO SEMPRE A TEMPO DE LEREM O MEU LIVRO, POIS EU VOU PUBLICANDO POR PARTES... ASSIM  AQUI EXPONHO MAIS UMA PARTE DO MEU LIVRO.

 
   Era noite de consoada, a noite mais bela do ano, a mais respeitada, a mais santa e mais ansiada por todos, principalmente por Francisca. Foi nessa noite em que nasceu o Menino Jesus, o Filho louvado do Senhor Deus “Nosso Pai”. Existia sempre o privilégio de haver uma prendinha à nossa espera… por mais “insignificante” que fosse…
    Estava uma noite branca e friíssima, cerrada de nevoeiro humedecido pelo orvalho, e tudo isto devido à geada cada vez mais intensa, prestes a anunciar o próximo nevão. Francisca quase a completar os dez anos, na companhia de seus pais e irmãs, (pois José Henriques “o irmão mais velho” tinha-se casado à três meses, e assim mudou de aldeia) acabavam de assistir como era costume, à tradicional, missa do galo.

   A pequena capela ficava a poucos metros de distância, onde permanecia o mistério, embora sendo uma povoação pequena, respeitava bastante as suas tradições. Toda a gente se encontrava ali, e todas as pessoas de Serco beijaram os pés do menino.
   Sabia que era mais uma noite, como muitas outras, apenas com uma pequena diferença, reinava no ar um toque de magia, e a brisa da noite fria tornava-se quente ao mesmo tempo que se misturava com a agitação dessa gente saindo da pequena capela.
   Esta noite estava recheada com o perfume do amor, com o sabor do encantamento e com o calor da felicidade, pois era a noite em que Deus não se esquecia de ninguém, nem de nada. Assim o imaginava ela…
   Apenas entraram em casa, dirigiram-se instantaneamente para a lareira, que ainda mastigava os restos dos troncos transformando-os num bonito e saboroso borralho, onde todos se deliciavam com o calor que emanava, e também onde petiscavam…
   A mesa estava repleta de coisas boas, coisas não vistas habitualmente nas mesas dos mais modestos. Onde eram expostas depois do maravilhoso jantar (o melhor bacalhau cozido com os melhores repolhos guardados das geadas especialmente para esta noite e somente para esta noite) a “Seia”, onde também o Menino Jesus era o convidado especialíssimo…

   Havia petiscos que só era costume encontrar nas casas dos mais ricos, por isso mesmo era a noite mais “rica” do ano, em todos os sentidos.
   Havia as rabanadas feitas com pão duro, embebidas em jeropiga, depois banhadas nos ovos fresquíssimos, acabados de trazer da capoeira, e no fim salpicadas com açúcar e canela.
    Havia também o polvo frito, que depois de cozido e antes de fritar, era mergulhado no ovo mexido, ficava delicioso frio ou quente, no próprio dia ou no seguinte, era sempre excelentemente bom.
   Os tradicionais pastéis de bacalhau eram indispensáveis nesse maravilhoso banquete. Igualmente o arroz doce ou a aletria partida à fatia, que também não podia faltar, nessa noite tão nobre e recheada de magia.
   Nada era dispensável “onde quase tudo era preciso” principalmente a alegria e a gratificação pelas vidas simples mas humildes que conquistavam o valor na contemplação das coisas mais belas e simples da vida.
   Os cachos de uvas pendurados ao ar puro, estavam divinamente resguardados das chuvas e ventos húmidos, simplesmente para evitar o seu apodrecimento, e assim conservarem o sabor autêntico até à época Natalícia.
    Os figos secos, os que Francisca ajudou a secar sob o sol de Outono e que sua mãe escaldava, tinham já conquistado a sua capa branca de pó de açúcar, e tinham um gosto admirável.
   Depois de toda a família deitada, a curiosidade do desconhecido juntamente com a ansiedade obrigaram Francisca a levantar.
    Então descalça, unicamente de meias, para evitar fazer qualquer tipo de barulho, pé ante pé deixou-se guiar pelo apetite da bisbilhotice. E dirigiu-se para a sala onde permanecia o grande mistério…
    A noite continuava muito fria, e ela escondida atrás da porta esperava ansiosa pelo resultado, com o desejo de ver surgir algo interessante…
   Permanecia ali, quieta, no seu esconderijo secreto e gelado, com uma única esperança, a do frio abrandar. Pois era idêntico a uma lâmina bem afiada a cortar-lhe a carne, para rapidamente se alojar e gelar o corpo até à alma. Entrava-lhe principalmente pelos pés, e alastrava depois desagradavelmente ao resto do corpo. Que sensação tão incomodativa.
   Mas o enorme desejo alimentava o principal interesse, e a curiosidade permanente ocupava o primeiro lugar. E assim era ajudada a vencer o frio dessa branca noite.

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