quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

O PERFEITO DO IMPERFEITO (16ª PARTE)

PUBLICO AQUI, COMO JÁ DISSE, MAIS UMA PARTE DO LIVRO QUE ESCREVI MAS QUE IMFELIZMENTE NÃO VI PUBLICADO.


   As férias de Verão passaram, e o regresso às aulas voltou. Ela ficou radiante com essa oportunidade, pois as ocasiões de ver a pessoa amada eram maiores e mais fáceis.
   Cada vez que ele via ou pressentia Francisca sozinha, aproximava-se dela para a beijar, acariciar e falar-lhe de amor. Alguns amigos já desconfiavam, outros tinham a certeza do “namorico” existente entre eles. Até que uma amiga lhe perguntou, o porquê de ele não assumir tal compromisso? Francisca não sabia responder e sentiu-se uma completa ignorante e idiota só por não ter coragem de resistir aos seus encantos.
   Francisca completou os dezoito anos, sempre na expectativa de ter uma bela surpresa, mas foi uma vez mais surpreendida pelo engano. Sempre na esperança que Miguel assumisse o namoro perante os restantes familiares, fracassou na espera de mais um momento inapropriado mais um momento indeciso.
    Arranjava sempre uma desculpa inútil para a ingratidão demonstrada pela pessoa amada. Pois foi só mais uma decepção como todas as outras.
    Então ela interrogava-se por várias ocasiões, e bastante receosa de estar com o pensamento certo! Tentava desculpá-lo, repetia-se interiormente para esperar com paciência a altura adequada, talvez para o ano, quando completasse os dezanove!?...

   Francisca não aguentava mais a maneira fria e indelicada como ele a tratava, ou melhor, ignorava. Não dizia absolutamente nada. Então perguntava-se a ela própria, se seria normal ele agir dessa forma fria? Exactamente como se ela fosse uma desconhecida?! Mas isso acontecia somente quando estava acompanhado! Porquê? Será que ele sentia vergonha dela? Será que ele estava receoso de assumir tal facto? Só podia ser isso... mas ele também gostava dela… talvez não o suficiente!
   Ela pressentia esse amor, ou será que Francisca nutria o suficiente para os dois, e assim via o amor que ela criava reflectido nele? Será que era essa a exacta verdade? Não, ela recusava-se a acreditar nessa realidade, desejava muitíssimo estar errada.
   Seria simplesmente puro egoísmo da parte dele? Será que era isso que fazia sentido? Miguel sentia-se bastante confiante com relação aos sentimentos que despertava em Francisca. E justamente por essa razão deixou-se acomodar ao sentimento tão puro e agradável que despertava nela.
   Por tudo isto, Francisca decidiu pô-lo à prova. Ela percebeu o interesse pelo seu corpo, sentindo-se bastante triste, humilhada e fracassada, simplesmente porque não encontrava coragem para rejeitá-lo, para recusar o seu beijo apaixonado ou sua carícia. Amava a pessoa errada e não encontrava coragem para lhe resistir.

    Foi quando ela decidiu ir passar uns tempos, com a sua irmã e marido, na grande cidade. Resolveu finalmente pôr um ponto final nesta relação enganosa. Francisca ia conhecer novas pessoas, fazer novas amizades, enfim, viver um pouco do que não viveu, ou melhor do que não teve a oportunidade de viver.
    Pois quando despertou do sonho, foi directamente para o pesadelo, sendo esse caminho dificílimo. Quando a vivência dela começou a fazer sentido, de repente deixou de fazer e tornou-se num fracasso.
   Era difícil aguentar as imensas saudades de Miguel, e passava horas a fio a lembrar-se dele. Recorda-se bem do dia em que se entregou ao prazer, de corpo e alma. Um fim de tarde calmo e suavemente morno, em finais de Outono, estando já as videiras quase nuas. Deixou-se levar pelas carícias repletas de doçura, que ele lhe transmitia e a transportavam para um sonho real. Seus olhos negros que brilhavam de desejo chamavam-na em silêncio para um universo encantador.
   Foi nestes dias que passou afastado de Francisca, que sentiu saudade da pessoa que nunca o rejeitara, da pessoa que o preferira a tudo o resto, e da pessoa que o amara e desculpara incondicionalmente. Talvez ele precisasse de alguém que o amasse, e só encontrasse essa certeza em Francisca.
   Pouco a pouco ela deu-se conta que o desejo sentido estava a resfriar muito suavemente. Tudo aconteceu devido ao facto de não sabia cultivar, avaliar, cuidar e principalmente sustentar o amor que Francisca lhe oferecia.
    Miguel entendeu isso, percebeu exactamente o que ela lhe tentou transmitir, arrependeu-se amargamente de ter agido tão friamente para quem não merecia. Percebeu inclusive que o amor existe, não se vê, e por vezes só damos conta dele quando parte. Foi o que lhe aconteceu, ele sentiu falta da pessoa que nunca o rejeitou, do corpo que estava sempre disposto a acolhê-lo. Teve imensas saudades da pessoa que sempre lhe estendia os braços em qualquer circunstância. 

    Miguel declarou-lhe o seu amor, pela primeira vez disse-lhe o quanto a amava e desejava, como queria que Francisca o aceitasse de volta. E ela aceitou, mas só por mais uns momentos de intenso prazer, exactamente como ele agiu com ela durante os mais belos dias da sua vida.
    Francisca não soube resistir a Miguel, e mais uma vez entregou-se de corpo e coração à pessoa que não a merecia. Embora ela estivesse consciente que a sua intimidade estava a resfriar, também sabia que nada tinha a perder, antes o contrário, porque se tratava da pessoa que despertou nela a paixão e o desejo.
   Francisca sabia que já não era a mesma ingénua, as dificuldades abriam-lhe todas as portas. Desejou aproveitar as derradeiras oportunidades de grande prazer, tanto no corpo como na alma, que ainda lhe restavam, que ainda podia desfrutar e que ainda era “normal” viver ou sentir.

 

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