sábado, 23 de outubro de 2010

O PERFEITO DO IMPERFEITO (9ª PARTE)

PARA QUEM SEGUE A HISTÓRIA DO MEU LIVRO, FICA AQUI MAISUMAS PÁGINAS...


                CAPITULO CINCO


    Foi no ano de 1993, dia quatro de Fevereiro, numa tarde fria embora ensolarada de Quinta-feira, que Helena acompanhada pelos familiares entrou pela primeira vez na enorme vivenda lindamente situada e bonita. Fora da civilização e ao pé duma montanha. Com um grande e lindo jardim bem cuidado, eram jarros e lírios branquinhos, as hortênsias, os malmequeres e as roseiras desejavam despejar os seus filhotes, onde alguns já permaneciam em botões querendo espreitar e apanhar banhos de sol. A relva também se mostrava bem aparada, algo que demonstrava existir um certo cuidado, apesar do conteúdo não ser muito agradável aos olhos de quem o contemplava, mas… obrigatoriamente aceitável.
   Helena veio conhecer a sua futura residência, a sua nova casa, onde infelizmente permaneceria até ao fim de seus dias. Ela sabia e estava consciente da sua escolha, pois foi opção dela e unicamente dela. Conheceu e ficou no mesmo instante.
   Era o lar indicado para Helena, e outros na mesma situação, pois era espaçoso, com os enormes corredores e grandes salas era talvez o único com a oportunidade de trabalhar. Helena não desejava continuar inactiva, queria muitíssimo usufruir do pouco que lhe restava, sendo útil, para todos. Ansiava compartilhar, os vários momentos plenos de bondade, onde por vezes ajudar é o melhor remédio, e outras ser ajudada.

   O primeiro impacto foi bastante doloroso, embora Helena estivesse consciente do pesadíssimo fardo já hospedado indesejavelmente em toda a sua intimidade. Sabia que aquela casa também seria dela, por um tempo indefinido.
   Sentiu-se bem acolhida pela maioria dos residentes, pois eles também ficaram radiantes por terem uma nova hóspede, nova a todos os níveis, era mais um dia vivido, um dia diferente dos outros.
   Recorda-se que logo que entrou, um rapaz baixote e gorducho veio ter com ela com um imenso à vontade, cumprimentou-os a todos com um forte abraço, como se os conhecesse há anos mostrando-se simpatiquíssimo e fazendo-os sentir bem vindos.
    -Olá, olá…tá boa? Dizia ele muito sorridente notava-se excelentemente bem a felicidade à flor da pele. Tudo isto só e unicamente por serem pessoas desconhecidas. Pessoas alheias, diferentes das que estava habituado a conviver e que já conhecia bem demais.
   Mais tarde Helena ficou a conhecer a realidade. O rapaz baixote e gorducho, era única e simplesmente uma criancinha no corpo de um homem, já com os seus cabelos brancos. Não era nem mais nem menos do que um ser com uma doença denominada mongolismo.

   Depois de arrumar as suas coisas, roupa no pequeno armário, que apesar de ser pequeno, era suficiente para quem possuía o essencial. Colocou o lindo ursinho azul em cima da cama, o qual ocupava o grande lugar do seu coração, e foi conhecer o resto da casa.
   Helena ocupava os tempos livres”que eram muitos” como bem entendesse, ora ajudava ou era ajudada, ora ensinava ou aprendia, não faltava o que fazer, para quem quisesse, e esse era o seu principal objectivo, estar constantemente ocupada aprendendo sempre. Havia sempre algo a aprender, a questão era querer, tudo isto com uma única finalidade, a de manter a mente e o corpo constantemente ocupados.
   Não queria ter tempo para nada, principalmente para pensar. O que muitas vezes era demasiado doloroso, mas também obrigatório, pois a reflexão do passado é o recheio do dia a dia. E é óptimo reflectir sobre o que se passou, ajuda-nos bastante a compreender o presente e a valorizar melhor o futuro. Mas também via-se obrigada a admitir que o passado não muda, feliz ou infelizmente nós é que somos “obrigados” a mudar, em muitas ocasiões, por maior que seja o desejo ou o desespero, tudo permanece exactamente igual.

   Mas, havia ocasiões em que Helena sentia necessidade de manter o isolamento, de vez em quando ficava um pouquinho em paz consigo mesma, para saborear a calma e refugiar-se do ar pesadíssimo que permanecia constantemente ao seu redor e onde o silêncio não existia.

   Por vezes o pensamento viajava, e ela deixava-o ir, sentia prazer quando se deixava levar por ele acompanhava-o de boa vontade no regresso ao passado, ou ao futuro imaginado. Pensava em tudo o que mudaria se pudesse e se fosse exactamente agora, mas o passado continuava lá, distante e perdidamente inalterável.
   Talvez não mudasse nada, se calhar passaria por tudo outra vez, pois nada adianta agora pensar no que poderia ter conquistado, no que poderia ter mudado, se tudo já passou e nada volta atrás. De nada se arrepende, reviveria tudo outra vez, passaria por tudo novamente!

   Aprendeu a valorizar as coisas boas da vida, outras menos boas. Viveu momentos felizes, outros nem por isso, chorou, riu, sentiu na pele um pouco de cada emoção, e saboreou vários gostos e sensações.

2 comentários:

Anónimo disse...

Olá Fredy!Aqui estou eu após algum tempo sem contactar contigo. Gostei do que vi e li, continua a dissertar, escrever o que te vai na alma. Vamos continuar "online" :) Bjinhos. Catarina Rebelo

ઇઉ ઇઉ disse...

Um texto triste mas real, acho que todos vamos sofrer desta nostalgia no final de nossa existência. Parabéns poeta por teu texto bem elaborado.