quinta-feira, 30 de setembro de 2010

O PERFEITO DO IMPERFEITO 6ª parte


                     CAPITULO TRES





   Passados alguns dias, Helena desejava a todo o custo mudar a triste sorte que lhe bateu novamente à porta, mas nada mudou… Só e unicamente ela tinha que se resignar com o sucedido… Ela tentava conformar-se com o azar que invadia outra vez a sua vida, mas não encontrou alternativa senão a de acumular forças e ceder passagem a mais uma infelicidade… a solução morava exclusivamente no seu íntimo.
   Já que era impossível lutar contra esse azar, pelo menos lutava com ele tentando aliviar o seu peso, ao sentir-se incapaz de armazenar forças para superar mais uma vez a injustiça que despedaçava o seu âmago. Tinha que conseguir, não era permitido “nem a ela própria” desistir na etapa mais difícil, onde parecia ser impossível viver, mas também onde a nossa força é verdadeiramente testada, mostrando-nos até, a dimensão da nossa crença.
   A nossa aprendizagem era justamente essa, só porque a vida é constituída de bons e maus momentos. E Helena não desejava viver infinitamente com o inimigo, ou algo indesejável por ela, porque o principal problema reside no aceitar, sem revoltas. Achava a vida deveras cruel, e tinha a certeza: uma desgraça nunca anda sozinha.
   De nada adiantava a revolta, nada lucrava com a dor ou com a fraqueza, ela, só e unicamente seria a prejudicada, o seu corpo, a sua mente, só ela e mais ninguém. Por tudo isso era injusto deixar-se desfalecer.

   Passados alguns dias, recebeu a visita tão desejada das irmãs Armanda, Alexandra, maridos e quatro filhos, entre os cinco e dois anos, os quais ainda viviam a uns bons quilómetros de distância.
   Estas sempre insistiram com Helena para que fosse viver permanentemente com elas, mas Helena, generosamente, recusou a oferta, imensamente agradecida ao mesmo tempo. Apenas porque não desejava acomodar-se ao mais fácil, dependendo assim dos outros, nem ser um peso para ninguém, evitava perturbar…
   Viu o seu quarto ser invadido, com prazer, pelos sobrinhos que gostou de rever, os quais já não via há vários meses, ficou com varias caixas de chocolates, as quais fez questão de repartir, um ramo de lindas rosas e outro de flores campestres, e por fim, um frasco de perfume com um óptimo e agradável aroma.
   Quando Helena ficou sozinha, ao fim do dia, pensou melhor no rumo que teria que dar à sua vida. Não queria ser um fardo para ninguém, disso tinha a certeza, evitava um futuro indesejado, tanto para ela como para os outros, talvez não o fosse presentemente, mas depois de alguns anos, poderia estar certa disso. Então ela recusava-se a empatar a felicidade de alguém, enquanto ainda tivesse oportunidade de escolha.
    Foi justamente agora, na altura em que ela “aprendia” a cuidar dela própria e ser completamente independente. No fundo sentia-se velha muito antes de o ser, sua vida apagava-se exactamente no momento em que acendia a verdadeira chama. Tudo se perdia mesmo antes de começar. Tudo com que sonhou um dia, morria, desmoronava-se agora, completa e inesperadamente. Sem ter o privilegio de saborear o maravilhoso e “verdadeiro” gosto do destino e da liberdade.
   Mas mesmo assim ela recusava-se a baixar os braços… a entregar as armas de sua vida sem batalhar, por esse motivo não lhe era autorizado desanimar agora. Não podia permitir-se ficar parada, sem nada fazer… de ficar à espera, sem ela própria saber do quê!... O seu principal objectivo podia não ser concluído, mas não baixaria os braços, não agora. Principalmente porque ela ainda estava viva, e era o principal sinal. Uma lágrima rolou dos seus olhos ao deparar-se com “o ursinho azul” e disse-lhe em pensamento: “- tu me acompanharás sempre!”.
   Helena desejava muitíssimo conquistar a felicidade, ao menos tentar ser feliz, a coisa mais ambicionada da vida, talvez impossível como aspirava, mas o seu desejo ainda era possível de concretizar. Talvez metade e pelo menos tentaria, especialmente porque acreditava inteiramente em si e nas suas capacidades.

   Ficou a saber também, que o pai de Luizinho tinha ido visitá-la enquanto Helena permanecia imóvel. Completamente despedaçado e abatido, foi ele que lhe levou o peluche e as lindas flores. Então achando-se incapaz de superar mais esse horrível desgosto, sentindo-se imensamente culpado e frustrado pelo acontecido esvaziou a arma na própria cabeça…
   Helena quando teve conhecimento do sucedido, não conseguiu perceber se ficou mais aliviada, mais culpada ou, simplesmente, mais horrorizada com o inesperado? Ela desejava unicamente que nada disto tivesse acontecido… ansiava somente a felicidade.
    Mas infelizmente aconteceu justamente o inverso sem haver remédio para o inevitável… Mas não era ela que dizia para aceitar ao compreender sempre a diferença? Partilhando eternamente a boa vontade com optimismo? A tal força invisível herdada pelo seu pai? O primeiro passo é sempre a parte do caminho mais difícil?... Seguir constantemente, de cabeça levantada… Não era esse o seu objectivo? Nada volta para trás, tudo o que passou simplesmente desapareceu...

   Foi aí que se lembrou da Joaninha, sua grande e única amiga, inclusive do primeiro corte de cabelo, aquele a que foi obrigada. Pois agora aconteceu-lhe exactamente a mesma coisa, por outros motivos. O maior de todos, o grande desafio da vida. Quando caiu completamente desamparada, na calçada, fez também uns golpes, e claro que obrigatoriamente ficou pela segunda vez quase careca.

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