quinta-feira, 5 de abril de 2012

O PERFEITO DO IMPERFEITO parte 33



   O Natal chegou mais uma vez, era um dia considerado pela maioria, uma festa familiar, para outros era simplesmente, uma data triste. Assim considerava Filipa que já não tinha ninguém para festejar.
    Francisca e Helena tinham os familiares reunidos, pelo menos um seus dos irmãos veio comemorar esta data com elas. Filipa também participou com optimismo, na companhia de todos eles. Mas a certa altura retirou-se, preferiu isolar-se com os seus pensamentos que a inundavam.

   Recordou-se que foi numa noite de festa como esta, num aniversário de Sofia, a única verdadeira amiga, numa noite fria de Janeiro, há exactamente nove anos, que viveu um dos momentos mais felizes e mais importantes da sua juventude. Tinha ela vinte e quatro anos.
   Foi o momento em que conheceu a pessoa que viria ocupar um dos lugares mais importantes do seu coração. Uma das pessoas que lhe traria as maiores tristezas mas também a maior felicidade.
   Porque era exactamente assim que Filipa julgava a vida… pagando bastante caro pelos poucos e breves momentos de felicidade… alugada… porque nada é nosso, nem é para sempre… somos apenas movidos e preenchidos por momentos carregados de emoções e sensações.
   Combinaram então, juntar um grupo de amigos para irem comemorar todos juntos a uma discoteca, no centro da grande cidade. Marcaram encontro numa esplanada, para depois seguirem.
   Não pôde deixar de reparar num dos rapazes mais vistosos e atraentes que ali se encontrava, era moreno e usava um sobretudo preto pelo meio das pernas, com a gola levantada talvez para se proteger do frio da noite.
   - Queres ajuda? Perguntou uma voz desconhecida bem perto dela.
   - Porque não? Obrigada. Respondeu-lhe ela, com vaidade e orgulho por ter despertado o interesse de alguém.
   Amparada ao braço dele, sentiu-se convencida e segura, assim seguiram caminho.
   Quando chegaram à discoteca, Paulo como se chamava, optou por se sentar junto a ela, conversaram de tudo um pouco…
   Ao chegar uma música calma, Paulo pediu-lhe que o acompanhasse à pista de dança, onde Filipa recusou dizendo-lhe que preferia ficar sossegada derivado ao seu desequilíbrio. Mas Paulo não se convenceu com esta desculpa e insistiu em levá-la a dançar.
   Como era uma música calmíssima ela encostou-se a Paulo e dançou apoiada nele.
   Nada fazia mais sentido, além da sensação de segurança que ele lhe transmitia. Como Filipa se sentia bem… nos braços de Paulo...
   De repente a música mudou de ritmo, mas eles continuaram agarrados, quando calmamente sentiu a mão dele no queixo, e levantando-lhe a cabeça beijou-a suavemente.
   Assim aconteceu com Filipa, foi o início de um lindo romance, até lhe custava a acreditar, sentia-se bem demais, tinha ela própria medo dos seus sentimentos.
   No dia seguinte, ele cumpriu com o que prometido, saíram iniciando um romance, talvez lindo demais para se enquadrar numa estranha realidade.
   Passados dois dias Paulo deixou de aparecer, nem deu mais nenhum sinal de vida, contradizendo tudo o que lhe tinha dado a entender. Filipa resignou-se facilmente. A verdade nua e crua estava ali, talvez demasiado complicada… pois as pessoas procuram tudo o que é mais fácil e o que está ao seu alcance… ignorando o restante. Porque se hão-de confrontar as pessoas com algo mais complicado? Se as respostas que pretendem estão ali mesmo ao lado? Pois se conseguem tudo facilmente porque é que se hão-de preocupar?

   Filipa desejava ter a força necessária para arrancar, despejar e desfazer-se de todas as mágoas que se amontoavam dentro do seu peito, referentes a essa pessoa que tocou tão profundamente no seu íntimo.
   Queria afogar com as suas lágrimas, todas as marcas deixadas por essa paixão tão grande e que foi tão fugaz. Pois cada lembrança que a sua memória ia buscar, lá estava ele. Paulo preenchia todas as recordações que surgissem nela.
    Então chorava para que ele regressasse e tudo não passasse de um pesadelo. Mas simplesmente ele não vinha, a realidade não lhe largava a porta, obrigando-a a ver o que seu desejo e vontade recusavam.
    - Paulo, onde estás tu? Volta para mim, diz-me o porquê deste silêncio? Seja o que for, prometo que vou tentar compreender-te? Deixa-me acreditar que ainda me amas como sou, que não me abandonaste, não me obrigues a pensar o que não quero?
  
   Mas nada, nem ninguém lhe dava um único sinal com sentido. Uma prova da sua certeza e especialmente de uma pessoa tão querida que ficou presa na sua memória e no seu coração. Aquele ser que lhe arrancou o pedaço mais profundo das suas emoções mais sensíveis.

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