Uma flor tocada por uma gota de orvalho
Como que a derramar uma lágrima pela saudade da noite
Que pesa na sua pétala leve de delicada
Como uma réstia dessa clandestina indesejada
A noite que a deixou só e desamparada
Habituada a que estava a ser admirada
Pergunta-se triste e sem o norte
Que fiz para merecer tal sorte
Procura a vida em seu redor
A vida que despertava com a sua cor
A vida feliz por a ver existir
Com a sua beleza natural a sorrir
Procura toda a noite um olhar de atenção
Um olhar que desperte a vida no seu coração
Alguém que se lembre dela e tenha dó
A noite, sua maior inimiga
É agora sua nova companheira
Do desconforto que lhe trouxe
É agora sua única conselheira
Escuta-a a chorar a sua tristeza
A teimar que é sua, a beleza
A dizer-lhe o grande feito
De ter sido feita a preceito
Lamenta-se num rio de lágrimas
Do seu infindável desgosto
Do mundo se esquecer dela
No momento do sol-posto
E a noite lembra-lhe convicta
Terás de esperar pela minha morte
Para que te faças de esquecida
Pela luz do sol, pela sua corte
Esperas o raiar do dia
Para teres a ousadia
De esqueceres para sempre
Quem te ouviu confidente
Estás decidida a receber o dia
E ver restabelecida a tua alegria
Por guarnecida de tua cor garrida
Resplandecendo com a luz da tua vida
E o sol ilumina agora a flor
Uma última lágrima de despedida
De felicidade pelo surgimento do sol
Que lhe trará novamente o seu valor
Feliz de uma assentada
Agora da noite livrada
Tem a desejada certeza
De ser admirada, a sua beleza
Brilha no horizonte o seu último lamento
Dessa lágrima que desaparece com o vento
E diz o seu adeus há noite
Que lhe trouxe tanto sofrimento
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